BRICS … amizade ou neo-colonialismo?
Alguns Chefes de Estado da região austral do nosso continente, com excepção, tanto quanto sei do Presidente do Botswana referem-se aos parceiros de cooperação integrantes do grupo denominado BRICS, formado pelo Brasil, Rússia, Índia China e África do Sul como sendo parceiros que realizam as suas trocas comerciais na base da amizade. Há no entanto vozes que discordam desta opinião, até porque, hoje em dia, ninguém (em matéria de negócios) faz, seja o que for por amizade. Os mais cépticos refugiam-se no ditado que diz “negócio é negócio e conhaque é conhaque”. E lá terão as suas razões.
Quando eu estive a desempenhar a minha função de Correspondente da Rádio Moçambique na África do Sul, dei conta com alguma assiduidade dum conjunto de variadas observações que eram feitas por proeminentes figuras do mundo económico sul africano. Observações de contestação pelo facto da África do Sul “ter alinhado num bloco duma musculatura diferente”, pese embora o facto dos sul africanos serem a principal potência económica de África. E se assim pensam alguns sul africanos, do mesmo modo pensarão alguns dos cidadãos dos outros países integrantes.
Ao tempo em que estive na África do Sul os resultados práticos desse bloco económico não se fazia sentir no tecido social do país do “rand”. As reuniões proliferavam. Os comunicados de imprensa intoxicavam-nos com números e estatísticas de vária ordem, que na prática não alimentam o cidadão, ávido de ter comida, água potável, energia, centro de saúde e escola, entre outras coisas prioritárias para a melhoria da qualidade de vida.
Este grupo económico, de acordo com dados publicados pelo Standard Bank, pode atingir os 500 biliões de dólares norte americanos nas suas trocas comerciais, até 2015, sendo que, no processo, a maior fatia vai para a China, que encaixa 60% desse valor. Colectivamente os 5 países representam 42% da população mundial.
A questão da neo-colonização, que constitui o receio de alguns governos europeus, que apelidam as acções do grupo BRICS como sendo “sub-imperialismo” é uma questão premente, embora muitos afirmem, como foi o caso do Presidente Armando Guebuza, na última cimeira realizada na cidade de Durban que “África não precisa de ser colonizada de novo”.
Um outro perigo à vista, segundo alguns analistas económicos é a criação dum Banco de Desenvolvimento próprio, decidida na Cimeira de Durban que, segundo se diz, terá um capital de 50 biliões de dólares divididos equitativamente pelos países membros. Ora ao que tudo indica, no seio dos governos que formam este grupo há dúvidas que assentam sobre aspectos importantes a considerar, como por exemplo a operacionalidade desta futura instituição financeira. As reservas financeiras da África do Sul rondam os 40 biliões de dólares Isto significaria, para a economia sul africana uma participação no capital deste banco em 10 biliões de dólares Outra questão: quem vai definir o tipo de moeda a introduzir nas relações comerciais tendo em conta as diferenças abismais que existem entre as paridades das moedas actuais em curso nos países membros ?
Ao analisar a existência dum bloco (económico ou político) desta natureza e o reflexo prático da sua ação no dia a dia das pessoas, parece-me pertinente lembrar a opinião de Noé Nhantumbo, publicada numa das edições do “Canal de Moçambique” e na qual o articulista pergunta: “BRICS em desaceleração ou nem tanto” ?
João de Sousa – 15.05.2013