SEMPRE A SUBIR!
Estolano, o meu amigo de Boane, virou empresário. Surgiu-lhe a oportunidade de ganhar algum dinheirinho extra, porque afinal o salário de reformado, em Moçambique, ainda não dá para muita coisa. Um amigo seu de longa data que, em 1975, foi viver para a África do Sul nomeou Estolano seu representante. É sua função publicitar o produto que vai vender e estabelecer os contactos com empresas moçambicanas, devidamente identificadas pelo seu patrão.
A semana passada Estolano precisou de se deslocar à cidade da Beira para vender o seu produto. O seu patrão, a partir de Joanesburgo, tratou de tudo. Comprou as passagens aéreas, alocou o “pocket-money” e fez por transferência bancária o pagamento do hotel onde Estolano ia ficar hospedado. Em função dos horários de voo das Linhas Aéreas de Moçambique, estabeleceu os dias e as horas dos contactos com os seus clientes.
A viagem de Estolano estava marcada para um Quinta Feira, num voo que sairia de Maputo às 12.20 horas. O seu primeiro encontro na cidade da Beira ficou marcado para as 15.30 do mesmo dia. Tinha tempo mais do que suficiente para chegar à Beira, deixar a sua bagagem no hotel e deslocar-se para o local do encontro.
Na Quarta Feira à tarde, para mal dos seus pecados, Estolano recebe a informação que esse voo tinha sido cancelado e que todos os passageiros tinham sido transferidos para um voo que sairia de Maputo às 17.45 horas, e que iria primeiro a Tete e depois aterraria na Beira às 20.00 horas. Esta alteração comprometeu todo o seu plano inicial. Foi a um dos escritórios das LAM, reclamou mas não adiantou de nada. Preferiu antecipar o seu voo para as 06.30 horas dessa quinta feira, com todos os inconvenientes que isso representa. Morando o Estolano em Boane tinha de se levantar de madrugada, para poder chegar a tempo ao Aeroporto de Maputo às 05.00 horas.
Quando entrou no Boeing não descortinou um único tripulante moçambicano.
Eram todos estrangeiros. Só falavam inglês. “Can I see you boarding pass?”. Estolano ficou na mesma. O seu inglês era e ainda é o tal “inglês de praia”. Um outro passageiro explicou que a assistente de bordo queria ver o seu talão de embarque, possivelmente para o encaminhar para o lugar marcado. Quando o avião se preparava para descolar o comandante deu indicações aos passageiros sobre o tempo de voo, as condições meteorológicas em rota e a previsão de chegada à Beira. Tudo em inglês. De português apenas uma palavra, dum atrevido assistente de bordo, (veio a saber tratar-se dum sul africano) que, depois do avião aterrar na cidade da Beira informou aos passageiros em trânsito que “passageiro para Tete senta no avião”.
No trajecto até ao Hotel a imagem da degradação. Viu os escombros daquilo que foi o Complexo Turístico do Macúti (Motel Estoril e Hotel Dom Carlos)
Motel Estoril
Hotel D. Carlos
na zona nobre da cidade da Beira, o estado em que se encontra o Grande Hotel,
os prédios velhinhos a precisarem dum projecto do tipo “Chonga Maputo” ou o “dumba-nengue” do mercado do Goto que ocupa o passeio central duma rua bem movimentada. A Beira que em tempos foi considerada “a cidade do futuro” parece ter parado (ou recuado aos momentos jurássicos da pré-história) no tempo.
Estolano chegou ao Hotel, lá para as bandas do Maquinino, numa altura em que a EDM decidiu brindá-lo com um corte de energia. Um dos muitos que estão a acontecer a qualquer hora do dia e da noite, uns mais prolongados do que outros e a provocar verdadeira dor de cabeça aos seus habitantes que vivem em quase permanente estado de um ataque de crise aguda de nervos.
Foi aos encontros que tinha programado. No dia seguinte, antes do regresso foi almoçar com um amigo zambeziano que por força da sua actividade laboral está a viver e a trabalhar há vários anos na cidade da Beira. Foram horas a fio a reviver histórias dum outro tempo.
Chegou ao aeroporto à hora designada no seu bilhete.
Quando se dirigiu ao balcão, uma funcionária informou-lhe que o voo estava atrasado em pelo menos duas horas. “Mas então porque é aque não me avisaram?” A funcionária disse que todos os passageiros tinham sido informados. “Todos menos eu” – replicou Estolano.
O supervisor que foi chamado para fornecer uma explicação mais plausível pediu para ver o bilhete de passagem. Depois veio a explicação: “O senhor não foi avisado directamente porque comprou o seu bilhete através duma Agência de Viagens. Nós só temos o contacto da Agência e não do passageiro. Já alertámos a nossa Administração para este facto”.
Enquanto esperava veio a informação dum atraso de mais 40 minutos. O avião descolou da Beira às 23.20 horas. Estolano chegou a sua casa por volta das duas horas da madrugada.
Por estas e por outras a nossa LAM (conhecida em inglês pela designação Late And Maybe) continua “sempre a subir” na escala da mediocridade evitável.
João de Sousa – 08.04.2015
Um Comentário
Zeca Peixoto
Confirmo o artigo do nosso amigo JS. Trabalho nesta região do país, e viajo de 15 / 15 dias entre Beira @ Maputo e vice-versa, e em grande parte das vezes, a viagem de retorno (maputo / Beira) ou vai a TETE 1º, ou ao Chimoio, etc..etc.. E uma viagem de 60 minutos, prolonga se por mais de 3 horas. Enfim !!! A falta de concorrência da nisto.