ÁFRICA DO SUL PÓS MANDELA!
Vai ser difícil saber o que pode vir a ser a África do Sul pós Nelson Mandela. Mesmo antes do seu desaparecimento físico esta questão era colocada com premência. Mandela funcionou sempre como uma reserva moral do ANC, mesmo depois de ter deixado a vida política.
Os analistas sul africanos começam a dedicar artigos sobre esta matéria, muitos deles consubstanciados nos princípios sempre defendidos por Mandela e desrespeitados em larga escala por aqueles que optaram por seguir pelo caminho da ostentação, como resultado da extorsão dos dinheiros públicos para fins pessoais e privados.
Assim se explica o fenómeno de Nkandla, terra natal do Presidente Jacob Zuma.
Uma aldeia onde se erguem palácios cuja construção foi feita com verbas do Estado. Verbas astronómicas que o actual governo sul africano justifica como sendo necessário, porque está em causa a segurança do Chefe de Estado. Essa dita segurança inclui, várias casas (leia-se mansões) para os membros da família Zuma, piscina para visitantes, anfiteatro, espaços para a criação de gado, entre outras infraestruturas. A Procuradoria Geral da República sul africana, depois duma aturada investigação sobre o assunto, considerou as construções como sendo desnecessárias. Agora Jacob Zuma vai ter de devolver ao Estado uma grande parte dos valores gastos. Frederik De Klerk, Nelson Mandela ou Thabo Mbeky não construíram impérios desta natureza.
Alguns analistas políticos sul africanos, cujos escritos começam a surgir em diferentes publicações, consideram que este e outros factos do género em nada vão ajudar “a criar o clima propício para se caminhar numa era pós Mandela capaz de trazer à tona, particularmente para os jovens que não viveram o tempo do apartheid, os princípios defendidos por Madiba”. Princípios de boa governação, respeito, honestidade e reconciliação.
Dificilmente o governo sul africano vai cumprir com as metas delineadas o ano passado, denominadas de “visão para 2030”, que prevê, entre outras coisas um crescimento económico de 4% até ao final deste ano. De acordo com instituições financeiras internacionais, nomeadamente o Banco de Desenvolvimento da África Austral, esse crescimento económico tem de andar na fasquia dos 9 ou 10%. E isso, já se sabe, não vai acontecer.
Alguns analistas ligados às áreas de economia e finanças da África do Sul começam a referir-se a este plano como sendo uma utopia. Eles consideram que o desenvolvimento não se consegue através de uma simples operação aritmética. Advém da correcção de alguns factores como por exemplo má qualidade de ensino, infra-estruturas inadequadas, particularmente nos bairros mais problemáticos, mau sistema de funcionamento do Serviço Nacional de Saúde e corrupção.
O tempo dirá se de facto este projecto pode vir a tornar-se uma ferramenta capaz de fornecer uma nova visão para a África do Sul, que nos meandros políticos fica conhecida como “visão 2030”.
Com eleições à porta (2014), espera-se que o período pós Mandela duma África do Sul democrática possa constituir uma realidade e que os princípios defendidos por Madiba, hoje ignorados, possam emergir, para benefício da nova geração de sul africanos.
João de Sousa – 11.12.2013