OS DISPARATES
Em 2010, aquando da realização da fase final do “mundial das vuvuzelas” extraordinariamente bem organizado pelas autoridades sul africanas,
estava eu refastelado no sofá da minha sala de visitas em Pretória a ver e ouvir uma entrevista de Luís Inácio Lula da Silva à Rede Globo de Televisão.
Lula fazia (e quanto a mim muito bem) as mais variadas análises sobre o Mundial de Futebol daquele ano. Falou do Brasil e das dificuldades que o “escrete canarinho” iria encontrar (e encontrou) em terras de Mandela. Reconheceu o bom momento da Espanha, que acabaria por se sagrar campeã do mundo de 2010, elogiou o futebol praticado pela Holanda e não deixou de se pronunciar sobre a Argentina, a selecção “azul celeste”, eterna rival dos canarinhos, que, há 4 anos, tal como os brasileiros, acabou por ficar pelo caminho.
Devo dizer-vos com franqueza que não conhecia estes predicados do antigo presidente do Brasil relativamente ao futebol. Bem informado, com análises precisas. Um conhecedor do assunto.
4 anos depois, Luís Inácio Lula da Silva demonstrou ter perdido todos os predicados que tinha em 2010, no que à análise do futebol mundial diz respeito. Depois do afastamento dos ingleses desta Copa de 2014, o antigo presidente, numa cerimónia de confirmação do seu apoio à candidatura de Dilma Roussef para as eleições presidenciais de Outubro próximo no Brasil,
afirmou publicamente que “a Inglaterra foi afastada do Mundial porque não está habituada a jogar em grandes estádios”.
Um disparate sem tamanho. Com que então a Inglaterra não está habituada a jogar em grandes estádios ? Será que o Wembley, a “casa” da selecção inglesa, o maior estádio do Reino Unido e o segundo maior estádio da Europa não é um estádio grande ?
Ou será que Lula da Silva considera “estádios grandes” única e exclusivamente aqueles onde se estão a realizar os jogos deste Mundial ?
Como era de prever, esta opinião de Lula da Silva reproduziu-se de múltiplas formas.
Foi motivo de chacota em tudo quanto é jornal, rádio, televisão e redes sociais do Brasil e do Mundo. O antigo presidente do Brasil perdeu uma boa oportunidade de ficar calado.
Em matéria de disparates houve um outro que não resisto à tentação de reproduzir. Julián Ruiz, jornalista espanhol do diário El Mundo, atirou-se à organização do campeonato do mundo de futebol com unhas e dentes.
Depois do seu país (Espanha) ter sido derrotado pela Holanda (5-1) e pelo Chile (3-0) considerou, em crónica escrita no seu jornal, que “o motivo para a desclassificação da Espanha não é outro senão a péssima qualidade da Copa do Mundo do Brasil. É tudo por culpa da corrupção da Fifa e do Brasil, dos estádios cuja construção terminou em cima da hora e do calor e humidade insuportáveis”.
Será que o calor, a humidade, os estádios, a corrupção no Brasil e na Fifa, os protestos violentos da população em várias cidades brasileiras antes do início da competição, os problemas de segurança e outros, constituíram também motivo para o afastamento de Portugal, da Croácia, da Itália, da Rússia, do Chile, do Uruguai, do México, da Grécia, dos Camarões, da Costa do Marfim, do Ghana e de tantos outros países que já ficaram pelo caminho?
Enfim … opiniões que não deixam de ser disparates.
João de Sousa – 02.07.2014
Um Comentário
Zeca Peixoto
Meu Caro João;
A PAIXAO é por natureza IRRACIONAL.