Há uma certeza absoluta quando se fala de desporto moçambicano: o nível de regressão a que está sujeito. Pedrito Caetano, o Ministro, e cuja capacidade de direcção e gestão da coisa desportiva deixa muito a desejar, diz não perceber porque é que hoje estamos na senda das permanentes derrotas. Eu acho que o Ministro não deve viver neste planeta, porque se vivesse, teria a certeza absoluta de que desporto não é uma ilha isolada. Não está dissociado do nível de desenvolvimento do País.
Já lá vão os anos 80. Ganhávamos em futebol. Hoje somos derrotados pelo Lesotho e pela Swazilândia, cujo nível de desenvolvimento é bem inferior ao de Moçambique. Fomos campeões africanos em basquetebol. Hoje temos uma modalidade para consumo interno. Ganhávamos no atletismo, como resultado do desempenho da Lurdes Mutola, vencedora do bronze nos 800 metros femininos em Atlanta 1996 e do ouro em Sidney 2000. Só que Lurdes é um caso isolado. Não é fruto do desenvolvimento do atletismo. O Ministro ouviu e não comentou. Se comentasse seria pior a emenda que o soneto.
Agora, com as observações feitas por aqueles que ele designou de “feras do desporto moçambicano” (que não se pouparam, no que a críticas diz respeito) o Ministro diz que quer reverter a situação. Talvez consiga. E eu gostaria que assim fosse. Mas para já e por agora, é preciso que ele tenha uma varinha de condão. Porque sem ela, como me dizia um antigo praticante do basquetebol “vamos continuar a marcar passo”.
João de Sousa
4 Comentários
Samuel Carvalho
Caro Francisco Velasco, subscrevo por inteiro o que acabaste de escrever no teu brilhante comentário. Foste um excelente praticante do hóquei patinado (figura mundial), mas constato que a tua grandeza não se verifica só aí.
Bem haja!
Francisco Velasco
Caro Samuel
A minha grandeza reside nos meus 1,81m de altura e uma cabeça lúcida e inquisidora, desde jovem. Tendo sido treinador de hóquei em patins aos 24 anos, estava consciente que os nossos treinadores não passavam de carolas de ocasião que pouco, ou melhor, nada nos diziam sobre as técnicas e tácticas peculiares da modalidade. Desconheciam em absoluto como preparar e orientar uma equipa, com excepção de banalidades direccionadas para os jornalistas e radialistas que era seu mister entrevistá-los. Como treinador/jogador da equipa do Ferroviário de L.M., durante 4,5 anos, o vazio que encontrei no hóquei foi colmatado pelo Basquetebol, que considerava mais inteligente e eficaz na sua prática.
Passei horas a assistir aos treinos do homens do Baloncesto, liderados pelo Pina, um amigo que eu chagava sempre quando o apanhava a jeito, com conversas, algumas longas, em que insistia decifrar aqueles rabiscos anotados em cadernos de notas, que ele trazia debaixo do braço, onde predominavam esquemas com tracejados e linhas com setas na ponta. Foram as exibições dos Globetrotters e de uma equipa campeã universitária Brasileira, que me despertaram para o sentido colectivo necessário neste tipo de modalidades.Daí que rapidamente “importei” os aspectos passíveis de serem integrados no hóquei em patins, dando vida ao sistema do Carrossel, com que me casei, e que avanço como uma teoria universal no meu Website.
Graças ao Basquetebol, a minha equipa de hóquei de hóquei em patins tornou-se numa das mais fortes de Lourenço Marques, praticando jogos tranquilos e eficientes e vencendo a maioria das provas em que entrou e cujo novo sistema alterou a forma de jogar em todo o planeta. Deixámos de actuar com dois defesas estáticos e avançados a moverem-se como pistons, para a frente e para trás. Passámos a deslocar-nos em círculos, onde todos atacavam e defendiam, sempre em movimentos sincronizados, tal como no Basquete. Num mimetismo interessante de realçar, todas as outras equipas começaram a girar… e girando ainda hoje continuam sem saberem bem porquê, isto é, falta-lhes as soluções esquemáticas e as setas e o momentum certo para aplicá-las com audácia…!
Concluindo, o Big Slam, em representação dos basquetebolistas, pode congratular-se por ter estado na gênese do elevado patamar que as nossas Selecções de Hóquei em Patins atingiram, quer as Nacionais quer as de Lourenço Marques.
Para re-enforço destas minhas afirmações, revelo que treinei e joguei hóquei com cabeça de basquetebolista, o que permitiu que os meus colegas se expressassem ao mais alto nível. Para se ver a importãncia do que aqui registo, os três torneios internacionais realizados em Lourenço Marques foram perdidos por três Campeões do Mundo e um da Europa locais, indiscutíveis estrelas do nosso firmamento. Perderam contra os seus suplentes da Selecção Nacional porque jogaram como hoquistas. O que jogava hóquei como basquetebolista estava sentado na bancada, triste com o espectáculo que lhe foi dado observar.
Bem haja o Basquetebol.
Admin
Caro Velasco,
Fiquei fascinado com o teu relato e com aquilo que acabei de ler sobre a influência do basquetebol na tua modalidade de eleição – o hóquei em patins. Desconhecia que tinhas sido o pai do famoso “carrossel”. Ainda hoje e passados tantos anos é utilizado pela maioria das equipas de hóquei, muitas delas ao mais alto nível.
O BigSlam congratula-se por ter pessoas como tu a ir ao “Baú das Recordações” e deixar aqui o seu valioso testemunho.
O meu Kanimambo e aparece sempre que te for possível neste nosso “Ponto de Encontro”!
Aquele abraço,
Samuel Carvalho
Francisco Velasco
Caríssimo João
Volto à carga para retribuir o abraço especial com que me mimoseaste. Os homens do Desporto não são só os que ganham títulos… são também os que de pena na mão, auscultadores nos ouvidos e microfones à sua frente, como tu, vivem as mesmas emoções que os atletas, dias e noites a fio, sempre atentos aos acontecimentos, elogiando, criticando e estimulando. Sem esses agentes, não seríamos nada e a todos eles, na tua inesquecível pessoa, concedo a MEDALHA DE PLATINA dos JOGOS DO MEU SÉCULO.
Bem hajam!