UMA DATA NA HISTÓRIA – 27 de Janeiro … Matateu
Nunca vi Matateu jogar. No ano em que nasci Sebastião Lucas da Fonseca foi jogar pelo 1º de Maio, depois de ter alinhado pelo Clube Desportivo João Albasini.
A primeira e única vez que estive com ele foi no Hotel Polana, na década de 90. Matateu veio a Maputo a convite do Ministério do Comércio, entidade que tutelava o Clube de Futebol Primeiro de Maio. Tentei entrevistá-lo. Não consegui. Não porque ele não dominasse a língua portuguesa. Antes pelo contrário. Porque, pura e simplesmente, da sua memória, alguns dos mais relevantes factos da sua história (era isso fundamentalmente que me interessava na entrevista) ficaram na gaveta do esquecimento. Já não se lembrava de muita coisa.
Com a ajuda do Américo Magaia, funcionário superior do Ministério do Comércio, e que durante muitos anos foi o Director Geral da FACIM, tentámos a entrevista na língua changane. Pior ainda. Matateu demonstrava alguma dificuldade em se expressar em changane. Optei pelo inglês. Aí sim. Matateu respondia, mas infelizmente, sem clareza. Foi uma entrevista que ficou por fazer.
Matateu foi um fenómeno sem a alegria dum campeonato nacional. Quem o viu jogar lembra-se certamente do futebolista que se impôs pelo físico, pelas passadas com a bola controlada, pelo remate forte ou em jeito, pelo drible curto. Muitos chegaram a dizer que “Matateu é uma força da natureza”. Era um autêntico quebra cabeças. Matateu, um cognome que significa “a oitava maravilha do mundo”. Uma alcunha cuja origem nunca foi completamente esclarecida, embora o jogador ligasse a alcunha ao termo landim “tateu”, que significa ‘pele a cair’, ou por efeito do Sol ou por efeito de andar sempre com as pernas esfoladas.
Sebastião Lucas da Fonseca (Matateu) faleceu no Canadá a 27 de Janeiro de 2000. Faz hoje 18 anos.
Após o seu falecimento, os restos mortais foram transladados para o Cemitério da Ajuda, em Lisboa, onde o Belenenses fez erigir um jazigo em sua homenagem e memória.
PS:
A – No Estádio do Restelo existe uma petisqueira chamada “Matateu”, com uma excelente vista para o Rio Tejo. A decoração é toda evocativa da velha glória do Belenenses: há fotografias de Matateu nas paredes, há camisolas de Matateu nas molduras, há recortes de imprensa sobre Matateu. Na petisqueira quem marca golos são os petiscos e a boa cozinha. As jogadas são feitas à mesa num ambiente descontraído. Um restaurante para os adeptos do futebol e não só.
B – O craque do Belenenses deu nome a um vinho licoroso da Estremadura.
C – a filha de Matateu, Argentina Fonseca, trabalhou durante mais de 10 anos no Museu do Clube de Futebol “Os Belenenses”. Ali está guardado o equipamento que Matateu utilizou ao serviço do Clube de Cristo e que a sua filha conseguiu trazer do Canadá, depois da sua morte.
João de Sousa – 27.01.2018
2 Comentários
Kailashcumar Govan
Muitos Parabéns João Baptista de Sousa. Como tu so o Mario Sergio ( Paulo Terra ). ABRAÇO
Manuel Martins Terra
Dizia-se em Lourenço Marques, nos meandros dos círculos desportivos que Matateu era um portentoso e senhor dotado com pé de canhão,. Os seus remates queimavam as mãos aos guarda redes. Num clube de maior projeção, sem menosprezar o valor do Belenenses, Matateu faria ainda mais furor e sua longevidade no futebol, era a prova da sua enorme capacidade física. Por curiosidade, Matateu dava também o nome, na capital moçambicana a um conhecido Bar situado na Av. Paiva Manso, já muito próximo do Bazar Vasco da Gama.Recordar hoje Matateu, é lembrar mais um grande futebolista moçambicano que brilhou no futebol português.