UMA DATA NA HISTÓRIA – 11 de Janeiro de 1990 … Orlando Mendes
O escritor moçambicano, Orlando Marques de Almeida Mendes, que escreveu com os pseudónimos de Osvaldo Mossuril e Zeferino A. Nhancale, nasceu a 4 de Agosto de 1916, na ilha de Moçambique.
Licenciou-se em Ciências Biológicas pela Universidade de Coimbra, onde foi assistente e onde se revelou poeta e prosador. Pertenceu aos quadros dos Serviços de Agricultura, foi fitopatologista e Funcionário do Ministério da Saúde.
Profundamente influenciado pelo neo-realismo português, o poeta, romancista, dramaturgo, crítico literário, colaborou em diversos jornais moçambicanos e estrangeiros e produziu uma vasta obra literária, como Trajectória (1940), Portagem (1966), Um minuto de Silêncio (1970), A Fome das Larvas (1975), Papá Operário mais Seis Histórias (1983), Sobre Literatura Moçambicana (1982), entre outros.
Recebeu o prémio Fialho de Almeida, o dos Jogos Florais da Universidade de Coimbra (1946) e o primeiro Prémio de Poesia no concurso literário da Câmara Municipal de Lourenço Marques.
Faleceu em 1990, deixando por publicar Minda (colectânea de contos) e Roda Dentada, um romance que permanece inédito. Deixou várias obras repartidas entre poesia, ficção, teatro, literatura infantil e ensaios.
Ele editou “Portagem” em 1966, considerado o primeiro romance moçambicano.
Obras de poesia :
– “Trajectória”, 1940
– “Clima”, 1959
– “Depois do Sétimo Dia”, 1963
– “Portanto, eu vos escrevo”, 1964
– “Véspera Confiada”, 1968
– “Adeùs de Gutucúmbui”, 1974
– “A Fome das Larvas”, 1975
– “País Emerso”, 1976
– “Produçao com que aprendo”, 1978
– “Lume Florindo na Forja”, 1980
Peça de teatro :
– “Um minuto de silencio”, 1970
Romances :
– “Portagem”, 1966
– “Roda Dentada”, 1990
Faz hoje 27 anos que Orlando Mendes (pai da minha colega Orlanda Mendes) nos deixou fisicamente.
“MINHA ILHA”
Nos paralelipípedos das mais antigas infâncias
dei também meus passos balbuciantes e seguintes.
Todos os dias pés sem idade acorrentados
trituravam o salitre poeirado pelo vento ĺndico
e a cortiça nua das solas e dos dedos
fazia o périplo da ilha sobre corais
onde no palácio o governador-geral mandava despachos
que a corte recebia incrustada de pedrarias
nas entranhas digerindo riquezas carnais.
E o salitre vinha e ardiam os pés das gerações
e nos pátios dos prédios senhoris floridos
se construíam novos lares de oriunda linhagem.
Por ali estiveram Camões das amarguras itinerantes
e Gonzaga da Inconfidência no desterro em lado oposto.
Era a rota dos gemidos e das raivas putrefactas
e dos partos que haviam de povoar as américas
com braços marcados a ferro nas lavras e colheitas.
Ruíram paredes grossas chegaram outras naus
morreram marinheiros por ordem soberana de el-rei
e obediência de seus filhos sem coroa fixando preços.
Agachavam-se as sombras com a passagem dos rickshaws
na ponta da ilha farinha não levedava pão mas fezes
e o sono evadia-se dos ossos para o metrónomo da noite.
Em frente na costa que orla o interior
nascia o poeta e guerrilheiro Kalungano
que disparando balas cantaria para nós
o amor e as flores do dia de hoje litoral
em que a ilha se liga ao continente por uma ponte
e os barcos à vela macuas são donos do mar.
Um Comentário
Pierre Vilbro
Moçambicanos não eram só alguns, mas muitos. Na claridade e no escuro dos dias do tempo antigo, uns e outros iam lançando
à terra as sementes que poderiam germinar o Moçambique do futuro. Esse Moçambique não vingou. Restam os testemunhos público de todos esses moçambicanos e da sua actividade, como é o caso deste trabalho do João de Sousa que felicito.
Pierre