Calendário da Shell de 1973 com desenhos de Dana Michahelles
Dana Michahelles (1933-2002) nasceu em Florença, Itália, e era filha de artistas. O seu pai era o pintor florentino RAM (Ruggero Michahelles), seu tio era o pintor futurista Thayaht e seu bisavô era Hyram Powers, o escultor neoclássico americano. Frequentou o Instituto de Belas Artes de Florença, mas aos 15 anos partiu para África, onde permaneceu durante 27 anos em Moçambique, onde constituiu família e trabalhou extensivamente, criando uma identidade como artista, nunca mais parando de pintar.
Dana Michahelles não era muito conhecida pelo laurentino ou moçambicano comum. Muitos, enquanto viveram em Lourenço Marques, não se deram conta que Dana lhes desenhou a sua cidade em desenhos que hoje constituem memórias de elevadíssimo valor. E não desenhou apenas aspetos de Lourenço Marques, fora da capital encontrou – no Ibo, no Mossuril, na Ilha de Moçambique, para mencionar apenas alguns locais em Moçambique – os motivos que a fez desenhá-los para a posteridade.
Poema de Rui Knopfli, dedicado a Dana Michahelles.
DANA
Pelo trajecto sangrento das acácias,
da Mafalala às areias da Polana,
ou à maré morta da Catembe;
do Ho Ling à Casa Elefante,
da Casa Viegas ao Prédio Pott;
da opulenta sombra do cajueiro
à nobre majestade do eucalipto,
ainda resiste, na memória, uma cidade.
Por tardes de longa canícula,
sentada em seu regaço, a menina
dos cabelos cor de cobre regista-lhe,
com paciente labor, na brancura
do A3, a minúcia do perfil
que esbatido aos poucos, lentamente,
no deserto da memória vai morrendo.
Dele, em tempo, só restará o sal
teimoso que, a algum verso,
há-de emprestar o travo amargo
e o que, no rigor afectuoso dos seu traço,
da insanável ferida oculta,
é, obstinadamente, a visível cicatriz.
8 Comentários
Nino ughetto
Que tristesa Tudo acabou tudo passou. Eu vi tudo isso e vivi tudo isso… Um abraço
Manuel Martins Terra
A Dana, fazia magia com a suas lapiseiras e os seus traços esboçavam postais citadinos que ainda hoje nos estão na memória, e que a Shell com muita objetividade nos seus postais tão bem soube aproveitar. Uma grande senhora, e artista de méritos.
Edite Lemos
💯💯💯 Bela recordação e maravilhosas mãos!!!
João Santos Costa
Que inveja que tenho não saber desenhar como a DANA. O pormenor nos seus desenhos passa a ser um PORMAIOR nos seus lindos trabalhos.
José Augusto Salta Moreira
Um belo documento, cheio de recordações. Obrigado.
josé carlos alves da silva
Fabulosos…… Lembro me bem destes calendários. Ficam as memórias.
eduardo m. teixeira paulo
Eu me lembro – quando era muito miudo ( cerca de 1972 ou 3 ), ao fundo da Rua Araujo, mais ou menos entre a Casa Amarela e o Montepio ( o meu avo Fragoso ja se tinha reformado de ali ) – de ver a Dana sentada numa cadeira e uma placa com o livro de esbocos ( tal e qual a foto que amostram nesta reportagem )…o’ tempo se podesses voltar para tras !
Maria João Necho Aguiar
Fantástico. Nasci em moçambique em 1955 e não me lembro de ouvir falar na senhora,
Lembro-me do calendário
.Obrigado.
Saude,