OS MAMBAS
Andava ainda na Escola João Belo e já nessa altura me habituei a ir vêr jogos de futebol. Não propriamente os desafios do campeonato da então cidade de Lourenço Marques, porque para isso era preciso ter dinheiro para pagar o bilhete. Eu e outros “mufanas” como eu iamos vêr os jogos cuja entrada era “mahala”. Eram partidas das chamadas categorias inferiores (juvenis e juniores) que se realizavam aos fins de semana, no período da manhã. Acabavam os jogos e nada mais havia como recompensa, que não fosse o refresco e uma sandes. Era o tempo das escolas de jogadores Mário Romeu ou do Tubarão, para falar apenas destes. Hoje nada disto existe. É memória.
Depois veio o tempo da GOLO, onde me formei como relator desportivo, tendo como referência nomes sonantes da época como os de Amadeu José de Freitas ou Paulo Terra, ou dos comentadores desportivos como os de António Luís Rafael ou Agostinho Campos.
E foi aí que fui conhecendo figuras gradas do chamado “desporto-rei” como foram os casos do Carlitos (Cadeca), Perdigão, João Luis Albasini, os irmãos Abel e Zeca, Jambane, Octávio e Marcelo de Sá, Arménio, Ramalhito, Baltazar, Frederico, Satar, António Brassard, Rui Rodrigues, Belmiro Manaca, Mário Borja, Po Wing, Fumito e tantos outros.
Foi aí que conheci Alfredo Maria Freire, Serafim Baptista, Botelho de Melo ou José Guerreiro. Foi aí que conheci Abel Bastos, João Paiva, Vítor Real, e depois Freitas Branco, José Ferreira (Garrincha) Gil Milando, os irmãos António e Vítor Alves ou Ricardino Chongola.
No que a jogadores diz respeito seguiu-se a geração de Gil Guiamba, Nico, Chababe, Nuro Americano, Calton, Sitoi, José Luís, Chiquinho Conde, Jerry e por aí fora.
Depois vieram outros. Jogadores e treinadores. Nacionais e estrangeiros, como convém nesta época da globalização. Qualquer dia mais estrangeiros do que nacionais. Trocam o refresco e a sandes do antigamente por outros benefícios. Dinheiro, carro, casa. Enfim … outros tempos.
Os resultados (as vitórias) tardam em chegar ou não chegam nunca. A grande massa de adeptos dos nossos “mambas” (nome pelo qual é conhecida a nossa selecção nacional)
pede a cabeça do treinador, do presidente da federação ou do Ministro, como se fossem estes os responsáveis pelos nossos desaires. Há quem chegue mesmo a dizer que a forma de cimentar a nossa tão propalada unidade nacional era convocar para a selecção nacional um jogador de cada província.
Tudo isto num país pobre, como se diz à boca cheia. Tudo isto nesta “pátria amada” toda ela feita dum “maravilhoso povo”, que vai ter de continuar a contentar-se com este afundanço do nosso desporto rei. Agora vamos vêr o Rio 2014 por um canudo.
Será que há médico capaz de curar esta doença ?
João de Sousa – 19.06.2013