O FUNDO DO POÇO!
Que a qualidade de ensino está no fundo do poço, disso ninguém tem dúvidas. Haverá excepções certamente, mas estas contam-se pelos dedos duma mão. A fraca qualidade de ensino leva certamente muitos dos nossos alunos, sejam eles da instrução primária ou até mesmo do ensino secundário ou superior, a escrever e a falar mal a nossa língua oficial.
Quando alguns de nós colocávamos o dedo na ferida em relação aos problemas do ensino no nosso País, éramos apelidados de “apóstolos da desgraça”. Como vão (ou estão) a ser apelidados os antigos ministros da edcucação que se fizeram presentes num encontro a todos os títulos louvável promovido pelo actual titular da pasta, Jorge Ferrão e que tocaram nas feridas ainda não saradas. Serão também “apóstolos da desgraça”? Na altura em que estavam “no poleiro” não eram.
A propósito de falar e/ou escrever mal português, vou contar-vos esta que vi num canal da nossa televisão. Uma renomada estilista do nosso País decidiu publicitar a sua actividade. Acredito que para isso tenha contratado uma agência de publicidade. Um dos aspectos a ressaltar nesse anúncio era o facto da estilista em causa se dedicar também a cursos de corte e costura. No anúncio a palavra COSTURA aparece escrita assim: “CUSTURA”. O erro é de autoria de quem escreveu. A agência que produziu o “spot” alinhou no erro bem como a estilista que pagou (e continua a pagar) pela inserção desta publicidade. No mesmo canal de televisão (escuso-me de referir o nome, por razões óbvias), um dos jornalistas chamou a Jacinto Filipe Nyusi, “presidente darpública”.
Um amigo meu, conhecedor da minha “obsessão” em escrever e falar correctamente a língua portuguesa pediu-me para passar nas imediações do Estádio da Machava, porque ali se pode ver uma pequena placa anunciando a venda de “mel purru”.
Outras anomalias são cometidas ao nível dos noticiários da nossa estação pública. O Ministério da Saúde tem estado a divulgar uma série de “spots” de natureza institucional, com conselhos para a época de verão que atravessamos. Alguns úteis mas outros não. Um deles (cito de memória) pede aos cidadãos, particularmente os que trabalham ao ar livre, que não se exponham ao sol entre as 10 e as 12 horas. Estes devem usar óculos de sol para evitar cataratas e passar pelo corpo, diariamente, um creme hidratante. Tudo isto num País em que a esmagadora maioria das pessoas (e dos ouvintes) é formada por camponeses de subsistência, que não têm dinheiro, muitas vezes, para comprar comida.
Os óculos escuros e o creme hidratante, para esta enorme camada populacional são, como dizia o amigo e colega Machado da Graça “o ponto mais alto do irrealismo”. A menos que se tenha de considerar que este anúncio do Ministério da Saúde é dirigido, única e exclusivamente a uma faixa citadina da população. É uma questão de “destinatário”.
Gostaria de estar errado: o que se passa com o ensino da disciplina de Português deverá ser a pontinha do “iceberg” da mediocridade que grassa no sistema de educação. Talvez o mesmo se esteja a passar com outras disciplinas exactas ou não, tais como a Matemática, Física, Geografia, História, Desenho, Inglês e muitas outras que compõem o menu escolar nacional. Se este mal perdurar por muito tempo estaremos a criar um novo tipo de deficiência: a intelectual, a juntar-se às físicas que infelizmente abundam no nosso País.
O falar e/ou escrever mal português tem levado a que eu me concentre nestas questões, sem pretender naturalmente ir ao cerne da questão, porque para isso não tenho habilitação nem capacidade suficiente. Outros haverá por este País capazes de escalpelizar o problema e encontrar soluções.
Que fique claro que não estou a travar luta nenhuma, nem tão pouco tenho a veleidade de poder vir a ser intitulado como “salvador da Pátria”. Aponto erros porque me parece importante trazer a público as barbaridades que estão a ser cometidas. Alguns consideram esta minha acção como sendo uma luta inglória? Será? Eu sempre ouvi dizer que “água mole …” E porque é assim, acreditemos na profética utopia de Jorge Ferrão
que defende que “temos de sonhar com uma educação de qualidade”. E sonhar não é proibido.
João de Sousa – 11.03.2015