VOTÁMOS MAL !
Não sei se a Frelimo vai considerar as declarações de Pascoal Mocumbi, um dos veteranos do partido no poder, veiculadas pela comunicação social a propósito das eleições autárquicas de inoportunas. Nem sei mesmo se vão repreender aquele que de 1987 a 1994 foi Ministro dos Negócios Estrangeiros e posteriormente (de 1994 a 2004) exerceu a função de Primeiro Ministro de Moçambique.
É que Pascoal Mocumbi, sem papas na língua, em plena festa eufórica de comemoração de resultados, foi direto ao assunto. Disse que os seus camaradas do partido tinham votado mal. E mais. Que os resultados mostram que pode haver uma rotação no exercício do poder.
Tenho para mim que o nosso médico de profissão ainda acaba por cair (se é que não caiu já) no rol dos “apóstolos da desgraça”.
Das palavras de Pascoal Mocumbi devo concluir (desculpem-me se estou errado) que muitos dos membros ou simpatizantes da Frelimo decidiram apresentar um cartão vermelho ao partido no poder. Não o cartão vermelho da Frelimo, mas sim aquele que os árbitros mostram aos jogadores que cometem uma infracção perigosa e que os obriga a abandonarem o relvado de jogo. Não votaram no “batuque e na maçaroca”. E como o voto é secreto, vai ser difícil identificar quem não votou no partido dos “camaradas”.
Mesmo assim, a Frelimo não perdeu. No cômputo geral ganhou, mas ficou com um espinho (a bem dizer, três) encravado na garganta, ao ter perdido os municípios da Beira, Quelimane e Nampula.
E mais perderiam se não houvesse algumas manobras de permeio, largamente divulgadas pelos meios de comunicação social, especialmente ao do sector privado e pelas redes sociais.
Para a Frelimo o tempo é de introspeção. Os “camaradas” terão agora de analisar as razões que levaram o terceiro maior partido do País a alterar o xadrez político em Moçambique, particularmente no que às autárquicas diz respeito, com a vitória confirmada em 3 municípios importantes. O MDM conseguiu números que ultrapassaram os 19,75% da Renamo em 2008. Estas eleições vieram confirmar que o “galo” está a conseguir, não só captar o eleitorado da Frelimo e da Renamo, como também os votantes jovens e de classe média e intelectual.
Perante este quadro político e tomando em consideração o “bis” na Beira e em Quelimane, pergunto como ficam neste processo as figuras de Alberto Chipande e Verónica Macamo, a quem foi confiada a tarefa de reverter a situação naqueles dois municípios?
O que o MDM está a fazer é uma demonstração de capacidade e de peso político que paulatinamente transforma esta formação num partido de âmbito nacional e não apenas circunscrito à Beira ou Quelimane e Nampula como muitos teimam em afirmar. Será que esta capacidade e este peso servem de incentivo para que Daviz Simango e o MDM concorram às Presidenciais e Legislativas de 2014?
Terá ele o arcaboiço suficiente para dirimir a caça ao voto com um candidato da Frelimo por agora desconhecido ?
João de Sousa – 04.12.2013