O DIA DOS NAMORADOS!
Imaginem só o que o meu amigo Estolano, embalado na onda das tolerâncias de ponto, queria que o Governo decretasse descanso laboral hoje, dia 14 de Fevereiro. Assim ao menos podia fazer a “ponte”. Tencionava viajar com a namorada para uma daquelas praias paradisíacas que temos. Inhambane, quem sabe. No Tofo talvez.
Já tinha ouvido dizer que com estes bombardeamentos todos, para mostrar ao mundo o nosso poderio bélico e a nossa capacidade de resposta, os complexos turísticos, geridos maioritariamente pelos sul africanos, estavam às moscas.
Enganou-se o meu amigo Estolano. Desta vez o Governo não foi nessa onda, talvez pelo conjunto de “reprimendas” que foram aparecendo aqui e ali e que fizeram com que alguém abrisse os olhos e chegasse à conclusão que afinal essa coisa de tolerâncias de ponto “sem rei nem roque” traz de facto prejuízos enormes à economia moçambicana.
Estolano não teve outro remédio, foi mesmo trabalhar. Um pouco a contra gosto, mas foi. E enquanto trabalhava, ou fingia que fazia alguma coisa, este manga de alpaca decidiu que o melhor era mesmo telefonar à sua Josefina (igualzinha àquela do Parafuso) e programar um jantar romântico à luz da vela, num dos botecos do seu bairro.
E teria de ser mesmo à luz da vela porque no local escolhido há muito que energia elétrica era coisa já extinta. Feniasse, o dono do boteco, estava-se nas tintas para “essas mordomias”. Para ele água era mais importante do que energia, porque “sem água não há vida”.
Sexta feira. A repartição onde Estolano trabalha está às moscas. A maior parte dos seus colegas (jovens na sua maioria) gazetaram. Estavam-se nas tintas para a tolerância de ponto que não foi decretada. Faltaram. Mas não vão apanhar falta, porque Estolano estava lá para desenrascar a situação, assinando o livro do ponto pelos faltosos. Ninguém vai dar por isso. Muito menos o chefe, porque esse foi o primeiro a avisar dizendo que “amanhã não venho, tenho uma reunião durante todo o dia com o senhor ministro”. Era assim que Josefate fazia. Sempre que precisava de dar uma fugida para tratar de assuntos pessoais, inventava reuniões com os seus superiores hierárquicos. Parece ser prática (felizmente não generalizada) em algumas das nossas repartições públicas.
Estolano decidiu passar o tempo desta sexta feira viajando pela internet. Queria fazer o “download” duma música para oferecer à sua namorada. Aquela música do Roberto Carlos “esse cara sou eu”, porque era uma música que definia bem o sentimento que Estolano sempre teve pela sua Josefina, porque afinal “pensava nela toda a hora, contava os segundos se ela demorasse, enxugava o seu pranto quando ela chorasse”.
Foi ao You Tube. Encontrou a música. Fez o “download”. Colocou num “pen drive”. É para ouvir no jantar romântico de mais logo. De repente lembrou-se que no boteco do Feniasse energia era coisa que não existia.
João de Sousa – 14.02.2014