MOVIMENTO “PANTERA NEGRA”
Se ficarmos à espera que o Governo Moçambicano realize as devidas homenagens a Eusébio, é melhor esperarmos sentados. Ninguém, dos que agora se sentam pelas bandas do majestoso edifício construido na Av. Julius Nyerere, catalogado como sendo “símbolo da unidade (?)”, está interessado em mexer uma palha.
Talvez porque muitos entendam que não é o momento oportuno, ou porque não há motivo para isso, ou porque o “King”não fez nada por Moçambique, ou porque “ele era português e não moçambicano” ou porque uma simples mensagem do Chefe de Estado difundida pelos meios de comunicação social foi o suficiente, ou ainda porque não há tempo para pensar em homenagens quando as prioridades são outras como por exemplo as eleições legislativas e presidenciais, ou a necessidade de apagar o fogo como resultado desta guerra que muitos teimam em dizer que não existe, porque, segundo alguns, tudo não passa de ações de bandidos armados.
E perante este quadro o “promotor da paz” (Armando Guebuza) e o “pai da democracia” (Afonso Dlhakama), não atam nem desatam e deixam meio mundo à deriva, sem saber ao certo para que lado virar. As notícias do posicionamento dos homens armados da Renamo um pouco por todo o território nacional é preocupante. Alguém me disse que em Fevereiro, tudo isto vai acabar. Oxalá assim seja. Fevereiro está aí à porta. Quero vêr para crêr.
Gostava sinceramente que esta guerra fosse a “guerra de 1908” do saudoso Raúl Solnado.
Dado que esperar pelo Governo é perder tempo, outras instituições decidem meter mãos à obra e lá vão fazendo o que podem. Louvo iniciativas dum triunvirato formado por elementos da família de Eusébio, da Associação de Futebol da Cidade de Maputo e da Universidade Eduardo Mondlane.
Um encontro realizado no anfiteatro da Faculdade de Medicina da UEM permitiu reunir no mesmo local amigos e adeptos do antigo jogador do Sporting de Lourenço Marques, do Sport Lisboa e Benfica e da Selecção Portuguesa. Amigos de longa data que conheceram Eusébio, fizeram questão de relatar histórias do “rei” que um dia, aos 17 anos de idade e apenas com a terceira classe do ensino primário decide enfrentar outros mundos e afirmar a sua classe.
Histórias, na maior parte dos casos, desconhecidas do grande público e que vão ficar registadas, porque disso se poderá ocupar o Arquivo Histórico de Moçambique.
Como se isso não bastasse, houve “6 horas de futebol” no campo do Costa do Sol.
Cada um à sua maneira, com as suas sapatilhas (ou botas), com os seus calções e com a sua camisete, fez o gosto ao pé. Jovens, veteranos, todos na simples mas singela homenagem a Eusébio. Valeu a pena vêr os madalas, alguns já enferrujados porque a idade não perdoa, mas que mesmo assim demonstraram que quando se sabe do ofício, não se esquece.
Esta foi uma primeira iniciativa. Iniciativa oficial, digamos assim. Ao que sei outras haverá. Algumas delas, como foi sugerido, em ambiente informal. Iniciativas (algumas estão ainda no segredo dos Deuses) que vão continuar a juntar amigos, adeptos e membros da família de Eusébio. Nasceu assim o movimento “pantera negra”. Exactamente a 25 de Janeiro, dia em que Eusébio viu a luz do dia, na sua emblemática Mafalala, um dos locais históricos de Maputo e de Moçambique, e cuja bandeira “o rei” fez questão de transportar pelos quatro cantos do mundo.
PS: O Dr. Mário Soares em entrevista concedida após a morte de Eusébio, considerou o jogador como sendo “uma pessoa sem cultura”.
João de Sousa – 29.01.2014
Fotos das “6 horas de futebol” no campo do Costa do Sol, gentilmente cedidas pelo fotógrafo moçambicano Sérgio Costa, a quem o BigSlam agradece!