JOSÉ MAGALHÃES – Uma vida épica no atletismo!
“O ATLETISMO MOÇAMBICANO ESTÁ A CAIR AOS BOCADOS” – José Magalhães
Quando entrei no complexo pedagógico da Universidade Eduardo Mondlane em Maputo, naquele 20 de Maio, dou de caras com José Magalhães, solitário, encostado a um canto, a contemplar todo aquele desusado movimento de pessoas, num entra e sai, num corre-corre. O nosso velocista, atrevo-me a dizer assim, estava perfeitamente “na lua”, tal era a emoção. A emoção de saber que ia ser homenageado. De saber que iam falar dele. Precisava que falassem dele mas também precisava que em tempo que já lá vai, quem de direito reconhecesse os seus feitos. E aí, quer o Ferroviário, o seu clube de sempre, quer os Caminhos de Ferro, fecharam-se em copas.
João de Sousa e o homenageado – José Magalhães
Os “locomotivas”, num gesto de puro e simples oportunismo, aproveitaram-se da iniciativa da Universidade Eduardo Mondlane, para lhe dirigir palavras de apreço pela sua vida e pelos seus feitos desportivos (e não só) que deveriam ser dirigidas “long time ago”. Mas como dizia o homenageado “mais vale tarde do que nunca”.
A comitiva do CFM entrega uma lembrança a José Magalhães
Por tudo isto o Zé Magalhães estava triste. Mas também contente porque, no mar de tanta incerteza e injustiça, alguém se lembrava dele.
Estava de fato e gravata. Não gosta, confessou-me, deste tipo de indumentária. Prefere (sempre preferiu) os calções, a camisola do seu Ferroviário e um fato de treino com as cores dos “locomotivas”.
Deixou-se fotografar com toda a gente. Todos queriam ter uma recordação. Estar ao lado do “magatsutsa” era (é sempre) uma honra.
José Magalhães e Celisa Quelhas
Algumas das figuras do desporto nacional que marcaram presença nesta homenagem:
O atleta Abdul Ismail
O futebolista e grande capitão – Joaquim João “JJ”
Martinho de Almeida
Antigo guarda-redes do Ferroviário – Carlos Bruhein
Nuro Americano
Voleibol e atletismo – Camilo Antão e Sarifa Magide
Naldo – Antigo futebolista do Maxaquene
Antigos atletas do atletismo moçambicano: Suzete, Óscar Carvalho, Alfredo Mabombo, Stela Pinto
Quando me viu perguntou se ia ser entrevistado. Disse-lhe que não. Já basta ter entrevistado há quase meio século e inadvertidamente ter apagado a entrevista. Não ia cair nessa asneira novamente. Iamos conversar. Não havia muito tempo para isso, é verdade, mas mesmo assim, trocámos algumas ideias.
Falar do atletismo, parafraseando o próprio Zé Magalhães, é falar duma modalidade “sem incentivo, que anda a caír aos bocados”. É falar da falta de incentivos para os atletas. Da ausência de preparação. Há falta de pistas para a prática da modalidade. O Parque dos Continuadores (Parque José Cabral no tempo da outra senhora e por onde ele passeou a sua classe por diversas vezes) já foi chão que deu uvas.
Agora, a ganância empresarial, levou a que aquele espaço “verde” da capital moçambicana, próprio para lazer, desporto e cultura, esteja a ser retalhado para ali serem erguidas, num futuro a médio prazo, complexos dedicados a escritórios. Já está lá instalado um Banco Comercial.
José Magalhães enquanto esteve por Maputo foi ao Zimpeto. Quis vêr o Estádio Nacional, aquilo a que muitos já designam de “elefante branco”. Uma parada militar deu cabo do relvado. As piscinas não funcionam em pleno. Salva-se a pista de atletismo. Do mal o menos.
Como vos dizia o Zé andava emocionado. E mais emocionado ficou quando soube que ali, naquele complexo universitário não estavam apenas os seus antigos companheiros do atletismo. Estavam figuras gradas de outras modalidades. Do futebol, do basquetebol, da natação, do xadrez e do voleibol. Quando entrou na sala, toda ela iluminada e decorada a contento, levei-o a sentar-se ao lado de Marcelino dos Santos,
Parabéns a Marcelino dos Santos
essa emblemática figura da política moçambicana, que por coincidência comemorava naquele dia (20 de Maio) os seus 86 anos de idade. Ficou por pouco tempo, porque o protocolo da festa “obrigava” que José Magalhães se sentasse na Mesa de Honra.
Mesa de Honra: Dra. Maria de Lourdes Munguambe – Directora da Escola Superior de Ciências do Desporto, Vice Reitora – Dra. Ana Maria da Graça Mondjana, Prof. Dr. Orlando Quilambo – Magnifíco Reitor da UEM, Dr. Alberto Nkutumula – Ministro da Juventude e Desportos, José Magalhães, Dr. Ângelo António Macuácua – Vice Reitor da UEM e Marcelino Macome – Presidente do Comité Olímpico de Moçambique.
Foi este José Magalhães que ouviu rasgados elogios sobre os seus feitos, vindo de pessoas que nunca o conheceram pessoalmente ou nunca o viram correr, mas que dele conhecem a história, por terem lido aqui e acolá. Ele misturou-se com os jovens praticantes da modalidade do seu clube de sempre, que fizeram questão de estar na sala e com ele se deixaram fotografar.
Ele fez questão de falar. Agradeceu à Universidade Eduardo Mondlane. Ao Ministério da Juventude e Desportos. Ao Ferroviário “o meu clube de sempre”, e também aos antigos colegas que vivem no exterior de Moçambique. Fez questão de sublinhar o apoio dado por eles, numa acção de colecta de valores monetários, coordenada pelo seu companheiro Victor Pinho, de quem ouviu palavras encorajadoras e elogios ao seu trabalho, em vídeo transmitido na ocasião.
Recebeu prendas das mais variadas, sendo que a mais “volumosa” foi o cheque oferecido pela Universidade Eduardo Mondlane de 400 mil meticais, o equivalente a 9.750 euros.
Quando recebeu o cheque não fazia ideia da quantia que estava na sua mão. Só no dia seguinte, antes do seu regresso a Nampula é que deu conta da importância que lhe foi atribuída, e que vai servir certamente para minimizar dificuldades por que passa, porque viver com 5.000 meticais por mês de aposentação (120 euros) é coisa que não lembra ao diabo.
João de Sousa – 22.05.2015