A FEBRE DO FUTEBOL
Amanhã vai repetir-se o que de 4 em 4 anos o mundo do futebol nos habituou. Emoção, entusiasmo, alegrias, tristezas, escândalos. Ao pensar neste Brasil 2014, parece-me oportuno lembrar que o “medo sobre o mundial” é algo que não se pode esconder, tal como refere a conceituada revista “France Football”.
Infelizmente o “país tropical” de Jorge Ben, ou “daquele abraço” de Gilberto Gil, o país do samba e do futebol vive mergulhado numa crise económica e social sem precedentes, que acabou por se tornar numa fonte de angústia. Há quinze dias a revista alemã “Der Spiegel” colocava na capa o símbolo da Copa de 2014 a arder, com a legenda “TOD UND SPIELE” que significa “jogo e morte”.
Sem qualquer pretensão de analisar o que significam todas estas manifestações de revolta, caracterizadas por greves e actos de violência e que expressam o sentimento da maioria dos brasileiros,
decidi hoje recuar aos bons e velhos tempos da nossa TVE e da primeira transmissão dos jogos do Mundial, que ocorreu precisamente com a realização dos desafios da Copa realizados em Espanha, decorria o ano de 1982 e onde pela primeira vez participaram numa fase final 24 selecções nacionais.
Um Mundial, se bem estão recordados, marcado por um futebol ofensivo e criativo. Esse foi o Mundial da Itália que conseguiu 3 proezas: voltar a ganhar a Copa após 44 anos de jejum, igualar-se ao Brasil como tri-campeão e superar um grande número de problemas ocorridos na preparação da “squadra azurra”.
Estas e outras peripécias passaram pela nossa televisão, numa altura em que a TVE, com apenas 4 anos de existência, tinha um raio de cobertura que atingia apenas Maputo e arredores.
Ainda hoje me revejo nos problemas daquela época enfrentados pela nossa TVE, de trazer para os nossos ecrãs as grandes figuras do mundo da bola, como foram os casos Zico do Brasil, Rumenigge da Alemanha, Paolo Rossi da Itália, eleito o melhor marcador e melhor jogador da Copa de 82,
Michel Platini da França, Diego Maradona da Argentina ou Roger Milla dos Camarões. Foi um verdadeiro quebra-cabeças. Porque não tínhamos muitos recursos financeiros, materiais e humanos, foi preciso fazer uma ginástica terrível, para não defraudar o interesse do grande público por um evento de envergadura mundial e que abria um capítulo histórico importante da televisão moçambicana, ainda em fase experimental, no que a transmissões “em directo” diz respeito.
Eu que já tinha sido integrado em 1978 na equipa de profissionais da comunicação social que deu a cara nas primeiras emissões da nossa televisão experimental, transmitidas a partir da FACIM,
nesse projecto tutelado na altura pelo Ministério dos Transportes e Comunicações, sob a batuta dum timoneiro chamado José Luis Cabaço e estabelecido em parceria com a empresa italiana “Voxsom”, vivi, com esse Mundial da Espanha de 1982, uma experiência diferente.
Manda a verdade dizer que trazia experiência radiofónica. Sabia como “enfrentar” o microfone. Mas não sabia outras coisas importantes que a televisão requer, como por exemplo “enfrentar” a câmara. A nossa forma de ser e de estar diante das câmaras, era coisa que em Moçambique quase ninguém tinha aprendido. Recordo-me dos ensaios que fazia no Gabinete de Comunicação Social, na companhia da Glória Muianga, do Gulamo Khan ou do José Custódio, com o apoio técnico sempre incansável do saudoso homem da imagem, de seu nome Jorge Almeida e de tantos outros como foram os casos do Jaime Ferreira, do Álvaro Belo Marques, do Mendes de Oliveira, do Rego da Silva, do José Branquinho, do Willy Wadington, enfim … dum conjunto de profissionais de diferentes áreas que foram “desviados” dos seus locais de trabalho, para durante 37 dias se embrenharem pelos caminhos dum meio de comunicação novo em Moçambique.
Ao recordar o Mundial de Espanha de 1982 vem-me à memória a reduzida equipa de comentadores da TVE que cobriu diariamente esse acontecimento, formada por mim, pelo Mahomed Galibo, pelo Jorge Matine e pelo saudoso João Luís Albasini.
Já lá vão 32 anos. Como o tempo passa!
João de Sousa – 11.06.2014
2 Comentários
Braga Borges
O meu amigo João no seu melhor. Como sempre, aliás.
Aquele abraço, João.
Wanda Serra
E’ um conquista maravilhosa recordar a
PASSAGEM DO TEMPO!!
Wanda