OS “CINZENTINHOS”
Muitos automobilistas queixam-se do facto de estarem a ser interpelados por polícias, vulgarmente conhecidos por “cinzentinhos” que lhes exigem a apresentação da carta de condução e do livrete da viatura. Terão eles (os cinzentinhos) autoridade para tal ? Ou essa é função dos Agentes da Polícia de Trânsito ?
Um amigo meu, quando interpelado, recusou-se a mostrar os documentos que o polícia pedia. Sofreu as “passas do Algarve”, como soe dizer-se. Mandaram sair da viatura e com a arrogância do tamanho deste mundo, disseram-lhe que “nós somos autoridade e por isso o senhor tem de nos obedecer”. Este meu amigo, que me contou esta história a semana passada, perguntou o nome do Agente, porque ele não tinha a sua identificação visível, como determina a lei. O polícia recusou-se a fornecer. A discussão entre ambos subiu de tom. O automobilista fazendo valer os seus direitos pediu que ambos se dirigissem à esquadra mais próxima, para esclarecer o problema. O polícia fez ouvidos de mercador e continuou a inventar direitos que não lhe estão conferidos. A cena durou quase 15 minutos, até que um dos colegas do “cinzentinho” que interpelou o meu amigo disse-lhe num tom ameaçador: “por agora podes ir, mas para a próxima isto não vai ficar assim”.
Este é sem dúvida um caso isolado. Mas de casos isolados desta ou de outra natureza, está este País cheio. Todos os dias, cada um de nós, tem sempre uma história para contar, relativo ao desmando de alguns agentes da Lei e Ordem.
É preciso notar que estes polícias estão armados, e por isso mesmo, o medo ou receio de quem é interpelado, de que algo de complicado e grave possa acontecer, é sempre grande.
Recordo-me, durante a minha estadia em Pretória, ter reportado este tipo de abusos praticados, tendo como alvo turistas e homens de negócios sul africanos, proprietários de viaturas com matrícula daquele País. Alguns dos casos mencionados foram manchete em vários jornais da África do Sul. Um amigo meu, que vive e trabalha em Pretória contava-me, quase semanalmente, histórias sobre este tipo de procedimento de alguns dos nossos “cinzentinhos”. Para eles (e para nós também) o agente de trânsito usa farda com camisa branca e calças azuis, e apenas estes têm autoridade para exigir documentos do condutor e da viatura. Este tipo de procedimento, põe em causa os esforços que têm sido feitos, no sentido de colocar Moçambique na rota privilegiada para turismo e negócios.
Acredito que há mecanismos para estancar duma vez por todas com este tipo de abusos, praticado por uma meia dúzia de desonestos, a coberto duma farda cinzenta, que mancham o trabalho de toda uma corporação. Pode não haver vontade para accionar esses mecanismos, o que pressupõe, como muitos já se habituaram a dizer que “vivemos no pais do deixa andar”, onde tudo de absurdo e inesperado acontece para mal dos pecados do pacato cidadão.
Se calhar ainda “vamos ter de aturar” este tipo de tropelias por mais algum tempo.
Esta história, que não é novidade para muitos, não passa dum grão de areia no universo da tempestade social em que o País se encontra mergulhado. Acho que é chegado o momento de se colocar “o guizo ao gato”. Mas como me dizia o meu amigo e colega Machado da Graça no recente convívio dos jornalistas e colaboradores do jornal “Correio da Manhã”, por ocasião da comemoração dos 16 anos deste jornal, “guizos há … o problema é localizar os gatos”.
PS: “cinzentinhos” é a designação pela qual são conhecidos os agentes da Polícia de Segurança Pública de Moçambique. Eles usam uma farda de cor cinzenta.
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20.02.2013