UMA DATA NA HISTÓRIA – 13 de Dezembro de 1939… Kok Nam
Hoje, bem cedo, comecei a operação “revival”, percorrendo pelas folhas amarelecidas do meu álbum de recordações. De quando em vez é necessário rever coisas, lembrar histórias, recordar factos. Na poeira do meu arquivo fui encontrar a fotografia que publico, tirada não sei onde, nem quando. Só sei que foi tirada numa altura em que os dois fumávamos.
O HOMEM DE TRATO AFÁVEL
Kok Nam, fundou com outros 12 jornalistas o primeiro grupo independente de comunicação social do pós-independência de Moçambique em 1992, tendo sido eleito director do semanário “SAVANA” em 1994, posição que manteve até à data da sua partida.
Nascido na então Lourenço Marques (hoje Maputo), filho de camponeses emigrados da região de Cantão na China, iniciou as suas lides fotográficas aos 17 anos como impressor fotográfico, passando no início da década de 60 para os quadros do “Diário de Moçambique” e da “Voz Africana”, publicações progressistas do Episcopado católico da Beira, lideradas por D. Sebastião Soares de Resende. Passou também pelo “Notícias da Tarde” e pelo “Notícias”, antes de se juntar em 1970 ao núcleo de jornalistas que criou a revista “Tempo”, uma publicação inconformista e rebelde, tentando furar as malhas da censura colonial e do Estado Novo português.
Durante o período revolucionário permaneceu na “Tempo”, aderindo aos vários movimentos internos de luta contra o controle partidário da informação produzida depois da independência de Moçambique, em 1975. O manuscrito inicial do documento “O Direito do Povo à Informação”, exigindo a liberdade de imprensa como um direito constitucional, foi elaborado em sua casa, em Fevereiro de 1990. Um ano depois, rompe com o “status quo” de então e com os seus colegas Naita Ussene, Fernando Manuel e António Elias (já falecido), junta-se ao projecto “mediacoop”, inicialmente uma cooperativa de jornalistas.
De trato fácil, incrivelmente jovial, cultivando sempre a modéstia e a humildade, os seus colegas e amigos guardam dele um grande sentido de profissionalismo e rigor, a defesa tenaz da integridade e dos princípios. O seu acervo fotográfico, espalhado pelos quatro continentes, é um dos mais importantes bancos de imagem disponíveis sobre Moçambique.
Se o Kok estivesse connosco fisicamente, e se a memória não me atraiçoa, hoje era o seu dia. O dia em que completaria os seus 80 anos de idade.
- Uma particularidade, segundo consta Kok Nam nasceu no dia 25 de Novembro, mas só foi registado a 12 ou 13 de Dezembro do mesmo ano, mas o que importa é recordar essa figura mítica do foto jornalismo de Moçambique.
João de Sousa – 13.12.2019
3 Comentários
Manuel Rodrigues
É bom recordar pessoas com o carácter e os predicados de Kok Nam. Parabéns João. Ele tinha a capacidade de entender as coisas como elas eram. Recordo um episódio no jantar de recepção que o Presidente Samora Machel ofereceu a Fidel Castro no hotel Dom Carlos, na cidade da Beira, na única visita que fez a Moçambique, num viagem a caminho de Angola. Nesse jantar, Samora Machel, a dada altura, perguntou ao Kok Nam : “Kok, a tua mulher já regressou?”, resposta do Kok : “Sim, sim, Senhor Presidente”. “tiveste sorte”, responde Samora Machel. Samora era assim. Sabia que a mulher de kok, que estava ligada ao sector de saúde, tinha ido a Portugal e havia dúvidas se ela regressaria. Samora gostava de mostrar que acompanhava as preocupações das pessoas com quem convivia de perto.
Augusto Martins
Eterna paz para a sua alma.
Eu nasci exactamente no mesmo ano e conheci bem o menino que foi e, mais tarde, tive oportunidade de reconhecer o seu valor e trabalho.
Arnaldo Pereira
Em 1973 fui seu colega na Tempográfica (a empresa editora e proprietária da Revista Tempo), sendo eu, então, o responsável pela área das Artes Gráficas (Tipografia, Litografia, Cartonagem e Encadernação).
Não foram poucas as ocasiões em que era imperativo recorrer aos fotógrafos da casa (O Kok Nam e o Ricardo Rangel), para realizarem trabalhos relacionados com o meu departamento (execução fotográfica de rótulos, elaboração de logótipos, de catálogos, panfletos …).