A ESTAGIÁRIA!
Estolano telefonou-me a dizer que o seu carro tinha sido acidentado por um motorista dum camião cavalo da África do Sul na portagem de Maputo. Ali mesmo a polícia e a TRAC tomaram conta da ocorrência e encaminharam os dois intervenientes para uma esquadra mais próxima, por sinal a que funciona no Hospital José Macamo.
Chegados ao local uma agente informou que a pessoa responsável por abrir o processo se tinha ausentado “por alguns minutos” numa missão de serviço. Mas para que as pessoas não tivessem que ficar à espera, o trabalho de recolha dos dados relativos à história do acidente ia ser feito por uma outra agente, por sinal, estagiária. Atitude louvável, diz-me Estolano no seu telefonema. Nunca pensei, adianta, que em termos de atendimento público a Polícia estivesse a funcionar duma forma eficiente. Os dois (Estolano e o cidadão que tinha acidentado a sua viatura) contaram como o acidente tinha ocorrido.
Depois de ouvir tudo atentamente a estagiária puxa dum papel branco A4 e prepara-se para reduzir a escrito o que lhe tinha sido dito verbalmente. Neste entretanto olha fixamente para a porta da esquadra. Do lado de fora um cidadão precisava dos préstimos da agente policial. Esta não se fez rogada. Deixou os seus “clientes” e foi atender o indivíduo que estava à porta da esquadra. Estolano veio a saber que o tal cidadão era o pai da agente.
Como era de esperar, reclamou alto e em bom som para todo o mundo ouvir. A estagiária fez ouvidos de mercador. Acompanhada do seu familiar, deixou a esquadra e entrou no Hospital José Macamo. Depois de tanto insistir veio um outro agente para realizar o trabalho que a estagiária não tinha iniciado. Primeira pergunta do agente: “então, como foi o acidente”? Estolano percebeu que tinha de começar tudo de novo. E começou a descrever (de novo) o que tinha acontecido.
A determinada altura Estolano, segundo as suas próprias palavras, vê entrar na esquadra mais um polícia. Olhou para os galões e apercebeu-se que era o Chefe. “O que se passa”? Estolano voltou a contar tudo de novo. Vieram os pedidos de desculpas. Quando Estolano saiu da esquadra da polícia, que de esquadra só tem o nome, (ficou lá desde as 10 horas até ao meio dia) alguém na rua disse-lhe: “amigo, não se preocupe, isto que viu nesta esquadra é o pão nosso de cada dia”. Nesta e noutra esquadra qualquer, acresentou o meu amigo Estolano.
E assim vai Sr. Jorge Khalau, a “sua” polícia. Talvez o seu chefe recém nomeado, que por sinal foi seu vice, possa fazer alguma coisa por este povo cansado de sofrer.
PS: Obrigado Estolano por me teres contado esta história.
João de Sousa – 25.02.2015