Faz hoje (3 de Novembro) 25 anos que faleceu Fany Fumo. Amanhã (domingo) na Antena Nacional da Rádio Moçambique, o programa “Fio da Memória” vai percorrer pelas histórias musicais da sua vida. Alguns dos temas que vamos passar fazem parte das gravações feitas na África do Sul em discos de 78 rotações.
É sabido que a marrabenta é um ritmo de música ou de dança que passou por várias fases, desde a sua criação até à actualidade. As suas origens devem remontar aos finais da década de 30, mas será a década de 50 que a leva ao sucesso, tornando-a um dos produtos mais representativos da música ligeira moçambicana. Dizem os conhecedores que a marrabenta tem um estilo próprio, uma batida característica que é sintetizada pelo tema “Elisa Gomara Saia”. Este será o ícone, a matriz e o protótipo do que é a verdadeira marrabenta. Pelo menos é assim que pensa Rui Guerra, investigador, mestrado em Gestão do Património Cultural Moçambicano, pela Slinders University de Adelaide.
Sobre a marrabenta coloca-se desde já uma questão: “quem, quando e onde”. Há muita controvérsia em redor desse assunto. Há quem diga que a marrabenta deriva directamente da mescla dos estilos magika e zukuta. Para outros, a marrabenta foi simplesmente a evolução desses ritmos, ou seja, teria começado por se chamar zukuta, depois magika e finalmente marrabenta. Também é difícil atribuir a alguém em particular a invenção deste ritmo. De uma maneira mais generalista, pode considerar-se que a marrabenta é produto da miscigenação cultural e da migração de grupos étnicos oriundos de diversas regiões do sul de Moçambique, e que a sua estilização contribuiu para que se tornasse popular.
Fany Fumo que muitos caracterizaram como sendo rebelde alimentou a polémica sobre o rei da marrabenta, sem que sobre isso haja algum concenso. Marrabenta um ritmo cuja transformação e penetração no meio urbano deve muito ao movimento migratório de jovens de origem rural e suburbana da Manhiça, Marracuene, Inhambane ou Gaza para a cidade de Lourenço Marques, onde trabalhavam à espera de contratos para as minas. Este grupo de emigrantes é de facto importante neste processo de introdução de novos ritmos, instrumentos e aparelhos – como a viola e os gramofones, os quais eram enviados para as suas terras de origem, juntamente com os discos, contribuindo decisivamente para a divulgação destes novos sons e instrumentos.
O resto é sabido: a ligação de Fany Fumo à música continuou até à altura da sua morte, no dia 3 de Novembro de 1987, vítima de doença.
Pode ouvir uma das marrabentas mais emblemáticas – Georgina (Jorogina)