UMA DATA NA HISTÓRIA – 12 de Janeiro de 2006… Fernando Adrião
“COM O HÓQUEI EM PATINS NO SANGUE”
“Na verdade, eu nasci com a patinagem e o hóquei em patins no sangue. Influenciado naturalmente pela dedicação de meu pai à modalidade ainda muito antes do meu nascimento em 1939, encontrei no âmbito familiar, como brinquedo favorito os patins. Já aos dezoito meses tinha os meus, e equilibrava-me relativamente bem. Aos dois anos tive a honra de entrar pela primeira vez num recinto reservado à prática do hóquei em patins, envergando a camisola do Futebol Benfica (clube de meu pai), bem como dos então famosos Sidónio e Olivério Serpa. Efectuei a minha primeira entrevista sem falar, pois meu pai disse tudo por mim, porque eu pessoalmente encontrava-me “demasiado ocupado” com a bola e o stik, nessa noite. O “Stadium” publicou. Essa é a recordação mais querida da minha carreira desportiva que hoje se traduz num papel que guardo com muito carinho. Daí em diante o meu entusiasmo foi aumentando e já em Lourenço Marques, em 1943 fui dos mais jovens a pisar o recinto do SNECI, quando ainda não havia nesta cidade uma Associação que dirigisse os destinos do hóquei”.
NO DESPORTIVO (GDLM)
“Tendo o meu pai, transitado para o Desportivo de Lourenço Marques, onde fundou a secção de hóquei em patins, eu acompanhei-o. Em 1948, iniciou-se a fundação a primeira Escola de Infantis, no clube, e no ano seguinte tivemos a honra de participar no programa da inauguração do primeiro campo do Desportivo para a prática da modalidade, com a visita dos então Campeões Mundiais, Portugal. Tive o primeiro jogo nessa ocasião e a alegria foi enorme. Jogámos os “A” contra os “B”. No ano seguinte efectuou-se em Lourenço Marques, o primeiro e único Campeonato de Infantis, aonde representei o Desportivo. Saímos vencedores. Conquistei o meu primeiro troféu. Ofereceram-me uma miniatura em bronze do Campeão Mundial, Sidónio Serpa, por ocupar o seu posto na minha equipa. Foi o primeiro estímulo, na minha carreira.
Ano de 1952 – Infantis Desportivo LM (GDLM)
Campeão de LM
Em cima: Fernando Adrião (filho), Carlos Santos, Álvaro Santos (Varito) e Fernando Adrião (pai) (treinador).
Em baixo: Abílio Moreira e Victor Machado da Cruz.
No ano seguinte transitei para as segundas categorias com 13 anos. Fiz aí uma época e depois ocupei o lugar de Mário Lisboa na categoria principal. Aos quinze anos era titular da equipa do Desportivo”.
Época de 1954/55 – GDLM
Campeão de LM
Em cima: Eurico Menezes, Romão Duarte, Cerqueira Afonso, Fernando Adrião.
Em baixo: Eurico Monteiro, Fernando Santos, Bettencourt e Garradas Domingues.
MONTREUX 1958
“Na minha carreira desportiva, tenho diversas recordações inesquecíveis, cada qual na sua ocasião e completamente distintas. No entanto, tenho duas bastantes significativas para a minha carreira. A vitória em 1958, na “Taça das Nações”, em Montreux, representando Portugal, na Selecção de Moçambique, quando na final perdendo por dois a zero, fomos vencer o encontro por quatro a dois. A nossa alegria foi de tal forma, que todos ríamos e chorávamos simultaneamente.
Selecção de Moçambique, em representação de Portugal em Montreux 1958
Em cima: António Souto, Abílio Moreira, Francisco Velasco, Fernando Adrião, Amadeu Bouçós e Manuel Carrelo.
Em baixo: Romão Duarte, Passos Viana, Alberto Moreira e Vítor Rodrigues.
Também em 1960 no Mundial em Madrid, quando tudo e todos eram contra nós vencemos na final a Espanha por três bolas a uma, e aquele público que nos silvou inicialmente, tributou no final da contenda a maior ovação que presenciei no estrangeiro. Nessa ocasião a alegria também foi enorme, mas todos tínhamos um orgulho muito especial na cerimónia da entrega dos prémios”.
Na sua vida artística Fernando Adrião representou oficialmente 2 clubes; o Desportivo e o Malhangalene. Ele foi, no dizer do seu colega de equipe Francisco Velasco “um caso único no desporto nacional e a sua carreira, uma das mais brilhantes até hoje vividas por um desportista”.
Segundo elementos obtidos junto da Federação Portuguesa de Patinagem :
- Foi cinco vezes Campeão do Mundo em, 1958, 1960, 1962, 1968 e 1974.
- Venceu a Taça Latina em 1953 e 1965.
- Venceu cinco vezes o Torneio de Montreux.
- Foi quatro vezes Campeão Europeu em, 1959, 1961, 1963 e 1965.
- Foi jogador Internacional, 145 vezes.
- Marcou 241 golos pela Seleção Nacional.
- Foi distinguido com a medalha de Mérito Desportivo (1960) e medalha de Honra ao Mérito Desportivo (1999).
Selecção de Moçambique – 1978
Campeonato Mundial de Hóquei em Patins – S. Juan na Argentina
Em cima: C1 (argentino do protocolo da Associação de Hóquei de San Juan), Miguel, C3 (argentino do protocolo da Associação de Hóquei de San Juan), João Boavida, Manuel Morais (Chefe da Delegação Moçambicana e representante do Ministério da Educação), João de Sousa (jornalista da Rádio Moçambique), José Mauro, Carlos Pinto e Arsénio Esculudes (falecido).
Em baixo: Fernando Adrião (seleccionador nacional)(falecido), José Carlos, Neutel Abreu e Abdul Satar (Tesoureiro da Federação Moçambicana de Hóquei Patins). Dentro do autocarro: António Simões (falecido) e João Mangue (Massagista). Não aparecem na foto: Alfredo Nicolas (Guarda-redes), Américo Tavares e Luís Guimarães (Presidente da Federação Moçambicana de Hóquei Patins).
Fernando Adrião, meu companheiro na nossa primeira internacionalização como Moçambique independente (Mundial de San Juan – Argentina), faleceu no dia 12 de Janeiro de 2006. Faz hoje 13 anos.
Fonte: www.franciscovelasco.com
João de Sousa – 1201.2019
11 Comentários
Sidónio Serpa
Herdei o nome de meu pai, o Campeão do Mundo Sidónio Serpa, que terá sido estímulo para Fernando Adrião. Seu pai, Fernando Pinto Adrião, que conheci em criança, e meu pai foram grandes amigos.
Nunca fui dado a ídolos, mas Fernando Adrião foi o meu único ídolo no desporto. Como eu admirava a sua elegância sobre os patins que dominava como nunca vi ninguém e a sua técnica soberba, ao serviço da equipa!… Por causa dele, eu que sou um Lisboeta de gema, ao assistir aos Nacionais realizados em Lisboa, tornei-me adepto do Malhangalene de Lourenço Marques onde Adrião jogava!… Diziam que tinha um estilo muito semelhante ao de meu pai que nunca vi jogar porque nasci depois de ter abandonado a prática do hóquei, e não havia televisão nem vídeos nessa época… De resto, tal semelhança teria origem no facto de ter sido o pai Adrião que ensinou a jogar, quer o filho, quer meu pai.
Obrigado por me ter levado a recordar Adrião e a reviver a emoção de o ver jogar.
Victor Nunes dos Santos
Fernando Adrião, meu ídolo desde a infância, fomos mais tarde bons amigos e cunhados (pai do meu sobrinho Bruno Adrião). Vê-lo jogar era uma delícia e para mim foi o jogador mais representativo no mundo do hóquei em patins. Saudades!
Herculano
Já quase no final da vida uns 5 anos anos, seu sonho era berços países asiáticos praticando hóquei em patins . Índia, Coreia do Sul e Paquistão lhe pediram vídeos e literatura para iniciar a modalidade. Também estudava a possibilidade de haver uma nova bola , com características diferentes, mas nunca divulgou sua ideia. Descansa em Paz amigo
Mário Jorge Azevedo
Tive o privilégio de ser treinado pelo seu Pai. Enorme saudade desse tempo maravilhoso que passei no Malhangalene. Tudo passa nesta vida mas resta a felicidade de ter vivido esse tempo.
Luis Raposo
Tendo nascido na Beira
( Moçambique) a primeira vez que vi o Fernando Adrião jogar foi no Provincial de 1964 que se realizou no Pavilhão do Ferroviário da Beira entre Malhangalene- Ferroviário da Beira, aonde jogavam o Zé e Fernando Adrião o Malhangalene treinado pelo pai Adrião.
Foi um encanto ver jogar o Fernando Adrião, jogador muito elegante de uma técnica e inteligencia eximia, para mim (como ex-praticante do hóquei) o jogador mais completo que vi jogar, pois podia jogar em qualquer posição.
Ficou na história do hóquei nacional também devia estar no Panteon a fazer companhia ao Livramento.
Jose Silva Pereira
FERNANDO ADRIAO , ícone nacional do desporto, na modalidade de Hóquei em Patins.
Muito me entristece ver que aqueles que tutelam o Desporto ignorem o Homem que ele foi e que promoveu o nosso País como o maior dos maiores, por esse mundo fora… Merecia bem mais e muito melhor!
Tive o privilégio de privar com ele ao nivel profissional, na SUT em Moçambique e cá na Tabaqueira / Philip Morris. Recordo-o com muita saudade, como um grande Senhor que era!
Não posso deixar de prestar, aqui, a minha humilde homenagem a quem, no desporto, fez vibrar, por várias vezes, esta Nação, enchendo de alegria o coração dos Portugueses deste Portugal à beira-mar plantado.
Manuela Carvalhal
Reportagem muito interessante!Obrigada, João de Sousa! Todos os Moçambicanos da altura tinham uma paixão pelo Adriao e Bouçós!
f.ramos34@hotmail.com
Velho Adrião ( pai ) de quem fui amigo e ainda me lembro bem de quando me despedi dele no cais, no dia em que embarcou para o Brasil. Saudades de ambos, ( pai e filho ).
Orlando Oliveira
Igual a ele e ao malabarista Livramento, tão cedo não haverá
Diogo Amotoso Lopes
Obrigado pelas enormes alegrias que nos proporcionaram
José Russel
A história de um grande hoquista.