História da Rua Araújo de Lourenço Marques!!!
Joaquim Araújo foi o fundador de Lourenço Marques. Em 25 de Novembro de 1781 foi nomeado capitão-mor encarregado em elaborar a primeira carta orgânica-política, administrativa e económica da baía de Lourenço Marques (LM). Este documento foi considerado o diploma de criação da cidade LM (actual Maputo). A ele se deve grande parte do desenho da cidade de LM, depois de Ressano Garcia. Foi também chefe da policia de LM, a quem se atribui a autoria da edificação da primeira Cadeia Civil que se situava na actual Imprensa Nacional.
Em 1874, centenas de pesquisadores e aventureiros americanos e australianos começaram a desembarcar no Porto de LM para se dirigirem para o interior em busca do ouro, enquanto que do Transvaal, centenas de boers faziam a caminhada no sentido contrário, para vir buscar mercadorias e mantimentos aos navios do Porto de LM. Nesse ambiente de de misturas, negócios, bebida e prazer, logo se esboçou a primeira rua onde essas actividades se desenvolvesse, assim nascia o nome da Rua de Joaquim Araújo.
A meio da Rua Araújo abriu-se o Casino Belo, Casino Belo e o Casino Costa, os únicos casinos no Sul de África, que eram luxuosas máquinas de fazer dinheiro. Estavam aberto toda a noite, sete dias por semana.
Nesses tempos, ganharam-se e perderam-se verdadeiras fortunas nos casinos da Rua Araújo, muitos dos visitantes mal tinham dinheiro para pagar o bilhete de comboio de volta para Joanesburgo e Pretória e houve um número considerável de suicídios, cometidos por gente que perdeu tudo o que tinha nas mesas de jogo.
Curiosamente, naquela altura as crianças podiam entrar no Casino, que tinha também umas limousines com motoristas fardados, para levarem os clientes e seus convidados, para os hotéis ou de volta para o Blue Train.
Na Rua Araújo, o negócio da noite não era só para os ricos. Os bares, cabarets e salas de jogo da rua anualmente atendiam milhares e milhares de marinheiros, viajantes, homens de negócios, etc, trazidos pelo movimento do porto e dos caminhos de ferro.
Além de mulheres negras, confluíam também para a mesma rua as Taxi Girls de LM, que eram jovens sul-africanas vestidas à rigor com vestidos compridos. Elas conversavam com os clientes, entretiam-nos e bebiam álcool. Muitas delas acabaram por casar com portugueses de sucesso na cidade e hoje fazem parte de alguns mestiços de Lourenço Marques.
Perto da Rua Araújo, havia grandes casas de prostituição, negócios legais, de porta aberta. As prostitutas eram praticamente todas brancas, a maioria francesas e sul-africanas. Por exemplo havia uma luxuosa mansão e que era a maior e considerada a melhor, gerida por uma senhora que era conhecida na cidade pela sua generosidade.
Em alguns clubes noturnos havia espetáculos de striptease.
Vislumbrava-se o fim da Era Dourada da Rua Araújo quando o estado português teve entendimento formal com o Vaticano, a que se chamou de Concordata. Porém, no início dos anos 60, conheceu-se um período de enorme movimento de pessoas, de investimento e de crescimento. Muitos portugueses vieram viver e trabalhar para a cidade, o número de visitantes da África do Sul, que agora viajavam em carros particulares, cresceu significativamente, e os navios começaram a chegar a Lourenço Marques cheios de jovens militares sozinhos, muitos desejosos de fazer uma escalada na Rua Araújo. para beber uns copos e experiência sexual, para depois se ocuparem da defesa do território.
Depois de 1975 foram encerrados os estabelecimentos na Rua do Bagamoyo (antiga Rua Araújo ) e a proibição da sua vida boémia, tida como imoral, decadente, e exploradora dos corpos das mulheres, história que deu origem ao filme “Virgem Margarida” do realizador Licínio de Azevedo.
Clique no vídeo seguinte, para ver o trailer do filme:
Fonte: The Delagoa Bay e House of Maputo
9 Comentários
António Silva
Lembro-me bem como era a minha vida na Rua Araújo, em 1975. Reconheço nas fotos o dancing Alta Roda, o Texas Bar e muitas outros bares dancing. Velhos tempo, tinha 20 anos, e nesta altura era marinheiro no NRP Comandante Hermenegildo Capelo
Carlos Panaças
Não seria Rua Carvalho Araújo, em vez de Rosa Araújo,e Joaquim Araujo, como já li por aqui;?Fiz serviço em todos esses cabarés que constam nas fotos;, como agente da PSP.
Manuel Martins Terra
Quando a noite já ia adiantada e com a Baixa citadina a esvaziar-se de passeantes, era a Rua Araújo que assumia a presença dos noctívagos, muitos deles marujos de várias nacionalidades, que ali afogavam a solidão de muitos dias de mar, mas também não faltavam frequentadores locais, atraídos por cançonetistas, bailarinas e prostitutas. A rua aclarava com os disparos dos néons , quase como comandados pelo som dos êxitos musicais em voga, que entoavam do interior de cabarés, night clubes, dancings e bares americanos. Naquela rua famosa, que nasceu a partir do início do século XX, a boémia fez parte do seu quotidiano e chegou a ter efetivamente até à década 40 do século passado, casinos e o célebre Teatro Varietá, que para além de projetar filmes, subiam ao palco esbeltas bailarinas, de trajes ousados que encantavam a plateia. Assim era a famosa Rua Araújo, até que depois da independência se passou a chamar Rua do Bagamoyo, e se apagou um passado que muitos ainda retêm na mente.
Manuela Foley
O dono do Kalifa (restaurante ao lado da Casa Ruby) e da melhor casa nocturna da Rua Araújo, cujo nome não me recordo, José Gonçalves Pereira, era um dos melhores clientes da minha agência do BCCI, na Av. D. Luís.
Dinis Marques
Uma dúvida: se foi Joaquim de Araújo o fundador de LM, porque razão o nome de Lourenço Marques?
BigSlam
Crónica de Clara Ferreira Alves no Expresso em 25.04.2017
“Lourenço Marques era um grande explorador português que no século XVI comandou as expedições na costa de Moçambique e que chegou ao rio Limpopo, onde tratou com os indígenas a que hoje chamaríamos moçambicanos. Maputo era nome de rio e na baía do mesmo nome se instalou o colono, dedicado ao cobre e ao marfim segundo relato de D. João de Castro (e este quem é?). O senhor dos territórios acabou por dar o nome aos territórios. Por ordem de D. João III, rei de Portugal, a baía ficou de Lourenço Marques em homenagem ao dono e daí nasceu a capital de Moçambique colonial”.
O BigSlam publicou um artigo em 19.12.2016 com o titulo: Por que motivo Maputo, se chamou Lourenço Marques?
Clicar no link: https://bigslam.pt/historia/acontecimentos/um-pouco-de-historia-por-que-motivo-maputo-se-chamou-lourenco-marques-1a-parte/
Caro Dinis Marques, espero ter ido ao encontro da sua questão.
Sempre ao dispor.
Apareça sempre neste nosso “Ponto de Encontro!” – http://www.bigslam.pt
Aquele abraço.
eduardo m. paulo
Terra perdida no odio Africano !
Victor Manuel Quaresma
Verdade, navios de cabotagem Linde e Liazi, onde trabalhei. O gerente na altura 76/78 era o sr Neves.
Antonio Sa Nogueira
Lembro me prfeitamente o meu pai tinha a empresa de navegacao Limpopo A.Couto Lda e eu muita vezes ao escritorio de dia