Nome (completo): José Manuel Dantas da Costa.
“Alcunha” ou nome pelo qual és conhecido entre os amigos: Sempre me chamaram DANTAS entre amigos e na escola. Na tropa – Furriel “Cobra Mamba” pelo facto de algumas vezes matar uma cobra, e usá-las como castigo para os sornas nos treinos militares…
Na África do Sul (RSA) tratavam-me por José da Costa, entre o pessoal de trabalho e estrangeiros.
Em casa, a família, por Zé Manel.
Data de nascimento: 9 de Junho de 1952.
Natural de: Vila Franca de Xira (que não conheço). Sinto-me mais moçambicano que português, porque Portugal nunca fez nada por mim, de modo a que eu me sinta português de coração.
Localização actual: Entre Johannesburg (RSA) e Maputo (MOZ), mas com mais frequência em Moçambique.
Estado civil: Divorciado duas vezes. Tenho cinco filhos, dois rapazes – Shannon com 36
e Marco com 32 anos e três raparigas – Tatiana com 27,
Lourdes com 8 e Beatriz com 5 anos.
Altura: 1,85m. desde os meus 15 anos.
Peso: 90 kg. nú e sem sapatos.
Profissão: Recurso criativo ilimitado.
Ideologia política: Paz no mundo.
Crença religiosa: Católica, mas não praticante.
Localização da tua residência em Moçambique: Depois de termos vindo de Gaza onde o meu pai terminou o contrato da construção da ponte da Barragem do Rio Limpopo, estivemos em vários lugares, pois o meu pai vivia da construção civil.
Vivemos em Mapai, Mavalane e quando estava na altura da minha irmã Rosa Maria entrar para a escola, eu a minha mãe e irmã viemos para a capital – Lourenço Marques. Ficamos em alguns lugares, que ainda me lembro, até arranjarmos alojamento para formarmos o nosso lar familiar. Estivemos numa casa de uma senhora na Av. Caldas de Xavier que uma vez me prendeu na garagem com caranguejos vivos e tive que trepar às escuras para uma prateleira, até que chegasse alguém para me socorrer… Daí saímos (para ninguém matar a senhora) e fomos para a Avenida Manuel de Arriaga (hoje Av. Karl Marx), onde vivemos até o meu pai ser contratado para a construção do Prédio Nauticus, na baixa de Lourenço Marques.
Entretanto os meus pais conseguiram um apartamento maior na Avenida Anchieta, (hoje Av. Olof Palm), durante o período que frequentei a escola primária João Belo (atual Filipe Samuel Magaia)
e a minha irmã a escola D. Leonor de Sá Sepúlveda (atual 7 de Setembro).
Mais tarde fomos viver para a Av. Elias Garcia (depois passou a chamar-se Av. Augusto Castilho e hoje Av. Vladimir Lenine), na esquina com a Av. 31 de Janeiro (hoje Av. Agostinho Neto), até aos meus 17 anos.
Por último fomos viver para a Av. Fernão Melo e Castro, 91 na Sommerschield.
Os amigos da zona da Malhangalene foram os que me deixaram mais recordações. Não gostaria de deixar nenhum de fora e se acontecer, não me levem a mal. Da Av. J. Serrão até à COOP havia muita camaradagem, que ficou gravado na minha memória, em que amigos, eram amigos de verdade. Começando pelo topo: Da rapaziada, Paulo Carvalho, Samuel Carvalho, Abel (vizinho da frente), os irmãos Cordeiro, Milton, Nelson Silva, Fred Albuquerque, Oscar e o irmão Toninho, João Domingues, Luis, Xico, Chico Sconse, Carlos Ravara, Zé Peixoto, Negrão, Quim Abelha, irmãos Parente, irmãos Maio, irmãos Roque, Urbani, Cândido e Américo Azevedo, Luis Soares (Russo). Rogério Levy, Rui Bragança, os meus primos Adamastor, Ibérico, Carlos, Zéquinha e Béto Dantas Esteves e outros amigos que agora não me recordo dos nomes…
Das raparigas, recordo-me das primas e irmãs de alguns amigos, mas acho melhor não as mencionar, para não criar atritos… hehehe!!! 😀
Percurso escolar:
- Ensino Primário: Em 1958 entrei para a Escola João Belo que frequentei da primeira até à quarta classe.
Lembro-me do Director – Renato que mastigava a língua enquanto falava… Jogávamos basquete no pátio da escola e ao berlinde “contra a parede” em frente da mesma. Por vezes tive de resolver certas desavenhas com a malta à saída da escola, chegando a casa com a camisa rasgada, todo sujo e por vezes sem sapatos… - Ensino Preparatório: Em 1963 frequentei a Escola Joaquim de Araújo (atual Estrela Vermelha),até ser expulso por “bom comportamento”, tendo ido em 1964 parar à Escola Joaquim Machado.
Depois de várias aventuras, estive a trabalhar de castigo com o meu pai nas obras. - Ensino Secundário: Entrei em 1965 na Escola Industrial (atual 1º de Maio), estando ao mesmo tempo a trabalhar na Cometal Mometal em planificações de condutas de água da Sonefe. Em 1969 parti para o Colégio Nuno Álvares em Tomar, onde encontrei uma trupe de malta moçambicana… e só regressei a L. Marques em 1971.
Quando vim de Portugal ainda frequentei o Instituto Fernando Pessoa.
Esse período que estive fora de Moçambique fez-me bem, pois deu para eu pensar e analisar o que queria para o meu futuro. Não tinha interesse em ir para a tropa como soldado raso. Acendi a luz da vida e preferi fazer o melhor para atingir esse objectivo.
Serviço Militar:
Em 1973 entrei para a recruta em Boane e depois de concluída fui sem querer parar a Montepuez, para o curso da 8ª Companhia de Comandos.
Boane foi um paraíso, porque não dormi lá uma noite sequer, mas tinha-mos que marcar presença logo de manhã cedo. Quando chegou o dia do juramento de bandeira e deram as especialidades, fiquei incrédulo ao ouvir o meu número “41”, para me apresentar e seguir no dia seguinte para o curso de Comandos. Ainda pensei que fosse engano…
Quando cheguei a Montepuez, encheram-me de surpresas e comecei logo a pagar. Como se dizia “castigo”. Éramos considerados 2 graus abaixo de cão…
Houve uns contra tempos no início do curso e fui chamado ao Comandante Jaime Neves, pessoa que tinha conhecido no Niassa, uns anos antes de entrar para o exercito. Fiquei à rasca, mas expliquei-lhe, (embora ele soubesse) o que se tinha passado na prova de sede, entre mim e o instrutor que era de Portugal. Verifiquei que me deu razão, mas teria que seguir as regras deles. A seguir disse: “A partir de hoje vais dar as aulas de ginástica à Companhia de manhã, apoio de GAM e defesa pessoal”. Então a partir desse dia senti-me todo inchado…
Após ter terminado o curso com muito orgulho, saí com a patente de Furriel Miliciano (sargento),
tendo acabado por ser selecionado, para dar os dois cursos seguintes, o da 9ª e metade da 10ª que devido ao 25 de Abril 1974, não terminou.
Más memórias e boas recordações, mas saudades nenhumas… a não ser a camaradagem leal dos colegas. Aqui fica o slogan dos Comandos:
A sorte protege os audazes”
Em quanto comando, tinha-mos direito a férias na Ilha de Moçambique, que me proporcionou conhecer as ilhas das redondezas, como a Ilha de Goa onde está o farol, Ilha de Sena (ou das Cobras),
Ibo,
entre outras ilhas paradisíacas…
Em novembro de 1974, já no governo de transição, venho para Lourenço Marques e sou chamado pelo Comandante Dr. Raposo Pereira, para dar aulas de defesa à Policia Judiciária e Polícia de Choque, comandada pelo Comandante Santos.
Percurso profissional:
1971 – Com a experiência em desenho (arquitectura, design e caricaturas) trabalhei como “freelancer” para arquitectos (“Pancho” Miranda Guedes e Tinoco) e agências de publicidade que havia em Lourenço Marques. Entretanto em junho deste ano, tive uma oferta para o Niassa – Vila Cabral do Engenheiro António Esquível (que casou com uma grande amiga minha – Fátima) Director Geral da Junta Autónoma de Estradas, hoje ANE, aonde ganhava muito bem, com casa do governo, alimentação e com ajudas de custo, pelo facto de estar em zona classificada 100%. Foi uma uma experiência diferente e com grande proveito para o meu futuro. Conheci muita gente, entre outros o mercenário – Daniel Roxo.
Recordo-me de um jantar com alguns generais do exército, onde também estava o Major Jaime Neves (eu não sabia que era o comandante dos Comandos),
ele quando soube que eu entrava em 1973 para a tropa, disse-me que eu iria lá parar. E assim foi, em 1973 após o Juramento de Bandeira em Boane, sou chamado pelo Capitão Carrapeta (selecionador dos Comandos), que me informou , que tinha sido escolhido para o curso de Comandos. No dia seguinte apanhei o “machimbombo” para a Beira e segui para Montepuez…
1973/74 – Serviço Militar.
1975 – Devido à situação politica em Moçambique, no dia 29 de maio, resolvi ir para a República da África do Sul (RSA),
tendo passado por diversas dificuldades… até assentar no lugar certo e legal.
A primeira entrevista de trabalho foi cómica, porque levei comigo uma pessoa (mais tarde a minha primeira esposa) para me apresentar e ajudar na entrevista, pois não tinha nada a dar em troca, a não ser a minha vontade em trabalhar! Disse-lhes que dava duas semanas de serviço grátis, para mostrar o que sabia fazer… mas antes da semana terminar, deram-me emprego. Apesar de ganhar uma ninharia, não recusei pois as dificuldades eram muitas na época. Quando me senti mais seguro, fui para a praça em busca de melhor emprego e consegui. A partir daí foi só melhorar o meu Inglês e partir para a aventura…
Eu sei o preço do sucesso: dedicação, trabalho duro, e uma incessante devoção às coisas que quero ver acontecer. Sempre acreditei no meu empenho e dedicação e tenho constatado que, quanto mais duro eu trabalhar, mais sorte no trabalho eu tenho. Talento foi um dom que Deus me deu gratuitamente. O sucesso pouco tem haver com a sorte, mas sim com determinação e trabalho.
1981 – Chegou o dia (1 de Maio – dia do trabalhador) em que resolvi criar a minha empresa que se mantém em atividade até aos dias de hoje e com enorme sucesso – ART & COMMUNICATIONS, hoje abreviada – ART C.O meu primeiro filho – Shannon nasceu no ano seguinte .
Percurso desportivo:
Aonde e quando iniciaste a tua actividade desportiva?
Iniciei a minha atividade desportiva no Hóquei em Patins do Malhangalene, como guarda-redes dos infantis (com 10 anos). Tinha como treinador o velho Adrião proprietário da fabrica de sapatos na Av. de Angola e pai do Campeão Mundial de Hóquei em Patins – Fernando Adrião.
Desisti no dia que o velhote partiu o pé e foi substituído pelo filho Fernando que me massacrou com os remates (autenticos tiros) dele a bater na trave e a seguir na minha cabeça, depois de fazer isso umas três vezes, saí do campo e fui para o balneário. Pensei, “que se lixe o hóquei” e fui para casa com dores de cabeça.
Adorava ver os treinos de Boxe no Malhanga, das traseiras da oficina do meu tio Esteves, da Casa Santa Marta. Aí conheci o Fernando Bila – Campeão de Moçambique de “médios” e Abílio Bila, seu irmão – Campeão de “leves ligeiros”, porque o fulano era mesmo pequeno. Várias vezes, chamaram-me para descer o muro, para treinar com eles.
Engraçado que punha-me a trocar uns socos com o Abílio e por vezes as coisas aqueciam, e eu virava-me aos pontapés. Diziam eles: “Não lutes com os pés… luta com os mãos”. Isto aconteceu quando tinha os meus 15 anos, nessa altura já treinava no Ginásio de LM às escondidas do meu pai.
Ele obrigava-me a ir para as obras que construía. Tinha como lema: “treinar é aqui” – Descarregar dos camiões sacos de cimento, areia e pedra, encher as placas dos pisos com argamassa, etc… isto durante as minhas férias escolares. Quando chegava a altura da época escolar, fazia gazeta às aulas (chumbei dois anos por faltas) para ir nadar para a piscina do Desportivo, indo depois a seguir para Ginásio de LM treinar karaté com o Elmano Caleiro. Aí conheci malta porreira, assim como o falecido Jorge Bettencourt que era o mais graduado na época pelo JKA, com o cinturão preto.
Sinceramente não era o que esperava do karaté, sentia-me frustrado com os gritos e forma de treinar. Qualquer coisa me dizia que não era isto o que queria.
Um dia, durante os treinos, fui abordado por um misto asiático – John Lo Sung que me perguntou se estava interessado em ver uma aula de Kung Fu (isto na zona do Alto Maé na Av. 5 de Outubro). Quando cheguei ao local (casa com uma dependência) apresentou-me o Jaime Lo Sung, oriundo de Macau. O macaense estava numa cadeira de rodas (nunca perguntei o que lhe tinha acontecido) num jardim relaxante. Cumprimentou-me num português correcto, mas arranhado, e aí fiquei a saber que ele era o pai e treinador do John.
Fiquei fascinado com o que me disse e a forma como disse, numa voz suave e cheio de sabedoria…
“Fui Instrutor em Macau de 1940 até 1963 no regimento da Polícia, para instruir os chineses locais” e continuou… já com a filosofia ideológica:
A humildade é a chave para a evolução das nossas habilidades”.
Ser natural e encontrar o caminho como a água”.
Alerta é a melhor defesa”.
Quando um ataque acontece, a melhor defesa não é resistir, mas mover-se com o fluxo do ataque, e usar essa energia em benefício próprio”.
Nesse dia cheguei tarde a casa, completamente “hipnotizado” com tudo que tinha visto e ouvido… Em segredo comecei a treinar com o filho John, mais velho que eu dois anos. Andei lá até ir para Portugal estudar. Ensinou-me e deu-me dicas de como deveria respirar e treinar sozinho, ou que arranjasse alguém para treinar comigo dentro dos mesmos princípios. Durante o período que estive no Colégio fazia os exercícios logo de manhã cedo. Posso afirmar que durante esses dois anos não fui muito dedicado ao treino, mas pensava muitas vezes nos ensinamentos que tive do “mestre”. Chegou-me a dizer que o filho não tinha o meu entusiasmo, pois eu treinava com paixão. Isto foi mais um estímulo para eu melhorar e controlar a minha agressividade.
Quando regressei a Moçambique vindo do Colégio de Tomar, soube que tinha partido para Macau com a família. Naquela altura não havia comunicações como existem hoje e tornou-se complicado estabelecer contacto. Entretanto fui para Vila Cabral onde continuei a treinar… utilizando alguns espaços públicos.
Chegou o dia que verifiquei que já não dava para ficar em Moçambique e viajo para Joanesburgo. Arranjei emprego e comecei a dar aulas no ginásio Bian Marks Stúdio na baixa de JHB. Dava treinos à hora de almoço e a seguir ao dia de trabalho. Conheço o Antony Everton em 1975 e tornamos-nos amigos. Treinou comigo na preparação para os campeonatos da RSA e assim recomeço de novo…
Antony Everton, era um atleta com múltiplas qualidades, tendo vencido o campeonato mundial de médios, realizado em Cape Town em 1977. Continuamos a treinar e ele queria que eu também participasse na categoria de pesos pesados, no fundo era o que eu queria também.
Neste mesmo ginásio chegámos a dar cursos intensivos de 6 meses aos guarda costas da segurança privada dos “Top Executivos” do Standard Bank.
Em 1982 o Antony teve uma infelicidade (o filho morre afogado na piscina) e começou a beber… acabando por tirar a sua própria vida. Fique chocado com tudo isto, e como o mal nunca vem só, o meu irmão que estava a apoiar-me no ginásio, teve um grande acidente a caminho de Moçambique… A seguir passo por um divórcio…
Enfim, a minha salvação foi a dedicação à modalidade, pois treinava 4 a 6 horas por dia, o que me ajudou a superar este momento difícil.
No final do ano de 1982, vou a Moçambique ao Ginásio de LM.
Aí encontro o Tomás Mael a dar treinos. Quando me viu fez uma festa enorme e pede-me para dar essa aula de treino. Tive pena dos alunos, porque sentiam-se fracos devido às carências de alimentação. Apesar de ser moderado nos exercícios, começaram a cair de fraqueza, o que me deixou incomodado.
Tomás Mael tinha o cinturão castanho e pediu-me que o graduasse em cinturão preto. Como eu tinha carteira profissional de instrutor da RSA, acabei por o graduar com todas as éticas exigidas das Artes Marciais.
Depois faço uma viagem ao Oriente, passei por Macau à procura do Sr. Lo Sung, mas sem sucesso. Tive o prazer de treinar nos parques em Macau que me deram certa inspiração. Depois fui à Tailândia ver como se praticava o Thai-boxing.
Achei interessante, mas não era o que procurava. O pessoal era minúsculo, apesar de muito energético.
Ao longo dos tempos fui recebendo títulos de conduta e ética das artes marciais, como treinador dos Springboks,
tendo muitas vezes participado como atleta, por motivo de falhas de última hora (lesões) na equipa de pesos pesados. Foi com muito orgulho que representei a RSA, tendo a equipa alcançado várias medalhas e troféus… O governo da RSA dava-me tudo, mas não me dava os louros, pelo o facto de não ser sul africano. Tínhamos diversos patrocínios, especialmente das Agências de Viagens e da imprensa portuguesa – O Século de Joanesburgo,o governo entrava com os tacos (dinheiro).
Em Moçambique fui bem acolhido, mas ficaram aborrecidos comigo, por não os ter representado. Acabei por lhes dizer, que nem Portugal me ajudou em absolutamente nada.
Qual foi a tua principal modalidade? KUNG FU – YEE CHUEN (Artes Marciais Chinesas).
Alguém (quem) te influenciou a escolher esta modalidade? Sempre gostei de acção e de actividades individuais com rapidez.
Qual foi o teu primeiro jogo ou prova oficial? Foi em 1986 no Campeonato do Mundo realizado na RSA.
Treinador que mais te marcou ao longo da tua carreira e porquê? Foi a vida e Jaime Lo Sung.
Descreve uma situação caricata que tenha ocorrido em campo ou numa prova: Nos EUA no 3º dia do torneio (dia da final), um atleta negro americano maior que eu, estava no mesmo grupo, para finalizarmos os últimos requisitos, para escolhermos os primeiros adversários de combate. Todos evitavam o fulano (era parecido com o Mike Weawer, campeão mundial de boxe de pesos pesados) pois tinha um grande cabedal, um autentico “armário”. Coloquei-me atrás dele e perguntei-lhe há quanto tempo treinava? Com a sua arrogância típica americana, respondeu-me sem olhar para trás – “Long anough” – Há muito tempo. Sem dar espaço para dizer mais alguma coisa respondo: “I hope so, because I´ve be doing this shit for more than 30 years and I´m going to kill you” – Espero que sim, pois eu já faço isto há mais de 30 anos e vou-te matar. Claro que disse a brincar, mas ele reagiu de forma tão assustadora e me respondeu: “Man, I´m only 25 years old, you´re crazy” – Só tenho 25 anos tu és maluco ou quê? Tem calma… Isto é um torneio não um matadouro.
Respondi-lhe de volta: Eu venho de África e gajos como tu apanha-se todos dias por lá, eu não vim aqui para ganhar, mas sim para não levar na cara, percebeste? Foi uma risota…
De seguida começaram a colocar-nos por alturas, tendo ficado na fila da frente com o Japonês, por sermos os mais baixos do grupo. O americano acabou por ser desclassificado, mas ficou sempre do meu lado e a sussurrar ao ouvido…”You´re and going to be the Champ” – Tu é que vais ganhar o campeonato. E assim foi o resultado final, com 41 anos de idade…
Recorda alguns dos momentos mais marcantes e o mais frustrante na tua carreira desportiva: Um dos momentos marcantes, foi numa final do Campeonato em 1986, contra um Australiano de 102 kg.
No último combate de pesos pesados do torneio, começaram a criar uma polémica contra a equipa da RSA, por motivos do “Apartheid”. Como era o último combate de pesos pesados calhou ser comigo. Começaram a lançar latas vazias de refrigerantes, para o local de combate. A raiva era de tal ordem, que até insultos se ouviam contra a RSA. Eu que não ligava nada à politica, tentei ignorar. Mas o meu adversário parecia estar a gostar da paródia e olhava-me com um olhar ameaçador… Fiquei calmo, mas com um único foco, de o derrubar com um “pêro”. Quando o árbitro apita, ele vem direito a mim e numa fração de segundo derrubo-o com um golpe fatal, caindo de costas inconsciente.
Os insultos aumentaram de tom com o que aconteceu. Fique preocupado, tendo estado umas horas perto dele até recuperar. Depois de acordar, coitado nem se lembrava do que tinha lhe acontecido…
Quais os clubes que representaste? Representei na RSA o YEE CHUEM SA, na modalidade Yee Chuen – Fung Fu.
Os teus ídolos na tua modalidade de eleição?
Artes Marciais – Bruce Lee.
Quais os atletas de sempre que eleges nesta modalidade?
Bruce Lee e Don Isando que foi o seu treinador.
Outras modalidades que tenhas praticado? Natação, não pelo desporto, mas pelo exercício.
A modalidade que mais aprecias na qualidade de tele/espectador? Desportos radicais.
O teu clube do coração (ou simpatia):
Em Moçambique? Malhangalene (CDM).
Em Portugal? Sporting Clube Portugal (SCP).
No estrangeiro? Não tenho nenhuma preferência.
Escolhe três modalidades diferentes da tua, e elege o melhor atleta de sempre em cada uma delas:
Hóquei em patins – Fernando Adrião.
Boxe – Cassius Clay (Mohamed Ali).
Basquetebol – Michael Jordan.
Futebol – Cristiano Ronaldo.
Atletismo – Lurdes Mutola e Lenine Cunha (o melhor atleta paralímpico eleito pela Federação Internacional com Deficiência Intelectual).
Artes Marciais – Bruce Lee, não como actor, mas sim como “Martial Artist”.
Qual a infra-estrutura desportiva (pavilhão, campo, piscina, pista, etc.) que mais te impressionou ao vivo, no estrangeiro e em Portugal? Na RSA existem pavilhões espectaculares, espaçosos e com condições climáticas excelentes. Em Portugal a minha escolha recai no Pavilhão da EXPO – Meo Arena.
Quais as maiores diferenças que encontraste (no campo desportivo, social e ambiental) após deixares Moçambique? Na RSA onde vivi, encontrei as melhores condições para a prática desportiva, em relação a Moçambique.
Qual o teu hobby? O que mais adoro é treinar Artes Marciais.
Destino de férias preferido? Onde haja Sol e Mar… por exemplo Tailândia e de preferência na companhia dos meus filhotes.
Viagem de sonho que gostarias de realizar ou que já realizaste? Depois de viajar pelo mundo fora, só não fui à Austrália, mas não há nada como o Oriente – China. Embora sinta uma atracção por Portugal, em particular nos dois últimos anos, devido à minha família que aqui vive.
Moçambique sempre foi um Paraíso para mim, mas como tal não durou muito depois de todos terem saído daqui, é o que mais me entristece, por não serem as mesmas pessoas com quem eu privei até 1975.
Fiz uma viagem com a família até Orlando “Disney World”
e em seguida a Cancun no México
que marcou especialmente os meus filhotes.
O sonho quase impossível, seria atravessar e conhecer todos países em África, de caravana 4X4 com um grupo de amigos. Seria com certeza uma experiência inesquecível!
Uma cidade para viveres? Adoro Viana do Castelo – Portugal.
O teu canal de TV? SUPERSPORT, CNN News e Cartoon Network.
Programas televisivos do teu agrado? National Geographic.
A tua estação de rádio? LM Radio | Jacaranda.
Um dos teus filmes preferidos? Papillon
e Cuscuz Next.
Qual o teu actor/actriz predilecto? Jack Nicolson | Sofia Loren.
O teu realizador de eleição? Charlie Chaplin no cinema mudo e o melhor entre os melhores – Steven Spielberg.
Qual o estilo de música que aprecias? Clássica e Rock´n Roll para ouvir. Para dançar uma boa “América Latina” e uma boa “Marrabenta”.
Uma das tuas músicas favoritas de sempre?
“One for the money” – Elvis Presley e “Prety Woman” – Roy Orbison.
O teu cançonetista ou banda favorita de sempre? The Beatles (anos 60) e Fred Mercury – Queen.
Um livro que tenhas lido e te recordes? Papillon – História interessante original de fuga.
O teu prato predilecto? Galinha à cafreal e bife com batatas fritas.
Mas aprendi o velho ditado
Tu és aquilo que comes”!
Ensinaram-me que uma alimentação saudável proporciona qualidade de vida, pois faz o nosso corpo funcionar adequadamente respondendo a todas as funções e é um a das melhores formas de prevenção para qualquer doença. Claro que de vez em quando fujo à regra.
Elege um animal de estimação: Cão.
A tua cor preferida? Verde – Simboliza esperança – Sporting.
As tuas qualidades: Ser diferente (com um olho de cada cor), ser honesto e transparente, ser amigo, ter saúde e senso de humor.
A primeira qualidade do estilo é a clareza.
Uma grande qualidade ou talento desculpa muitos pequenos defeitos.
Os teus defeitos: Ser teimoso.
Gosto de: Estar com a família e amigos a partilhar conversas construtivas, contar anedotas e estar bem na vida sem preocupações e claro praticar artes marciais.
Não gosto de: Ver alguém a sofer, ser humilhado, ser insultado ou ser maltratado, tudo que seja injusto.
Acontecimento pessoal que mais te marcou? Estar a jantar ao lado de Nelson Mandela e ter feito os cartões de aniversário para os eventos dele.
Desenhar o fato de Lurdes Mutola, para as Olimpíadas na Austrália, onde conquistou para Moçambique a medalha de ouro e fazer o Diploma que lhe foi entregue pelo Presidente de Moçambique – Armando Emílio Guebuza.
Acontecimento mundial que mais te marcou? Ganhar o Campeonato do Mundo e receber o Diploma de Honra assinado pelo Presidente dos EUA – George Bush (pai) e do Secretário de Estado dos EUA – Colin Powell.
Um sonho ou desejo pessoal? Estar sempre preparado e no topo dos acontecimentos com saúde.
Citações favoritas:
Tudo que um sonho precisa para ser realizado, é alguém que acredita que possa ser feito.
Começar onde estás, usa o que tens e faz o que podes.
Desistir à primeira é para os fracos, tenta sempre mais uma vez.
Pessimismo leva à fraqueza, optimismo leva-te ao topo.
Momento de humor: Tenho tantas anedotas maravilhosas que não sei por onde começar. Gosto de fazê-lo entre amigos e como desafios pois torna-se mais interessante.
Alegria partilhada é alegria dobrada. Aqui vai uma.
Conversa de casados:
Querido, o que é que tu preferes? Uma mulher bonita ou uma mulher inteligente?
Querida… nem uma, nem outra. Sabes que eu só gosto de ti. 😀
Em jeito de conclusão (responde sem pensares muito):
Se te saísse o euro-milhões o que não dispensavas ter?
Ter o mesmo que tenho hoje e usar a cabeça para não me perder.
Como imaginas Portugal num futuro próximo? Estás optimista?
Portugal está a ficar cada vez melhor. Sempre que faço uma visita geralmente é para ver a família. Mas tenho reparado que as coisas estão a tomar um rumo empreendedor especialmente no turismo. A gastronomia é a melhor do mundo a meu ver. Para quem vê de fora, é um país onde se vive bem, com grande beleza natural, com um povo simpático e bastante económico para se viver…
O que dizem os teus olhos? Qual deles? O verde ou o castanho? Visão sem limites…
Dá a tua opinião sobre o www.BigSlam.pt:
Continuar como tem sido até hoje e tentar ainda se possível uma maior adesão e participação dos internautas.
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Qual a rubrica do site que mais aprecias? Notícias | Atletas | Reportagens | Entrevistas.
Deixa aqui a tua mensagem para os leitores do BigSlam: Caros leitores, o “BigSlam” faz-nos viajar no tempo… com belas recordações do desporto e da vida social, vivida pela nossa geração em Moçambique. Este é o nosso “Ponto de Encontro!”
O BigSlam agradece ao José Dantas toda a sua disponibilidade e simpatia em responder a esta entrevista.
Bem Haja!
18 Comentários
Agostinho Ferreira
Dantas, Meu Amigo de infância e camarada dos comandos, temos muita coisa em comum, muitas recordações memoráveis desde criança com o director da escola primária que frequentámos e que mordia e enrolava a língua… quando para nos castigar nos apertava a orelha com as unhas… até aos treinos Malhanga. Seguiste um percurso diferente, nas artes marciais enquanto eu seguia pela ginástica desportiva, voleibol, remo, etc. Mas em nada se compara ao teu percurso fantástico e fulgurante por onde passaste que enalteço muito admiro e respeito.
As nossas vidas nempre estiveram muito ligadas, mas a amizade e admiração que tenho por ti essas serão eternas.
Um grande abraço
Agostinho
José Dantas
Obrigado pelo elogio…É sempre bom recordarmos dos amigos que passaram a infância juntos, morarmos perto e por último encontrar-te no curso da 9a Companhia de Comandos.
Tenho uma foto onde estamos juntos no Unimog quando fomos levar para a prova de sobrevivência, onde foste vítima de um ataque de turras e levaste um tiro na perna.
Quando tiver a fotografia em meu poder farei-te chegar para recordares.
Grande abraço…
Carlos Galvao da Silva
Parabens campeao. Nao so no desporto mas como pessoa que fostes e continuas a ser. Lembro me bem de ti aqui na Africa do Sul em Johannesburg aonde ainda continuo. Espero que o teu irmao tenha recuperado depois daquela infelicidade. Grande abraco.
Tomé Pona
Parabéns Grande e bela história de vida,o que poderei acrescentar mais?Olha tudo de bom para ti e magnifica família.Saúde da boa.Abração Tomé Pona.
Karateka
Sou um dos atletas que estava no Ginásio de Maputo, quando o instructor de Kung Fu, Dantas, nos foi visitar.
Recordo-me que vinha acompanhado de alguns familiares, chegou, conversou connosco e deu uns pontapés no saco.
Não me recordo de nos ter dado treinos, nem de termos caído por nos sentirmos fracos. Tinhamos carências de alimentação mas, por incrível que pareça, treinávamos muito.
A graduação para cinto negro em kung fu, também desconheço completamente, o que sei é que o Sr. Manuel Tomás (Tomás Mahel) foi posteriormente graduado primeiro dan, em Karate Shukokai.
A foto a ilustrar, gostei de a ver, mas refere-se ao Clube de Judo, que era ao lado do Ginásio de Maputo. Se tiver a foto do Ginásio de Maputo, também gostaria de ver, por que faz parte das minhas recordações.
“Aí encontro o Tomás Mael a dar treinos. Quando me viu fez uma festa enorme e pede-me para dar essa aula de treino. Tive pena dos alunos, porque sentiam-se fracos devido às carências de alimentação. Apesar de ser moderado nos exercícios, começaram a cair de fraqueza, o que me deixou incomodado.
Tomás Mael tinha o cinturão castanho e pediu-me que o graduasse em cinturão preto. Como eu tinha carteira profissional de instrutor da RSA, acabei por o graduar com todas as éticas exigidas das Artes Marciais.”
ANTONIO PONTES
Estive a ler a entrevista e desconhecia a maior parte dos teus louros brilhantes fiquei a saber agora (ainda ontem almoçamos juntos )eu co nheco uma parte da tua vida mas nao desta grandeza estou muito orgulhoso de ter um companheiro de armas ( guerra colonial )desta categoria internacional, muitos parabéns e um grande abraço deste teu amigo Antonio Pontes
José Dantas
Que pena não conseguir acompanhar as noticias internacionais… as redes sociais não existiam a não ser Imprensa, Radio e Televisão. Os factos garanto que são reais, mas para para quem não me conhece não tem importância, mas sim para os que presenciaram a minha carreira como desportista e a arte de desenvolver a minha habilidade.
Obrigado de qualquer forma, não quis convencer ninguém, mas sim aos que me seguiram e conheciam. Siga aqueles de quem gostar e saiba apreciar aquele que conseguem atingir os meus objectivos. Não o fiz por Portugal ou Moçambique, mas sim pelos que me particionaram e acreditaram, como a Republica Sul Africana embora não seja Natural do País. Esses sim tiveram de ver um atleta que trouxe nome para o seu País e apreciaram com Diploma de Honra e ter registado RSA na história.
jo de matos gomes
Hey Dantas. Foi bom ter notícias tuas, as primeiras desde 1976. Felicitações pelo teu sucesso profissional e, sobretudo, pelos teus 5 filhos. Fiquei espantado mas não surpreso, sempre demonstrastes ser um espírito livre e aventureiro com a coragem de seguir as tuas convicções e não olhares para trás. Bem hajas.
¨For all times sake¨, grande abraço nosso, de algures numa França rural.
Jó,da Anchieta e Jó e Carol,de Hillbrow .
José Dantas
Grande Jó…nunca mais sobe de ti…Fico satisfeito de teres visto esta entrevista e saber que te encontras bem. É com enorme alegria que oiço de vocês e saber que se encontram bem. Envia os teus contactos. Abração e cumprimentos
Jo
Hey… grande Dantas (da). Nós estamos bem e vivemos em França, o quarto lugar depois de Johannesburg e esta foi a terceira vez que te tentei contactar. O meu contacto: dematosgomes@gmail.com
Abraço
Armindo Costa
O meu ídolo SEMPRE foi o meu irmão . . .
José Dantas
Obrigado mano….
Beto Simes
Parabéns Dantas, bela história de vida.
Valorizo muito, mas acho que não me surpreendeu as grandes vitórias que alcançaste, porque sempre reconheci em ti belíssimas aptidões físicas e mentais para o conseguires.
Um bem haja, muita saúde e tudo do melhor para ti e para a tua querida família.
Beto Simes
José Dantas
Beto…Obrigado pelo elogio. Não são só as coisas bonitas que marcam nossas vidas, mas também sim as pessoas que têm o dom de jamais serem esquecidas! Tem sido um percurso excitante. Abração
Jose Dantas da Costa
KANIMAMBO
Sara Carvalho
Excelente percurso de vida Jose Dantas! Nao conhecia essas tuas qualidades nas Artes Marciais! Parabens amigo!
Dantas
KANIMAMBO
José Manuel Dantas da Costa
Thank you….pelo elogio. São momentos que nunca mais nos esquecemos e dá para os netos um dia recordaram do avô. Estamos juntos.