CONHECIMENTO… por onde andas?
Sentado no meu sofá oiço (e vejo) um jornalista da STV que cobria a visita do Presidente da República a Inhambane dizer que “Filipe Nyusi visitou um centro de reprodução onde existem vários marriscos (com dois érres), de entre os quais o peixe”. Numa só afirmação o jornalista em questão cometeu dois erros graves. Por um lado não sabe como se lê a palavra “marisco”. Por outro, considera que peixe é marisco. Talvez ele esteja laborando no equívoco de pensar que pelo facto de algum peixe também viver no mar, logo seja “marisco”, sendo esta última palavra derivada do substantivo “mar”. Vai daí, saiu a caldeirada que saiu. Falta de conhecimento, pura e simplesmente. Dois diferentes graus de ignorância.
O que este jornalista disse põe a nu o actual grau de conhecimento de alguns (se calhar a maioria) dos profissionais dos meios de comunicação social. Este tipo de afirmação deita por terra todo o esforço que o Ministério da Educação e Desenvolvimento Humano está a fazer no sentido de dotar os nossos estudantes das ferramentas que lhes permitam dominar o conhecimento.
Está mais que provado, como me dizia a minha colega e amiga Luísa Menezes, que os tempos em que, por estar mal escrita, o chefe rasgava a notícia, deitava no caixote do lixo e mandava fazer outra, eram “os nossos tempos”. E nos nossos tempos havia coragem e frontalidade suficiente para suspender vozes que não sabiam ler ao microfone. Este tipo de exigência perdeu-se no tempo. E aqui, por muito que se não queira, há, aparentemente, conivência dos actuais responsáveis dos meios de comunicação social. Os que deviam chamar à razão não o fazem, ou porque, talvez, também não sabem ou porque não estão para se incomodar. Lamentavelmente caminhamos para a preservação de algo bem abaixo de mediocridade.
Um outro exemplo de ausência de conhecimento foi-me dado a semana passada por um apresentador da TV Miramar.
Ele comentava sobre o estado de abandono das viaturas na via pública. Chegou a referir-se a algumas dessas viaturas como sendo “caracaças”, em vez de CARCAÇAS.
Mas há mais: há painéis publicitários colocados em vários locais da cidade de Maputo informando que “estamus no Zimpeto” ou ainda duma tabuleta afixada num dos nossos semi-colectivos de transporte de passageiros (vulgo chapa 100) que anuncia a sua rota desta forma: “Baixa-Cimitério”.
Não pensem que este tipo de coisas se passa só por aqui. Lá pela “Mãe-Pátria”, sintonizando a RDP África
também ouvi um “conceituado” locutor/jornalista, dizer “defalgrou” (em vez de DEFLAGROU) ou “errupção” (em vez de erupção).
Para fechar este ciclo de asneiras que fui vendo, ouvindo e lendo ao longo da semana, transcrevo este anúncio que está inserido na página do Facebook das Linhas Aéreas de Moçambique:
“A partir da nossa página Web, podes alugar o seu carro e levá-lo no aeroporto logo após o desembarque. Na LAM facilitamos a tua vida e não precisas preocupar-te com os táxis, boleia e nem controlar a hora do Gautrain.”
Um atentado acérrimo a Luís Vaz de Camões e Vasco da Gama que por sinal já atracaram por estas bandas. Uma ilustração da mediocridade duma companhia que se diz ser “de bandeira” e ainda por cima “Made in Mozambique”. Infelizmente há quem sinta orgulho em falar e escrever mal.
Acho que vamos ter de começar tudo do “zerro”.
PS: Permitam-me lembrar (por antecipação) o dia 15 de Maio de 1966, dia em que fiz o primeiro relato de futebol. Foi num Sporting – Ferroviário, no campo João da Silva Pereira. Para mim é “uma data na história”.
João de Sousa – 13.05.2015
Um Comentário
Alberto Lage
Obrigado, Sr. João de Sousa, por partilhar connosco os seus comentários e sabedoria. Viva a língua em que nos entendemos, o português.