O BURACO
Zefenias é motorista numa empresa moçambicana com uma longa folha de serviços prestados. No seu processo pessoal constam louvores pelo trabalho que tem estado a desenvolver. Ao longo dos seus quase 30 anos de serviço nunca foi multado por transgressão ao código de estrada. Nunca provocou um acidente rodoviário. Os seus colegas costumam dizer que Zefanias pratica sempre uma condução defensiva. Pensa nele e nos outros.
A semana passada viu-se envolvido no primeiro acidente da sua vida provocado por uma das muitas crateras existentes nas ruas deste país. Circulava pelo prolongamento da Julius Nyerere em direcção à Escola Portuguesa de Maputo, quando de repente, para se desviar dum carro, acabou por enfiar a roda esquerda da viatura que conduzia num buraco e em consequência disso provocou um ligeiro dano no carro da sua empresa. Reportou o caso aos seus superiores hierárquicos. A culpa era do buraco e não dele. Como entender que uma avenida novinha em folha apresente tanto buraco junto. Que obra de engenharia é essa ?
Quando soube deste caso que envolveu o motorista Zefanias, lembrei-me dum texto que apareceu numa das redes sociais, de autoria de Samuel Zitha onde ele conta a peripécia por que passou. Naquela mesma via, próximo duma unidade hospitalar, conduzindo a 40 Kms/hora, quase provocava e sofria um um acidente de viação porque foi forçado a contornar buracos. Buracos numa estrada recém-construída de raiz, com fundos públicos obtidos por via de dívida. Mas o pior de tudo, como refere Samuel Zitha no seu comentário, é que o referido troço de estrada ainda não foi inaugurado, “com a pompa e circunstância a que V.Excias nos habituaram”.
Perante esta situação, Samuel Zitha lança numa das redes sociais, que alguns dos nossos governantes não gostam de ouvir falar delas, por “alienarem a nossa mente”, lança 4 perguntas, ainda sem resposta.
- Será normal que num país com escassez de recursos, se recorra a endividamento público para financiar obras com tão baixa qualidade? Será que o financiador ou o dono da obra ou o empreiteiro esperavam este tipo de estrada?
- Será normal que nem o dono da obra nem o empreiteiro tenham um pingo de respeito pelos pagantes de impostos em geral, e dos automobilistas em particular?
- Será normal hipotecarmos a condição financeira dos nossos filhos e netos com dívidas cujas aplicações hoje são questionáveis?
- Aonde está o zelo pela credibilidade e o bom nome do dono da obra e do empreiteiro?
Samuel Zitha, que tenho vindo a citar nesta minha crónica de hoje termina afirmando que “algo está errado com a qualidade das obras públicas” que por sinal não são nada baratas. Quem de direito precisa de reverter este descalabro! A actual qualidade das obras públicas envergonham qualquer cidadão com o mínimo de interesse pela coisa pública. Moçambique mereçe melhor do que isto!
João de Sousa – 16.04.2014
Um Comentário
Zeca Peixoto
PERGUNTO ?
De quem sera a empresa BRITALAR ?
Quem sera o DONO / ACIONISTA ?
QUEM ?