Francisco Velasco!
Não é uma entrevista, mas sim uma merecida homenagem…
Moreira, Souto, Adrião, Velasco e Bouçós… Indubitavelmente a melhor equipa do mundo do Hóquei em Patins… De sempre!
Por: Alexandre Ribeiro Franco
Como jornalista desportivo tanto trabalhei na cobertura de jogos de Futebol, como de Basquetebol e também de hóquei em patins. E agora, meus caros amigos, particularmente aqueles que sendo gente do Basquetebol gozavam com os hoquistas, por vezes até alegando que era uma modalidade de “marrecos” pois andavam sempre curvados, ou como dizia o nosso saudoso amigo José Basílio: Se vou ver os jogos do Sporting, adormeço e quando acordo a bola está dentro da baliza do Sporting! A verdade é que ainda me recordo das coisas maravilhosas que Francisco Velasco fazia dentro dos rinques de hóquei em patins, como se fosse… ontem.
Estamos perante aquilo que não titulo de entrevista, mas sim de uma Homenagem àquele que foi um dos melhores hoquistas do mundo, de sempre, e que dá pelo nome de Francisco Velasco.
Antes porém, permitam-me que aproveite esta “embalagem” da modalidade a que nos referimos, o Hóquei em Patins, para contar uma história verídica que provavelmente não é do conhecimento da grande maioria e que envolve o parceiro nas linhas de ataque das seleções (e não só) do Velasco. Claro que me refiro ao Amadeu Bouçós, jogava ele no Sindicato.
Um dos meus mentores no jornalismo desportivo foi um senhor que dava pelo nome de Alfredo Maria Freire. Era eu um miúdo e já ele era o Sr. Alfredo Maria Freire. Um grande jornalista, mas que não alinhava (gostava) muito do hóquei em patins. No entanto, todas as sextas-feiras por volta das 22 horas, ele telefonava para o Sindicato (bar do clube de hóquei em patins), pedia para falar com o Amadeu Bouçós, a quem solicitava que lhe contasse o que tinha acontecido naquela noite em relação aos dois jogos que habitualmente se realizavam. O Amadeu, semana após semana, dava as informações ao Sr. Alfredo Maria Freire, o qual as “transportava” para o jornal do dia seguinte, sempre com a transparência e o rigor da informação dada pelo Amadeu Bouçós. Determinada sexta-feira, cai uma carga de água para os lados da Pinheiro Chagas (onde ficava o rinque do SNECI, mas na baixa não chovia e o Sr. Alfredo Maria Freire, mais uma vez por volta das 22 horas, telefona para o Sindicato e pede, como habitualmente, para falar com o Amadeu Bouçós, só que este, desta feita, decidiu pregar-lhe uma partida e em vez de lhe dizer que os jogos não se realizaram, pois tinha chovido e como se lembram o rinque do SNECI não era coberto, inventou uma história que incluiu golos, constituições das equipas, tudo, mas mesmo tudo inventado. O Sr. Alfredo Maria Freire publica no Notícias do dia seguinte os relatos, os resultados, etc., quando nem se quer se tinha realizado qualquer dos jogos. Que grande bronca. Escusado será dizer que o Bouçós teve que andar uns dias a evitar o Sr. Alfredo Maria Freire, apesar deste reconhecer que não devia fazer o que vinha a fazer já há alguns tempos.
Este amigo Alfredo Maria Freire, tinha coisas giras. No campo João da Silva Pereira, o do Sporting, realizava-se um jogo de futebol arbitrado por um tal (bem conhecido) Vítor Real. Distraído como ele era, quando chegou à cabine de imprensa, perguntou: Quem é o árbitro? Um colega nosso, também na paródia, disse: É o António Maria Carvalho! No dia seguinte lá estava no jornal: No jogo de ontem, no Campo João da Silva Pereira, arbitrado por António Maria Carvalho…!!!
Bom, mas vamos ao que interessa que é a homenagem a Francisco Velasco.
Data e local de nascimento: Ribandar, Goa (Antigo Estado da Índia).
Nome: Francisco Xavier Franco Bélico de Velasco (16 de Novembro de 1934), velho como Matusalém…
Casado, solteiro… Casado.
Nome da esposa: Vivienne de Velasco (5 de Dezembro de 1941).
Nomes dos filhos: Rui Paulo Franco Bélico de Velasco (24 de Março de 1961), Alexandre Jorge Franco Bélico de Velasco (30 de Novembro de 1964), estes de primeiras núpcias e Cláudio Cesar Franco Bélico de Velasco (6 de Maio de 1972), de minha atual esposa, que não se importou que lhe desse o nome do meu Pai.
Escolaridade: Antigo 5º ano alcançado no ex-Liceu Salazar de Lourenço Marques.
Depois do BI…
Fala-me sobre a tua infância:
Tenho um palpite que fui nascer em Goa, tendo regressado a Moçambique ao colo de minha Mãe. Acho que esse evento foi uma consequência das licenças graciosas que eram um direito dos funcionários públicos, após quatro anos de trabalho. Uns viajavam para Portugal, mas o meu Pai que nada tinha a ver com a Metrópole, rumava para a Índia, sua terra natal. Para a minha saudosa Mãe, católica devota, já com uma prole de um irmão e quatro irmãs acima de mim, o meu nascimento deve ter sido um tanto inesperado pois, segundo ela, fartou-se de dar uns saltitos a ver se conseguia livrar-se de mim, mas pelos vistos, fui duro de roer e nada conseguiu. Cheia de remorsos, presumo, deve ter ido de seguida penitenciar-se junto do túmulo de S. Francisco Xavier. Não admira que me tenha dado o seu nome, o que me honra bastante, apesar dos inconvenientes causados no futuro, quando tinha de o escrever, transformando-o numa espécie de “combóio” em miniatura acoplado a um longo apelido aristocrático.
Nesta época da Internet, quando fiz uma busca introduzindo o nome do meu avô, Domingos Franco Bélico de Velasco, fui dar a outro Domingos que já andava pelas índias em 1705, a espadeirar os gentios recalcitrantes, sendo extraordinário que o apelido se tenha mantido inalterado durante mais de 300 anos. Daí que passei o “comboio” aos meus filhos… O mais velho, casado com Anja Schwerin (18 de Abril de 1975), manteve a tradição ao proporcionar-me o primeiro neto, a quem deu o nome de Luís Nelson Franco Bélico de Velasco (14 de Outubro de 2005), e já agora, uma netinha, a adorável Rachel Layla Schwerin (23 de Fevereiro de 2008).
Os meus netos Rachel Layla e Lui Nelson a patinar, no Dubai.
Conta-me o que te lembras da tua tenra idade?
Quando rebusco a memória, só alcanço os meus quatro anos de idade. Vivíamos no Alto-Mahé, numa rua de areia, sem saída. Na esquina situava-se uma padaria cuja produção lançava para o exterior o aroma delicioso, característico da cozedura da farinha, onde ia buscar uns pacotes cheios de pãezinhos, acabados de sair do forno. Era nosso vizinho o polícia Silva cujos filhos, mais tarde, iria conhecer como desportistas. Lembro-me de rastejar por baixo da cerca de arame que separava as nossas casas e colher os pêssegos maduros que faziam depois a delícia a algumas das minhas irmãs. O vizinho com o seu estatuto de autoridade, juntava a criadagem e admoestava-os aos gritos, ameaçando-os de porrada, pois pensava que eram eles quem se aboletavam com os frutos.
Mim, descalço para correr bem…
Na avenida principal, Pinheiro Chagas, logo à saída do nosso beco, à esquerda, erguia-se a moradia da família Possolo que visitávamos aos fins de semana. Um deles, gorducho, possuía uma voz de barítono, bastante cuidada, e o outro, o Chico, magro e alto, passava o tempo a tamborilar os nós dos dedos em tudo que servisse para provocar um som, acompanhando, como um “expert”, qualquer melodia que estivesse no ar ou que ele assobiava.
Estávamos no ano 1939 que foi marcado pelo início da II Guerra Mundial, em fins de Setembro, isto soube eu anos mais tarde. O conflito teve pouco impacto na nossa vida quotidiana, a não ser vagos rumores de navios afundados junto da costa. Relacionada com esse acontecimento, ficou-me a imagem de alguma agitação gerada na ruela, devido à passagem fantasmagórica e silenciosa de um Zeppelin alemão, refletindo a luz do sol na sua armadura prateada. Possivelmente abandonava a África Austral, de regresso à sua base no Tanganica, ex-colónia alemã, a norte de Moçambique, um pouco antes de estalar a invasão da Polónia.
Era prática comum nesses tempos, a Mãe levar-nos à Igreja da Munhuana, ao domingo de manhã, onde todos, miudagem branca e preta, disputávamos de modo acalorado umas belíssimas iluminuras do Céu, com anjinhos alados soando harpas e flautas, ou do Purgatório, onde demónios monstruosos se debatiam no meio de intensas labaredas, que os padres distribuíam como sobremesa dum final de missa apoteótico. Pontapé aqui, empurrão ali, chapadas por todo o lado, eu lutava encarniçadamente pelos postais do Arcanjo,
especialmente aqueles onde ele aparecia a espetar a sua lança no Demónio o qual, a seus pés, na forma dum dragão, se finava e se contorcia, lançando longas chispas de fogo pelas narinas.
Pouco mais me lembro, a não ser da mudança de casa para a Rua Mendonça Barreto, quando a minha Mãe, com a minha irmã mais nova nos braços, Maria da Glória (27 de Abril de 1938), falecida trágicamente em 1953, e eu à sua ilharga, caminhávamos a pé para o novo local de residência, seguindo a camioneta que transportava os nossos haveres. Às tantas, malandrete que era, soltei-me e corri rumando por outra rua que não a principal, ouvindo-a, aflita, a chamar incessantemente por mim.
– “Fancocas!… Fancocas!”… Era assim que me apelidava carinhosamente. Acho que a minha visão dela, a diminuir, conforme nos apartávamos, causou-me grande desconforto e, mesmo para a idade que tinha, os remorsos foram tais que nunca voltei a comportar-me daquela maneira, correndo para ela ao mínimo assopro dum chamamento.
Onde é que cresceste?
Cresci por toda a cidade de Lourenço Marques. Não houve canto que não tivesse espiolhado. A vantagem de ser o mais novo de uma família numerosa, com uma data de irmãs, não que tivesse sido posto à margem, foi a liberdade que adquiri desde pequeno, quando vadiava como um moleque na companhia de outros moleques que infestavam o bairro. Pilhávamos frutas dos quintais, púnhamos as cabeças dos monhés em pânico quando entrávamos nas suas lojas, fugíamos quando nos perseguiam por termos sacado ao “industrial” de “pirolitos”, uns cones enrolados em papel de jornal, acabadinhos de fazer. Como gafanhotos, éramos uma praga que acabou por se extinguir quando alguns de nós apanharam umas boas bofetadas em plena rua.
Éramos putos. E quando nesta idade se aprende a esquivar e fintar para não apanhar uns tabefes, fico suspeitoso que algo ficou impresso no meu subconsciente, muito útil na minha futura carreira desportiva quando fazia umas fintas, que os exagerados apelidavam de “desconcertantes”. Descobri outra coisa também, que as dores das tareias que levava doíam hoje mas desapareciam no dia seguinte o que servia de alguma consolação.
As minhas irmãs, Madalena, Lourdes, Teresa, Graça e Glória, em baixo.
Em minha casa, só reclamavam quando chegava atrasado à mesa de jantar, as minhas queridas irmãs, e não eram poucas, reclamavam do meu Pai que me pusesse na ordem, que não estudava e andava sempre a vadiar. Ou então quando aparecia com um olho negro e arranhões nos joelhos, fruto de brigas por causa dos berlindes e dos abafadores de cores raiadas. Raramente aceitava que um de mais idade abafasse os meus berlindes… mesmo que me custasse uma carga de porrada.
O que foi a tua adolescência?
Ao mudarmos para a rua Mendonça Barreto, defronte da família Koch, do Julinho e da Teresa, uma moradia tipo colonial, de madeira e zinco, evidenciavam-se as dificuldades que o meu Pai teve de enfrentar. Na verdade, os tempos foram muito duros para algumas famílias e o ordenado do nosso Pai, funcionário da secretaria dos Armazéns Gerais dos Caminhos de Ferro, dificilmente chegaria para as encomendas de uma ninhada de sete filhos. Com mais problemas do que nós, seguramente os autóctones…! Daí que o meu irmão Mário tivesse de começar a trabalhar aos quinze anos de idade e o nosso Pai, na sua frustração, se entregasse por vezes a uns copos com os amigos, o que só vinha dar um tom pitoresco à situação. Felizmente que teve sempre um beber folgazão, sendo respeitado por todos os filhos e por mim, que simplesmente o idolatrava.
Os Koch, Júlio e Teresa, lourinhos, Mim e Graça.
Grandes amigos, os Koch eram uma família bastante simpática. Tanto o Júlio como a Teresa possuíam uns cabelos louros como nunca tinha visto. Eu e eles brincávamos todas as tardes à sombra do caramanchão, um ripado de madeira construído entre a moradia e o muro baixo da rua. Gente de posses, calculo, tal o número de brinquedos e de jogos que traziam cá para fora, isto não contando com as merendas que um criado nos servia numa bandeja, a mando de inesquecível D. Rosa, a simpática patroa.
Estava em idade escolar e fui inscrito na Escola Primária Paiva Manso, situada defronte do Quartel de Cavalaria e dum coreto histórico construído no passeio central da avenida 24 de Julho. Nesta escola, onde fiz os primeiros dois anos, era prática forçarem-nos a beber óleo de fígado de bacalhau,
uma mistela horrorosa que tragávamos a custo pois só assim teríamos direito aos lanches que a Caixa Escolar proporcionava aos mais carenciados, que éramos quási todos, os 80% de negros e os 20 % de brancos, mulatos, indianos e chineses.
Do alto da colina, sobranceira ao Estuário Espírito Santo, registo que assisti a um dos maiores incêndios da minha vida que consumiu por completo as Estâncias das Madeiras avizinhando-se perigosamente dos enormes depósitos de gasolina da Shell e da Caltex. Foram horas de luta heróica e determinada para controlar as chamas, envolvendo várias corporações de bombeiros da cidade e umas centenas de civis que, com tiras de lona, ramagens de árvores e tábuas na mão, fustigavam o capim procurando debelar pequenos focos de labaredas que se aproximavam ameaçadoramente dos depósitos de combustíveis. Felizmente o incêndio foi dominado, evitando-se uma catástrofe de proporções incalculáveis.
Dessa colina, onde ia com frequência depois da escola, sentava-me num murete a espiar a atividade dos navios que entravam e saíam do porto. Certa tarde, observei fascinado um hidroavião Catalina a poisar no rio, deixando atrás de si um rasto de ondulação, em forma de “V” que se alongou indefinidamente até a aeronave se imobilizar defronte do Cais de Petroleiros da Matola.
Mal imaginava que anos mais tarde, aquele estuário viria a tornar-se o meu espaço de trabalho, que vim a investigar minuciosamente durante vários anos, como Técnico de Hidrografia da Brigada de Estudos e Construção do Porto de Lourenço Marques, desde os rios Matola, Tembe e Umbelúzi até às ilhas Xefinas, Inhaca e Foz do rio Maputo.
Passando para o Hóquei em Patins.
Onde é que deste as primeiras sticadas… e ganhaste os primeiros jogos?
As primeiras sticadas, dei-as na Rua João de Queirós, junto ao colégio Pedro Nunes que frequentei mais tarde. Ali viviam os meus primos Alves Teixeira, outra ninhada de oito ”pintos”, três dos quais eram sensivelmente da minha idade, o Manecas, o Ramiro e o Orlando. Até certa altura foram a minha segunda família com quem convivia todas as tardes. Com os mais novos e outros da vizinhança, formámos um Clube de futebol de bairro, os “Big Boys”, cujo campo se situava junto da Escola Técnica Comercial e Industrial. Por ali passaram companheiros meus do hóquei em patins e outros desportos.
Grupo do “BIG BOYS”, onde se vê o Bouçós, 3º a contar da direita e o Moreira por detrás do que tem a bola.
O hóquei praticado na rua era de sapatilhas, com stiques (ou sticks se desejarem) de hóquei em campo e bolas de ténis perfuradas e “injetadas” com areia e dois pares de pedregulhos a servir de balizas. Poucos carros passavam por ali e os jogos eram entusiasticamente disputados, transformando-se em grandes palhaçadas, sem vencedores definidos e por vezes com acidentes sérios. Foi o que sucedeu comigo. Uma das regras improvisadas era a dos penalties que seriam marcados do eixo da rua contra um adversário postado defronte dum portão, cujas colunas serviriam de postes.
Num dos jogos, o meu primo Orlando, colocando a bola no local certo, alardeava um sorriso sádico, a preparar-se para marcar o penálti ao irmão. Antecipando uma bolada em cheio no trombone do Ramiro que saltitava de cócoras, à sua frente, armado em guarda-portão. Pus-me por detrás dele para não perder pitada da cena e nem sequer vi chegar o stique que o desajeitado do Orlando, estilo jogador de golfe, fizera rodar sobre o ombro. Fiquei estendido, a sangrar por tudo quanto era nariz.
Grande agitação e só me lembro de ter chegado a casa, nos braços do pai Teixeira e de um outro adulto que presenciara a cena. Ainda não me tinham largado e a minha querida Mãe, ao ver-me todo ensanguentado, atirou-me logo um par de bofetadas. Ela reagia assim, nervosíssima, imaginando logo as malandrices em que me teria metido, mas depois, comigo já lavado e deitado, era toda carinhos e meiguices, a programar uma ida ao hospital, logo pela manhã, porque o meu nariz estava torto e inchado e ela temia um apêndice à “boxeur”. Mas isso é outra história. O facto é que esta desventura terminou de vez com a minha carreira no hóquei em campo.
Quais as primeiras vitórias que te ficaram na memória?
Sem dúvida, as que me levaram à conquista do Campeonato de Júniores, o primeiro levado a cabo pela Associação de Patinagem de Lourenço Marques e, no ano seguinte, o Campeonato de Reservas, ambos ganhos pelo SNECI sem derrotas. Foi excitante receber as primeiras medalhas comemorativas dessas provas que também incluíram os Torneios de Abertura, de Preparação e de Encerramento. Aos 16 anos já tinha amealhado umas poucas.
Quem foram os teus primeiros ídolos?
Os componentes da Seleção Nacional Campeã do Mundo que nos visitou em 1949, para inaugurar o então rinque novo do Grupo Desportivo de Lourenço Marques, a ver: – Emídio Pinto, Edgar Bragança, António Raio, Coreia dos Santos e Vasco Velez. Foi este que me impressionou sobremaneira, com o seu domínio de bola, um “dribbler” nato e desconcertante, de tal modo que me mantive focado nele procurando absorver todos os seus truques.
Quem foram os teus treinadores?
Quais os treinadores que mais te marcaram?
Armando Lima de Abreu, o Obreiro.
Nenhum… Entravam mudos e saíam calados, com exceção do meu/nosso primeiro treinador, o sempre presente Armando Lima de Abreu, que não só organizou a miudagem que por ali andava todos os dias, como fundou a Associação de Patinagem de Lourenço Marques, APLM, dando origem aos Campeonatos Distritais oficiais de Júniores “A”, “B” e “C” do SNECI, Sindicato Nacional dos Empregados do Comércio e da Indústria.
Juniores do SNECI
Em cima: Sobral, Cordeiro, Mim.
Em baixo: Edward Warne, Marciano Nicanor e Augusto Marques.
A equipa “A” que era constituída pelo guarda-redes Raul Mateus, o Sobral de Almeida, o Cordeiro, eu e o Augusto Marques (Ratinho) venceu o primeiro Campeonato. No ano seguinte subimos às 2ªs Categorias das quais nos sagrámos campeões. Seguidamente, passei para a categoria de Honras, onde permaneci, se bem que, quando era júnior, tivesse sido chamado um par de vezes para alinhar com os adultos que constituíam a “velha guarda” de então.
Com os séniores do SNECI
Em cima: Armando Cardoso, Armando Silva, Boneco.
Em baixo: Marques Pinto, Marciano Nicanor e Mim.
Quais os seleccionadores que mais te marcaram?
O Emídio Pinto. Foi “primus inter pares”, um homem extraordinário pela sua cultura e eloquência, pela maneira inteligente e grande dose de psicologia com que abordou a integração dos jogadores moçambicanos no seio da Selecção Nacional. Bem vistas as coisas, 4 metropolitanos perderiam o lugar, mas se alguém prognosticou uma tarefa difícil para o Emídio, acabou por errar. Sob a sua batuta despretensiosa, coadjuvado pelo impagável António Henriques, criou-se uma irmandade, uma coesão notável e uma genuína amizade que prevaleceu ao longo dos anos e de que guardo gratas recordações. Recordo esse grupo que conquistou o Mundial de 1958, realizado no Porto: Alberto Moreira e António Matos, Edgar Bragança, Fernando Adrião, Eu, Amadeu Bouçós, Carlos Bernardino, Mário Lopes, José Vaz Guedes e Trabazos.
Seleção Nacional no Mundial de 1958 – Apoteose.
Em cima: (?) , Trabazos, António Henriques, Gaudêncio Costa, Olivério Serpa, Emídio Pinto, Perdigão, Bouçós, Nelson Soromenho, Mim, Adrião.
Em baixo: Matos, Moreira, Vaz Guedes, Mário Lopes, Bernardino e Edgar.
Tenho de mencionar também a dupla António Raio e Cipriano dos Santos e o grupo que venceu o Mundial de 1960 que teve lugar em Madrid: Alberto Moreira e António Matos, José Vaz Guedes, Fernando Adrião, Eu, Amadeu Bouçós, Carlos Bernardino, Pompílio Silvestre e Rui Faria.
Seleção Nacional no Mundial de 1960.
Em cima: Rui Faria, Tito Moreira Rato, Adrião, Mim,Vaz Guedes e Bouçós.
Em baixo: Pompílio, Virgílio, Moreira, Carlos Bernardino e Vítor Domingos.
Finalmente, não posso deixar de fazer uma referência ao inesquecível Jesus Correia e ao grupo que liderou no Mundial de 1964, em Barcelona onde só lhe pudemos oferecer o título de Vice-Campeões do Mundo: Alberto Moreira e Licínio Barros, José Vaz Guedes, Fernando Adrião, Eu, António Livramento, Manuel Carrelo, Leonel Fernandes e Abílio Moreira.
Seleção Nacional no Mundial de 1964.
Do topo: Nelson Soromenho, Moreira, Jesus Correia, Vaz Guedes, Adrião, Abílio, (?), Livramento, (?), Manuel Carrelo, Tavares, (?), Leonel Fernandes, Mim, (?), Licínio, (?).
Todos os Selecionadores Nacionais que me convocaram, deixaram marcas indeléveis, cada um no seu estilo próprio, despretensioso. Faziam parte do grupo com seu humor e simplicidade, o que não admira pois foram todos Campeões do Mundo e conheciam bem as ansiedades dos atletas dada a sua própria vasta experiência. Curiosamente, e sem excepção, tornaram-se nossos ídolos quando éramos juniores, ao aparecerem na longínqua Lourenço Marques, deliciando-nos e lançando as sementes a sua classe que, como se verificou posteriormente, não foram desperdiçadas.
Seleção Nacional de1964 (treinos).
Em cima (Sel. Nac.): – Jesus Correia, Tavares, Abílio, Manuel Carrelo, Licínio, Livramento, Leonel Fernandes, Moreira, Vaz Guedes, Adrião, Mim, Padre Miguel.
Em baixo: (Equipa dos Salesianos).
Quais os feitos mais importantes na tua carreira?
O maior e mais importante foi conciliar a minha carreira profissional com a desportiva, não deixando que esta prejudicasse a outra. O setique estampado na testa perseguiu-me sempre lá no nosso burgo. Nem os meus familiares sabiam a profissão que exercia. Não me ralava, claro, mas sentia que os meus conterrâneos, ao cruzarmos nas ruas, viam logo um rinque de hóquei e um patinador desvairado a correr atrás de uma bola. –“Então, vamos ganhar hoje?”… ou “Velasco, 7 a 0, no mínimo!”. Atiravam, cumprimentando-me simpaticamente…
O carinho permanente dos adeptos.
Por vezes, sentado pelas 15 horas da tarde no Café Continental, ou outro, era saudado por qualquer um – “Boa vida, esta dos nossos campeões!” Sorria e correspondia, mas não tinha de explicar nada. É o preço que se paga pela popularidade. Mal sabiam que na noite anterior, depois de acabar uma partida de hóquei, vestira-me rapidamente para comer algo e seguir para a Brigada de Portos a fim de pegar a embarcação e deslocar-me para um ponto da baía onde teria de participar na localização do local onde andávamos a fazer perfurações geológicas. Obviamente, findo o trabalho, executado durante a manhã, não regressava a casa para dormir, almoçava na baixa e procurava umas das várias tertúlias de amigos, para uns dedos de conversa. Se dormisse durante o dia ficaria acordado ao longo da noite. Simples como isso!
Selecção de Moçambique em Montreux.
Em cima: António Souto, Abílio Moreira, Mim, Adrião, Bouçós e Manuel Carrelo.
Em baixo: Romão Duarte, Passos Viana, Moreira e Vítor Rodrigues.
A coisa agravava-se a nível das chefias e a decisão de fazer a minha festa de despedida aos 26 anos de idade, deveu-se em parte a um acontecimento que me deixou perturbado. Tínhamos acabado de vencer o Torneio de Montreux e de ganhar o Campeonato do Mundo, realizado no Porto, quando fui surpreendido por uma nota de culpa publicada num jornal local, em que a Associação de Patinagem de LM, me visava em particular. Não tinha recebido qualquer notificação prévia e as acusações eram absolutamente alucinatórias. Fiquei estupefacto e nem quis crer no que li, até porque estas foram emanadas pelo Presidente e o Vice-Presidente da APLM, este último meu chefe directo na Brigada de Portos, o saudoso Engº Alcântara Santos.
Naturalmente aborrecido com o efeito que a nota de culpa causaria na cidade, abordei o meu chefe numa sala onde ambos tínhamos as nossas secretárias e alertei-o que iria defender o meu bom nome. Como se tratava de uma querela desportiva perguntei-lhe se uma acção judicial contra a APLM não iria provocar uma retaliação na minha carreira profissional. Garantiu-me que não, que “conhac era conhac e que vinho era vinho!”. E, como sucedeu, foi homem de palavra.
Abalei imediatamente á procura de um bom advogado da praça que encontrei na pessoa do Dr. Daniel de Sousa. Sem entrar aqui em detalhes de toda a história, esclareci o distinto causídico, manifestando o meu desejo de ser ressarcido de danos morais e materiais e apresentei como testemunhas a meu favor, todos os componentes da Seleção de Moçambique. Dias depois, estes compareceram e prestaram os seus depoimentos, refutando todos as acusações que constavam na nota de culpa. – “Está ganho!” – Exclamou, o Dr. Daniel de Sousa, com ar brincalhão e satisfeito com a presença daquele lote de campeões que tinham vindo animar os seus escritórios, sob o olhar curioso das dactilógrafas.
Sob a ameaça do tribunal e posterior interferência do Governo, o caso foi encerrado pois tratava-se do ineditismo de uma questão desportiva poder vir a ser dirimida naquela instância o que, naqueles tempos, o regime não permitiria. Todavia, insisti que tinha direito a dar uma resposta no mesmo jornal, na mesma página, com o mesmo realce e tipo de letra. Foi-me concedido esse direito e escrevi um longo esclarecimento que o meu colega de equipa, Eduardo Passos Viana fez publicar na íntegra no jornal “Tribuna”, se bem me recordo.Ora, a preocupação com este estado de coisas “Profissão versus Desporto” sofreu outro abalo que fizeram tocar as campainhas de alarme no meu cérebro. O Engº Eduardo Dias Barbosa, Chefe da Divisão de Estudos e Construção de Portos, chamava-me à sede, por vezes, para trazer cartas dos levantamentos que necessitava e, num dia em particular, estavam reunidos no seu amplo gabinete os Engºs Chefes das várias Brigadas de Moçambique, inclusive os Engº Evaristo e Engº Alcântara Santos, Presidente e Vice-Presidente da APLM. Quando entrei, estranhei o silêncio súbito que se verificou na sala, repleta de personalidades. Menearam as cabeças quando os cumprimentei e aproximei-me da secretária do Engº Chefe onde coloquei o rolo das cartas solicitadas, aguardando instruções. Sem tirar os olhos do que estava a escrever, o Engº Barbosa mandou a seguinte boca:- “Ele está aqui… porque não falam agora?”.
O que poderiam ter estado a conversar, a pontos de todos se terem calado com a minha entrada, não teria sido seguramente coisa lisonjeira. Pensei no cenário eventual de um dia poder ser transferido para um dos outros Portos e ter um desses Engºs chefes com um pé atrás, o que seria natural face ao que tivessem ouvido acerca da minha pessoa. Suspeito que se tratava da questão da nota de culpa, e a resposta demolidora que me foi permitido dar.
Mas mesmo assim, todos os funcionários da DEC, Divisão de Estudos e Construção, prestaram-me uma homenagem no Restaurante Zambi, que calou fundo, demonstrando a boa camaradagem existente naqueles Serviços. Sai de lá com várias prendas e um Rádio gira-discos Grundig, último grito na altura. Todas as divergências desportivas anteriores esfumaram-se e o bom relacionamento entre todos perdurou no futuro.
Homenagem no Restaurante Zambi dos funcionários da DEC.
Mim, à direita do Chefe da Divisão de Estudos, Engº Eduardo Dias Barbosa, de casaco branco e monóculo, rodeado de todos os colegas que se dignaram comparecer.
Como jogador, quais os adversários (equipas e jogadores) que mais temias?
Inicialmente, a equipa do Clube Ferroviário de Lourenço Marques nas épocas de 1951/1952 e 1952/1953 composta por António Martins, Joaquim Miguel, Acúrcio Carrelo, António Candeias e Besteiro, 90% oriundos da Metrópole, os dois primeiros ex-campeões mundiais, que dominaram o cenário local durante dois ou três anos, contribuindo para pôr à prova a tenacidade competitiva da equipa do SNECI, onde militavam o Alberto Moreira, o António Souto, o José Souto, Eu e o Amadeu Bouçós.
Equipa do Ferroviário – Seniores.
Em cima: Brandão, Nogueira, Mim, Carrelo.
Em baixo: Agostinho, Fonseca, Moreira e Júlio Carneiro.
Objetivamente, o Ferroviário, sendo um obstáculo a superar, contribuiu inegavelmente para o progresso da modalidade e só foram destronados pela equipa do SNECI na época de 1953/1954 que passou a dominar todas as outras. Sem derrotas nesta época, ficou aberto o caminho para a Digressão à Metrópole que veio a verificar-se em 1955, a primeira realizada por uma equipa de Hóquei em Patins.
A comitiva do SNECI à chegada ao Porto.
Posteriormente, a equipa do Sport Lisboa e Benfica, com o famoso trio composto pelo Fernando Cruzeiro, José Lisboa e Domingos Perdigão.
Equipas do SNECI e S. L. Benfica em 1955.
Em baixo (Equipa do SNECI): Mim, Adrião, António Souto, Salvador Calado, Bouçós, Moreira, Carlos Ponte, Cabral de Almeida e José Souto.
Mas de todos os adversários, os mais temíveis foram as várias Selecções de Espanha que defrontei, em especial a formada pelo Carlos Largo, Juan Zabalia, Francisco Boronat, Juan Orpinell, Manuel Puigbó, Pedro Gallén e Enrique Roca. Formaram um estrelato muito organizado e mortífero, que nos mantinha em sentido e alerta, obrigando-nos a pôr em campo, permanentemente, todos os nossos recursos criativos, pois qualquer descuido seria fatal.
Selecção de Espanha.
Em cima: (?), Gallén, Parellá, D. Platon, Orpinell, Boronat, (?).
Em baixo: Puigbó, Zabalia, Largo e Roca.
Fala-nos sobre as diversas Seleções que integraste:
Integrei várias, a ver:
- 1953 – Selecção de Lourenço Marques x Sport Lisboa e Benfica, na inauguração do segundo rinque do GDLM.
- 1955 – Selecção Nacional que disputou o Mundial em Itália – 3º Lugar.
- 1956 – Selecção Nacional para a Taça Latina em Itália – Vencemos.
- 1957 – Ferroviário (3) vs Selecção da Catalunha (4).
- 1957 – Misto de Lourenço Marques (4) vs Selecção da Catalunha (3).
Selecção de L. Marques
Manuel Carrelo, António Souto, Fernando Adrião, Alberto Moreira, Alfredo Bettencourt, Mim e José Souto a ocultar um Amadeu Bouçós atrasado, minutos antes do jogo contra Selecção da Catalunha.
- 1957 – Selecção de Lourenço Marques (5) vs Selecção da Catalunha (1).
Apoteose.
Em cima: Enfº Magno, Dir. Armando Silva, Adrião, Mim, Amália Rodrigues, Sel. Lima de Abreu, José Souto e Carrelo.
Em baixo: Alfredo Bettencourt, Moreira e Bouçós.
- 1957 – Selecção da Beira (1) vs Selecção da Catalunha (2) – Perdemos (De realçar que a Selecção da Catalunha era a Campeã da Europa).
- 1957 – Selecção de LM vs Torneio quadrangular do Porto – Vencemos.
- 1957 – Selecção de LM vs Torneio quadrangular de Lisboa – Vencemos.
- 1957 – Selecção de Lourenço Marques (5) vs Sport Lisboa e Benfica (1).
- 1957 – Selecção de Lourenço Marques (7) vs Selecção de Lisboa (1).
- 1958 – Selecção de Moçambique para o Torneio de Montreux – Vencemos.
- 1958 – Selecção Nacional que disputou o Mundial no Porto – Vencemos.
- 1958 – Selecção Nacional para a Taça Amizade – 1vitória e 1 derrota.
Selecção Nacional (Taça Amizade).
Em cima: Mim, Edgar Bragança, Carlos Bernardino e Rui Faria.
Em baixo: Virgílio, Moreira, Matos e Bouçós.
- 1959 – Selecção Nacional disputa Torneio Internacional em Lisboa – Vencemos.
Torneio Internacional em Lisboa
Em cima: Vaz Guedes, Carlos Bernardino, Adrião e Mim.
Em baixo: Perdigão, Moreira, António Matos e Bouçós.
- 1959 – Selecção Nacional que disputou o Europeu em Généve – Vencemos.
- 1960 – Selecção Nacional que disputou o Mundial em Madrid – Vencemos.
Campeões do Mundo em Madrid
Visíveis: Pompílio Silvestre, Mim e Amadeu Bouçós.
- 1964 – Selecção Nacional que disputou o Mundial em Barcelona – Vice-Campeões.
Recorda-nos aquela fabulosa equipa do SNECI, sem esquecermos a do Ferroviário…
O SNECI foi um caso “sui generis”. Passaram pelas suas instalações umas dezenas largas de praticantes que com o tempo foram-se espalhando pelos diversos clubes da cidade. Todos gostavam de jogar hóquei e por decisão própria rumaram para onde pudessem fazê-lo. Os mais seguros das suas capacidades foram ficando até que o grupo se solidificou por alturas de 15953/1954 quando o plantel efectivo era o seguinte: – Alberto Moreira, António Souto, José Souto, Eu e Amadeu Bouçós. Os restantes companheiros eram o Salvador Calado, Armando Cabral de Almeida e Carlos Ponte.
Esta foi a equipa de Hóquei em Patins moçambicana, em que foi integrado o Fernando Adrião, do Grupo Desportivo de Lourenço Marques, que realizou a primeira digressão à Metrópole em 1955, surpreendendo os amantes desta modalidade e uma imprensa sua conhecedora e exigente, que não regateou referências elogiosas nos seus jornais. A digressão saldou-se positivamente, abrindo a porta a futuras façanhas de cinco dos atletas que a compuseram e que culminaram na conquista de vários títulos Europeus e Mundiais.
Quadro dos resultados da Digressão do SNECI em 1955.
O Clube Ferroviário de Lourenço Marques é um caso aparte. Tendo-me desligado do SNECI, após a digressão pela Metrópole, e passado a época de 1955/1956 na Beira, de volta à capital, ingressei na Divisão de Estudos e Construção de Portos dos Caminhos de Ferro. Como é natural, inscrevi-me na Secção de Hóquei do Clube e nesse ano de 1956, aceitava o convite para ser treinador das equipas séniores e simultaneamente jogador da equipa principal.
Mim, no jogo Ferroviário vs Espanha (3-4), a ser travado por Boronat.
Foi o início de uma nova fase da minha vida desportiva, tendo sido despertado para o fenómeno desportivo na sua globalidade, o que me obrigou a longas horas de estudo e reflexão sobre as metodologias do treino. Exerci seriamente a função de jogador/treinador desde 1956, sem nenhum problema, até meados de 1961 quando embarquei para Timor.
A dedicação, para não dizer paixão, posta nesse complexo cargo em nada prejudicou o meu rendimento como jogador, como se comprova pelo facto de nesse período ter conquistado todos os títulos Internacionais possíveis.
Ainda em Moçambique, recordo-me como foste inúmeras vezes elogiado. Será que existiram clubes em Portugal interessados em ti?
Os elogios foram os que foram, lisonjeiam, mas não alteraram a minha maneira de ser. Acima de tudo ajudaram-me a reconhecer que percorria o caminho certo, em busca de patamares de excelência que deve ser o objetivo de todos os atletas. Serviram como uma espécie de “feed back” inconsciente, motivando-me nos treinos e nos jogos de modo a superar-me e poder dar o melhor de mim porque as espetativas dos que nos apreciam e apoiam, é exatamente isso que esperam.
Existiram contactos, tanto eu como o Adrião fomos convidados para uns almoços que ambos aceitávamos por curiosidade. Eram clubes de monta que seria uma honra representar, com situações aceitáveis, mas o desfecho era sempre o mesmo, pois o nosso pensamento e afinidades estavam em África. Delicadamente, dizíamos que iríamos pensar mas logo no dia seguinte telefonávamos a declinar o convite por razões que tinham a ver com os laços familiares.
Descreve os companheiros de equipa com quem mais gostaste de jogar:
Em geral, era-me indiferente com quem jogava. Sentia o mesmo prazer quer tivesse “troncos” na equipa, quer estivesse rodeado de “trutas”. Não sei como explicar, mas posso dar exemplos. Aquando do Grupo Desportivo Lusalite do Dondo, a minha equipa era constituída pelos meus colegas da fábrica, incluindo o próprio Director-Geral, iniciados neste desporto. Mas a paixão pela prática do hóquei em patins era a mesma que me animava e isso foi suficiente para empenharmo-nos nos treinos e curiosamente vencermos o Campeonato Distrital da Beira, contra todas a s hipóteses dado que o verdadeiro candidato era o Clube do Búzi, cheia de jogadores experientes, vindos da Capital. Realço que a Selecção da Beira, de que fiz parte com os jogadores do Búzi, derrotou o Paço d’Arcos, Campeão Nacional por 5 a 3, num jogo memorável. Recordo também que o Paço d’Arcos passou literalmente a fio de espada, todos os Clubes e Selecções de Lourenço Marques que enfrentou.
Agora, estar rodeado pelos Moreira e Matos, pelos António e José Souto, pelo Adrião, Edgar Bragança, Vaz Guedes, Bouçós e Livramento e jogar com eles, em provas internacionais era coisa de outra galáxia, muito stressante, mas que dava mesmo bastante gozo.
Mundial de 1964.
Fase de jogo: Mim e Livramento ao ataque.
Todavia, em termos de uma prática tranquila da modalidade, nada como o Clube Ferroviário. O regresso às competições locais, com os companheiros Alberto Moreira, Fonseca e Raul Gonçalves, Nogueira, Labistour, António Brandão, Manuel Carrelo, Agostinho, Amílcar Passos e Júlio Carneiro, era o retorno à tranquilidade, sem conflitos, produto de uma disciplina e filosofia competitiva inovadora. Como treinador exigente nos exercícios de preparação e muito falador nas explicações dadas nos treinos, quedava-me mudo nos jogos, jamais dando qualquer indicação ou ordem no decorrer do mesmo, nem tampouco criticando os meus colegas dentro do campo. Tudo o que podia dizer já fora dito nos treinos e agora que se amanhassem. Quaisquer recomendações porventura necessárias eram feitas no balneário antes do jogo ou no intervalo e, a partir daí, eu passava a jogador pleno.
Não tenho dúvidas em afirmar que a equipa do Ferroviário, durante um par de anos, praticou o melhor hóquei possível, vencendo sistematicamente todas as equipas que defrontou e ganhando a maior parte dos torneios e provas realizadas. Em abono da verdade, a única equipa com quem perdemos mais do que ganhávamos foi a do SNECI encabeçada pelo Bouçós, o “Furacão do Hóquei em Patins”.Como o nosso trio da frente, Manuel Carrelo, Eu e Júlio Carneiro, era virado essencialmente para o ataque, estávamos sujeitos ao contra-ataque mortífero de Bouçós que ultrapassava o elo mais fraco da nossa equipa, sem desprimor, o defensor mais recuado e nem o Moreira na baliza parava os tiraços bem apontados do Amadeu.
Em meados de 1961, fui para Timor e em 1962 o Clube Ferroviário foi conquistar o Campeonato Nacional à Metrópole, o primeiro ganho por um Clube Moçambicano, tendo o Júlio Carneiro sido considerado um dos melhores jogadores da prova, ele um júnior que chamei para o meu lado.
Depois, a passagem para outro “capítulo”, a ida para Portugal e a tua atividade desportiva em Portugal. Conta-nos ao pormenor o que é que aconteceu e até onde foste:
De uma forma mais abrangente diria a minha vinda para a Europa, incluindo Portugal, obviamente. Uma coisa era vir para jogar e outra para viver. Foi uma sensação estranha desembarcar acompanhado de minha esposa e do meu filhote, sem saber o que o destino me reservaria. Em grande desconforto pela falta da mão dextra, perdida num acidente de trabalho e cheio de preocupações, evitava sempre que elas se alastrassem aos meus. O que faria para sustentar a família? Quem me empregaria naquele estado, aos 45 anos de idade, numa altura da conjuntura nacional em que as coisas eram difíceis?
No meu íntimo albergava a hipótese de atuar como treinador de hóquei em patins, a tempo inteiro, uma miragem que cedo se desfez. Pensei nisso não como recurso de última hora, mas sim porque me considerava habilitado, dados os antecedentes. Primeiro, como bom topógrafo, lancei uns azimutes e fui parar a um apartamento de Paço de Arcos, uma vila que conhecia bem do passado.
Como não era pessoa para ir para os rinques à espera de uma “chicotada psicológica”, acção extremamente degradante, mas muito em voga, que criasse uma vaga, optei por exercitar em casa a minha canhota, pondo em ordem os meus apontamentos. Quando terminei o manuscrito já conseguia escrever razoavelmente com os dedos da mão que me restou. O manuscrito resultante acabou por ser transformado num pequeno livro que a Editorial Presença lançou no mercado.
Eventualmente as coisas aconteceram com naturalidade, fui convidado para treinar o Grupo Desportivo de Oeiras, meses depois para assumir o cargo de Selecionador Nacional de Angola e, em 1982, durante o Mundial de Barcelos para ir treinar o Hockey Clube de Monza. De regresso a Portugal, depois de uma passagem de duas épocas por Tomar, concluí que não havia futuro nem estabilidade no exercício da função de treinador. Os clubes por onde passei eram autênticos “sobados” disfuncionais, com os seus dirigentes a brincar aos Agentes Desportivos. Girei o óculo do teodolito, e dei novo rumo à minha vida, se bem que acompanhe o que se vai passando no universo da modalidade.
Hoje, ao olhares para todo um percurso de vida desportiva, o que recordas com maior saudade?
A emoção da prática da modalidade, dos treinos e dos jogos, a recordação de como um grupo de companheiros, vindos do fim de África, revolucionaram o Hóquei em Patins a nível mundial, dominando-o durante uma década. Sinto orgulho de ter feito parte desse grupo que trouxe imensas alegrias ao povo Português, “d’aquém e d’além-Mar”, perdoem-me o plágio, povo esse que nos acarinhou e estimulou por onde quer que andássemos, literalmente. Em Timor, fui reconhecido e saudado por alguns timorenses… Saudades imensas!
Em Lourenço Marques
Foi o fim do mundo! Sinto enorme dificuldade em descrever a entusiástica recepção que se verificou. Á nossa espera estavam altas figuras do governo, dirigentes com as suas delegações desportivas alinhadas para nos saudar, o mar de gente que nos rodeou no aeroporto de Mavalane, que acompanhou a comitiva até desembocarmos na praça do Mouzinho de Albuquerque, repleta de pessoas que nos aguardavam e que entraram em delírio quando assomámos às varandas do edifício do Município. Os saraus, os desfiles que se seguiram, numa manifestação de orgulho e carinho por todos nós.
A recepção no aeroporto Lourenço Marques…
E a alegria indescritível das pessoas que aguardavam na Praça Mouzinho de Albuquerque a aguardar que assumíssemos à varanda do Câmara Municipal…!
Vou terminar deixando este último espaço para aquilo que tu aches importante e que me terá passado, com certeza…
Para terminar, falarei agora de tristezas… não gosto do hóquei atual, de correrias loucas. Apesar das parecenças com o outro, não passa de uma mistela mal alinhavada que descaracterizou por completo uma modalidade que hoje tende a eclipsar-se. De um modo curto e grosso, direi que os “experts” que por aí proliferaram durante meio século, nunca estudaram como devia ser as “nuances” deste desporto e deixaram um vácuo desolador.
Consequência: – Ficou criada uma zona de tiro livre e os novos “especialistas?” avançaram, alterando as regras e criaram uma nova modalidade: Hóquei em Gelo sobre Patins. Uma vez apagadas as origens, são eles agora que sabem e espalham o seu saber pelo mundo, mas eu afirmo, sem ser um “Velho de Restelo”, mas considerando-me um presunçoso chato e um prego no sapato dos sabidos, que mesmo com uma nova modalidade, continuam a não perceber nada de hóquei em patins.
Realmente não considero este trabalho uma entrevista. É muito mais do que isso. Uma homenagem que é feita em nome de todos os que viveram aquela época brilhante do hóquei em patins moçambicano. Olho para a foto em que está uma multidão na rua a comemorar a conquista do Torneio de Montreux e dou comigo à procura da minha imagem algures no meio daquelas gentes moçambicanas, ou como eu costumo dizer: Gente Boa!
Ao Francisco Bélico Velasco, que por acaso também é Franco, aqui ficam os agradecimentos de todos aqueles que estão ligados ao www.bigslam.pt , certo de que esta homenagem vai chegar a todos os cantos do mundo, onde quer que exista alguém que fale a nossa linguagem.
Um abração!
Nota do BigSlam: Pode ficar a conhecer mais e melhor desta ilustre figura do Hóquei Patins nacional através do seu site: www.francisco-velasco.com
15 Comentários
Jose Carlos Sequeira Rosa
Revi-me na descrição que fez da juventude em LM. Quanto ao hóquei e dado que moravamos perto do sneci ia ver aqueles que honraram a nossa terra ao longo de muitos anos com grandes triunfos na modalidade. Bem haja. Um abraço da nossa terra.
Maria Faro
Como tu, nasci em Ribandar ,anos mais tarde e assisti aos teus jogos em Lourenço Marques. Até sempre Velasco.
Salvador Fontes
Sem comentarios meu jovem Chico pois tu es uma pessoa que eu sempre admirei pelo teu nivel e como pessoa Sem mais um abraco e ate qualquer dia SALVADOR CAMOSSA DE FONTES
Bruno Velasco
Olá, não pude deixar de reparar que o nome de um ancestral seu é Domingos Franco Bélico de Velasco que foi Cavaleiro da Ordem de Cristo. O Domingos foi filho de António Lourenço de Velasco (Cavaleiro Fidalgo da Casa Real) com D. Catarina de Azevedo. Ele era natural de Mazagão. António Lourenço era filho de João Lourenço Bélico (Cavaleiro Fidalgo) com D. Joana de Velasco. Domingos tinha três tios: Francisco Gonçalves de Velasco (Cavaleiro Fidalgo), Manuel Lourenço de Velasco (Cavaleiro Fidalgo) e João Lourenço Bélico Velasco (Cavaleiro Fidalgo). Irmãos do Sr. Domingos: Pedro Alves de Velasco (Fidalgo Cavaleiro) e José Joaquim de Velasco (Cavaleiro Fidalgo). Quando a Praça Mazagão foi abandonada em 1769, vários primos do senhor Domingos foram morar em Belém do Pará: Gaspar Correia de Velasco (Ordem de Santiago), Diogo Teixeira de Velasco (Escudeiro Fidalgo), Francisco Costa de Velasco, Joana de Velasco, Francisca Cotta Velasco. Além de D. Joana de Velasco e Leonor Pinho de Velasco, ambas filhas de Manuel Lourenço (tio de Domingos). Existem descendentes Velascos no Pará e eles têm parentesco com muitos dos que vieram de Portugal.
Esperança Marques
Olá Velasco, os meus parabéns pelo teu 84º aniversário sempre cheio de força. Sou a Esperança, casada com o Zé Brandão irmão do Brandão que está n fotografia com o resto do grupo.O meu marido, também hoquista, quando te encontrava em Queluz faziam uma festa. Acabei de ler, maravilhada, o teu percurso de vida e de deporto e mais uma vez te dou os parabéns pelo brilhante desempenho no Hóquei. Ainda foste apelidado o menino de ouro da modalidade. Fiquei contente por saber que tens 2 lindos netos, uma menina e um rapaz. São eles os herdeiros de tantos feitos pelo avô. Desejo que continues, tal como estás, por muitos mais anos.. SÊ feliz, agora e sempre. Abraço.
Esperança Marques.
António Campos
Velasco
Como me faz sentir saudade daqueles lugares que descreve do Alto Mahé, onde joguei futebol e também percorri vezes sem conta. Como me desperta o cheiro e o sabor daquele pão quente e estaladiço, da padaria do Alto Mahé com o talho ao lado e da Serrano junto à estrada do Zixaxa de onde gastávamos o pão. E da Mendonça Barreto com a Esquadra e a Foto Portuguesa onde todos os miúdos tiraram para a posteridade fotografias que em nada ficam a dever às que hoje se tiram. Da Munhuana onde fui baptizado pelo Padre Henriques e onde também comprei santinhos na casa Paroquial que ficava atrás da Igreja actual. Pois é Velasco pisámos, vezes sem conta o mesmo palco, desde a Paiva Manso ao Jardim 1º de Maio, em frente do qual andei no Liceu António Enes primitivo. Sem nunca nos conhecermos, por pertencermos a gerações diferentes. A outra razão tem a ver com o local onde os nossos pais trabalhavam, os Caminhos de Ferro que o levava a andar sempre com a casa às costas e a encontrar a cidade modificada cada vez que regressava à base. E foi numa dessas passagens pela longínqua Moatize que um dia ouvi na rádio que um Misto de LM tinha vencido a Selecção da Catalunha por uns contundentes 5 a 1. Regressando esse ano à capital para frequentar o Liceu onde tive como colega de turma o Rui Rodrigues que mais tarde rumou à Académica. Como eu me sinto orgulhoso por ter nascido numa terra de produziu dos melhores atletas que militaram no espaço português de então. E onde finalmente tive a felicidade de ver o Velasco a actuar numa partida extraordinária entre o Sneci no seu campo cimentado contra o Ferroviário. Numa disputa viril onde me ficou para sempre na memória a imagem do Velasco a atacar pelo lado direito a grande velocidade e a saltar como se calçasse sapatilhas. E dos jogos a que assisti no Malhanga sempre marcados por uma grande rivalidade e um amor extremo à camisola que vestiam. Mas para trás ficava o Torneio de Montreux em 58 e a emoção com que seguimos pela noite dentro os relatos dos jogos, em que a voz distante nos chegava aos ouvidos ondulante como a chama de um vela ao vento, deixou certamente em todos aqueles que como eu acompanhavam com grande ansiedade o desenrolar dos jogos, uma marca que ainda hoje perdura no nosso coração. E a memorável recepção que tinham à sua espera em LM desde Mavalane até onde a vista conseguia alcançar na Av de Angola. Naturalmente que espero encontrá-lo numa próxima reunião de Moçambicanos para lhe dar um abraço. E como já me estendi demasiado vou ter que terminar sem falar nos outros desportos onde produzimos também atletas de excepção. Fica para uma próxima oportunidade.
Um abraço
António Campos
Francisco Velasco
Caro António Campos
Só agora dei conta do seu desabafo que, apesar das nossas idades serem diferentes, expressa a nostalgia de uma vivência semelhante. Afinal, a nossa juventude palmilhou os mesmos caminhos da cidade mais desportiva de todo Portugal, sendo protagonista uns no campo e outros na bancada.
Como deves calcular, pessoalmente guardo gratas recordações dos jogos que mencionaste e pavilhões onde jogámos partidas inéditas que entusiasmavam os amantes do hóquei em patins que religiosamente partiam para os rinques a fim de apoiar as equipas dos seus Clubes preferidos. Só de recordar já cheira a Lourenço Marques com as suas avenidas e ruas arborizadas e coloridas, que nos protegiam do sol intenso e das temperaturas elevadas que nos mantinham suados o dia inteiro.
Enfim, todo o resto poderemos imaginar. Vai daqui um abraço e até um dia.
angelo c. o. soares
Os anos que passaram não só foram muitos, como altamente desgastantes, mesmo traumatisantes.
Mas algumas das recordações do Velasco, continuam bem vivas na memória de quem já fez
3X30.e assim se manterão enquanto a chama estiver acesa.
Andamos agora noutra onda, seguindo uma máxima que o Velasco bem conhece e praticou com exito: “quem luta pode perder,
mas quem nâo luta perde sempre”.
Visitando o item 66, do site espoliadosultramar, compreenderá onde queremos chegar e omo poderá ajudar..
Felicidades e um abraço. angelo soares
F Deus
Olá Velasco, um abraço do nando, filhio do Carlitos..
Permite-me enviar ao snr António oliva, um apágina sobre o Mlhanga.Obrigado
https://www.facebook.com/CDMClubeDesportivoDaMalhangalene?ref=hl
Joaquim Adriano Sá Silva
Amigo Velasco,
Rectifico: a casa da Rua de Nevala era do Sargento Medina e D. Germana (vizinhos da minha namorada na altura, minha companheira de sempre, de nome Milá que foi atleta do Malhanga – Patinagem Artistica com a “grande Lotte Cadenbach” (não sei se escreve assim) e basquete).
Abração
Virgilo cruz barbosa
Meu caro Quim,
Penso que ainda te lembras de mim. Que é feito de ti? Estive boa parte da tarde a ver a resportagem sobre o Velasco (só faltou falar sobre o “nosso” Malhanga”) Pois só agora a vi! Dá-me notícas pois gostava muito de saber. Um forte abraço e espero continuarmos o diálogo!
Virgilio (De Lourenço Marques)
Joaquim Adriano Sá Silva
Chico (Viola!?)
Era assim que eu te conhecia nos meios do hóquei daquele tempo. Tens uma memória de elefante!
E ainda bem porque a história/estória dos tempos de então quer gente assim!
De facto fiz parte da equipa do Malhanga (no meu coração sempre!) que sitas. Na balisa com o nome de “Adriano” (por semelhança ao do “Adrião”) onde fui substituir o Cardoso. Não te deves recordar de mim, na altura um miudo, mas estivemos juntos muitas vezes nos rinques de Lm e outras em casa do “velho” Germano que era meu vizinho e amigo no Bairro dos Sargentos na Rua de Nevala.
Quanto ao teu depoimento: EXCELENTE!
E muito obrigado por todas estas recordações!
Um grande abraço
António Oliva
Peço desculpa por me estar a intrometer num assunto para que não fui chamado. Atrevo-me a tanto por ter sido um dos muitos jovens (teria na altura uns 12/13 anos) que acompanharam com muita emoção toda a evolução desses 5 magníficos: Moreira na baliza, Souto na defesa e o famoso trio de ataque com o seu não menos famoso “carrossel”, constituído por Velasco, Bouçós e Adrião.
Mas o que me traz aqui é o facto de ter visto referido que o Adrião era do Desportivo. Acontece que a imagem que tenho do Fernando Adrião é de o ver com uma camisola azul e branco e não preto e branco. Ou seja: com as cores do Malhangalene e não do Desportivo. De resto, também jogou no Malhanga um irmão dele, mais novo, mas que não lhe chegava aos calcanhares. E julgo que o pai deles chegou a ser treinador dos filhos e que teria sido um grande guarda-redes de hóquei, no Benfica.
Só digo isto porque acho justo que também se fale do velho Malhanga pois tenho ideia de que os 3 grandes clubes de hóquei, em Lourenço Marques, eram o SNECI, o Ferroviário e o Malhangalene.
Presto aqui a minha singela homenagem a esses 5 verdadeiros heróis que escreveram a mais bela página do hóquei nacional.
Francisco Velasco
Caro António Oliva
Tem em parte razão e em parte não. O facto indiscutível é que o Adrião começou a dar os seus primeiros passos no Desportivo de Lourenço Marques, desde Juvenis até Séniores quando disputava o lugar ao Mário Lisboa, médio, que tinha no ataque o Romão Duarte e o Eurico Meneses (Babá). Foi nesta altura que integrou a equipa do SNECI, que fez uma digressão pela Metrópole. E é nesta perspectiva que ele é considerado no artigo. Mais tarde tanto o Adrião pai e filho, rumaram para o Malhangalene, onde permaneceram, e em 1957 a equipa azul e branco era formada pelo GR (não me vem o nome), Fernando Adrião, Artur Vicente, Armando Cabral de Almeida e Tomás da Rocha Silva Santos, estes três idos do SNECI. O José Adrião veio mais tarde e é injusto compará-lo com o irmão, mas que a meu ver foi um excelente jogador. O velho Malhanga era de facto um dos 3 grandes…
António Oliva
Prezado Francisco Velasco:
Muito obrigado pelo esclarecimento prestado. Realmente desconhecia os primeiros passos do Fernando Adrião no Desportivo talvez porque, em 1957 e já estando ele no Malhangalene, tinha eu 11 anos.
De qualquer forma, agradeço-lhe por se ter dado ao trabalho deste esclarecimento.
Os meus cordiais cumprimentos e admiração.