BigSlam no Sul da América (9) – Descubra o Delta do Tigre e as Cataratas do Iguaçu (lado brasileiro)
7 de março de 2025 – Sexta-feira
Logo pela manhã cedo despedimo-nos do Sapphire Princess. Depois de recolhermos as malas no Terminal de Cruzeiros, partimos de autocarro em direção à cidade de San Isidro, onde efetuámos uma pequena paragem junto à Catedral de San Isidro, uma jóia do neogótico localizada na região metropolitana de Buenos Aires.

Foto de Marco Guoli
Inaugurada em 1898, destaca-se pela sua imponente torre de 68 metros de altura, vitrais coloridos e rica ornamentação, que a tornam um dos templos mais belos da Argentina.
Sua fachada de tijolos aparentes com detalhes em pedra calcária evoca elegância e serenidade.
Bem à frente da catedral encontra-se a Plaza Mitre, um parque arborizado e acolhedor, perfeito para passeios tranquilos. Rodeado por antigas casas senhoriais e com vista para o Rio da Prata nas proximidades, o parque é um ponto de encontro para moradores e turistas.
Aqui é possível encontrar alguns monumentos e pontos de interesse que enriquecem a visita como o monumento a Bartolomé Mitre,
uma estátua em homenagem ao ex-presidente argentino, historiador e militar que dá nome à praça. É uma escultura imponente que presta tributo à sua importância na história do país.
Na sombra das árvores da Plaza Mitre, deparamos com o busto de Adrián Beccar Varela, figura-chave na história de San Isidro, cuja dedicação à vida cívica ainda ecoa discretamente entre os caminhos tranquilos do parque.
Do outro lado da rua, quase como a guardar a entrada simbólica da cidade antiga, ergue-se o monumento ao capitão biscainho Domingo de Acassuso, fundador da paróquia de San Isidro em 1706. A escultura homenageia essa figura histórica com simplicidade e respeito, lembrando o espírito pioneiro de quem lançou as primeiras sementes da comunidade.
Terminámos a nossa visita a San Isidro com um merecido cafezinho no Blossom, o final perfeito para um passeio cheio de charme.
Seguimos depois para a Estação Fluvial de Tigre, também conhecida como Estación Fluvial Domingo Faustino Sarmiento, ponto de partida para os passeios de barco pelo Delta do Tigre, um dos destinos turísticos mais populares a cerca de 30 km de Buenos Aires.
Localizada junto à estação de comboios de Tigre, este terminal portuário moderno, mas com um toque tradicional, é o coração do turismo fluvial na região.
Com uma estrutura simples, mas funcional, a estação conta com bilheteiras, quiosques de informações, pequenas lojas de artesanato e zonas de lazer.
Na Estação Fluvial de Tigre, deparámo-nos com o monumento a Domingo Faustino Sarmiento, uma figura incontornável da história argentina.
Representado numa pose firme, o monumento homenageia o estadista, educador e escritor que foi presidente da Argentina e grande impulsionador do desenvolvimento da educação pública. A sua ligação a Tigre está também simbolizada neste espaço, já que Sarmiento teve uma casa na região do delta.
A partir dali, embarcam diariamente dezenas de lanchas e barcos turísticos que exploram o delta, proporcionando aos visitantes uma experiência única pelas águas calmas, rodeadas por vegetação luxuriante e casas pitorescas.
Aproveitámos também para fazer um dos famosos passeios de barco pelo Delta do Tigre, incluído no nosso pacote de viagem, e uma das experiências mais relaxantes e encantadoras nos arredores de Buenos Aires.
O Delta do Tigre é formado pelos braços do rio Paraná, que se ramificam em centenas de canais e ilhas antes de desaguarem no Rio da Prata. É um dos poucos deltas do mundo que desagua em água doce, e está em constante formação, com novas ilhas a surgir lentamente ao longo dos anos.
A paisagem é um verdadeiro labirinto natural, onde a vida acontece sobre e ao redor da água. Algumas das construções no delta, como casas e escolas, erguem-se em palafitas que são estruturas elevadas sobre estacas que as mantêm acima da água, adaptadas à realidade do Delta do Tigre, onde não existem estradas e tudo se faz por barco. Os habitantes locais, chamados “isleños”, vivem de forma simples e em harmonia com a natureza, dependendo dos canais como nós dependemos das estradas.
A poucos quilómetros da capital, este labirinto de rios, canais e ilhas verdes oferece paisagens únicas e uma forma de vida ribeirinha muito própria.
Após a partida do porto fluvial de Tigre, a bordo do nosso passeio de barco, pudemos contemplar o imponente Museu de Arte do Tigre, um dos edifícios mais emblemáticos da região. Com a sua elegante arquitetura de inspiração francesa, este palácio foi originalmente um clube social e desportivo para a elite portenha do início do século XX. Hoje transformado em museu, abriga uma vasta coleção de arte argentina e é um símbolo cultural desta zona, oferecendo uma bela imagem logo no início do percurso pelo delta.
A bordo de um confortável barco, deslizámos lentamente por entre casas de madeira sobre estacas, clubes náuticos e vegetação luxuriante, enquanto víamos a vida tranquila dos moradores que se deslocam de barco como se fossem carros.
Entretanto, subi ao convés do navio para apreciar ainda mais a grandiosidade das paisagens à nossa volta.
Nem a Helena resistiu: mesmo com o sol a queimar, não quis perder a vista do topo do barco.
Porque há momentos em que a beleza fala mais alto que o calor.
Observámos o Museu Casa Sarmiento, uma casa de madeira, construída em 1855, pertenceu a Domingo Faustino Sarmiento, uma figura central da história argentina e presidente do país entre 1868 e 1874. A casa encontra-se hoje preservada dentro de uma caixa de vidro para protegê-la da humidade e dos insetos típicos do delta.
Ao longo dos canais, descobrem-se pequenas praias fluviais, com margens de areia ou relva, ideais para um mergulho ou simplesmente para relaxar ao sol. Muitas só são acessíveis de barco e estão integradas em clubes ou espaços privados, rodeadas pela vegetação exuberante do delta, oferecendo um ambiente tranquilo e natural, perfeito para escapar do ritmo urbano.
Puerto de Frutos no Delta do Tigre.
Um mercado vibrante e colorido que já foi o centro de distribuição de frutas da região – hoje é um destino turístico cheio de vida.
As fragatas da Prefectura Naval Argentina marcam presença no Delta do Tigre, garantindo segurança e vigilância nos canais da região. São um símbolo de proteção para quem navega por estas águas.
Circuito de aventura no Delta do Tigre!
Estação Fluvial de Tigre, o coração do Delta!
Com a sua fachada histórica e o relógio marcante, é o ponto de partida para quem quer explorar os canais e as ilhas deste paraíso natural.
Agora, estávamos prestes a desembarcar, depois de uma viagem inesquecível pelo Delta do Tigre. Um cenário de postal que nos encheu a alma e que, sem dúvida, guardaremos na memória. Foi perfeito!
Na foto os dois guias da mundomar cruceros que nos acompanharam nesta bela excursão.
As últimas fotos já no exterior da Estação Fluvial de Tigre.
Partimos, depois, para o Aeroparque Regional Jorge Newbery, um aeroporto de tráfego regional da Grande Buenos Aires, localizado no bairro de Palermo, a apenas 6 km do centro da cidade.
Pelo caminho ainda deu para observar do autocarro algumas das preciosidades que ficaram por ver de Buenos Aires, como o Planetário
e o Jardim dos Japoneses
Embarcámos, ainda que com algum atraso, no voo que nos levou até Iguazú, na Argentina, onde nos esperava a próxima etapa desta viagem inesquecível.
Chegámos já de noite ao Falls Iguazú Hotel & Spa, um refúgio de luxo situado na exuberante Selva Iryapú, em Puerto Iguazú – Argentina, a poucos minutos das mundialmente famosas Cataratas do Iguaçu.
Depois das formalidades no check-in do hotel, foi só seguir até ao quarto, tomar um banho relaxante e, de seguida, rendermo-nos ao merecido descanso. Afinal, no dia seguinte, logo pela manhã, iríamos explorar as Cataratas do Iguaçu do lado brasileiro.
8 de março de 2025 – sábado
Acordámos cedo, embalados pelo chilrear dos passarinhos. Estávamos na selva, onde a vida desperta ao romper da madrugada e nos convida a viver o dia desde os primeiros raios de sol.
Depois de um excelente pequeno-almoço no hotel, seguimos de autocarro rumo à fronteira com o Brasil.
A expectativa era grande afinal, estávamos prestes a ver as majestosas Cataratas de Iguaçu do lado brasileiro, uma das mais belas maravilhas naturais do planeta.
Tivemos mesmo sorte em viajar de excursão em autocarro: quem atravessa a fronteira pode usufruir de uma via exclusiva para veículos de turismo, o que nos permitiu avançar sem stress, evitando as longas filas de carros ligeiros que, por vezes, se estendem por quilómetros. Foi um alívio enorme ver as filas intermináveis de carros parados, sabendo que estávamos a caminho de uma nova aventura sem ter de nos preocupar com a espera, já com os olhos postos na emoção de ver as Cataratas de Iguaçu do lado brasileiro.
As formalidades na passagem da fronteira foram rápidas e descomplicadas, nem foi necessário sair do autocarro.
A nossa experiente guia tratou de tudo em poucos minutos, facilitando o processo por estarmos inseridos num grupo de turistas vindos do continente europeu.
Chegámos entretanto à entrada do Parque Nacional do Iguaçu, uma das maiores áreas protegidas de floresta subtropical do Brasil. É também um exemplo notável de conservação ambiental, combinando turismo sustentável com a preservação da fauna e flora locais.
Tirámos uma foto de grupo à entrada do Parque Nacional do Iguaçu, um registo para mais tarde recordar esta aventura inesquecível, rodeados pela natureza e pelo som das cataratas ao fundo.
Partimos, depois, em direção às Cataratas do Iguaçu, considerado Património Natural da Humanidade pela UNESCO desde 1986.
Esta era a nossa guia, Yanina, acompanhada pelo marido – o motorista do autocarro de turismo. Um casal simpático que nos acompanhou em todas as deslocações durante a nossa estadia em Iguaçu.
Há regras rigorosas quanto ao limite de velocidade, uma vez que estamos na Mata Atlântica, uma área protegida que merece todo o cuidado e respeito dos visitantes. Para garantir o cumprimento destas normas, os autocarros de turismo estão equipados com dispositivos que registam a velocidade ao longo de todo o percurso, e as penalizações para quem infringe os limites são pesadíssimas.
O parque protege uma vasta área de Mata Atlântica, um dos biomas mais ricos em biodiversidade do planeta.
São mais de 185 mil hectares de florestas, rios, trilhos e quedas de água, formando um santuário ecológico onde vivem onças-pintadas, coaties (quatis), tucanos e inúmeras outras espécies.
O autocarro deixou-nos na paragem situada em frente ao icónico Hotel das Cataratas. Este hotel histórico, cor-de-rosa, é o único localizado dentro do Parque Nacional do Iguaçu e oferece aos visitantes um cenário privilegiado para começar o passeio.
A partir daqui, inicia-se uma caminhada de aproximadamente 1,5 km por uma passarela panorâmica, que se serpenteia ao longo da borda da falésia, sempre com as quedas de água em vista.
Logo no início, é impossível não nos impressionarmos com o som estrondoso das cataratas e com a força das águas que despencam em múltiplos saltos, mais de 275 quedas, formando um dos maiores espetáculos naturais do mundo.
Pelo caminho, há vários miradouros que permitem parar e admirar o espetáculo das quedas de água de diferentes ângulos.
Os quatis, simpáticos habitantes do parque, também marcam presença, curiosos com os visitantes – “atenção para não alimentar nem tocar nestes animais!” lia-se em avisos.
O ponto alto da visita é, sem dúvida, a passarela que se projeta sobre o rio Iguaçu, conduzindo os visitantes até bem perto da imponente Garganta do Diabo, a maior e mais impressionante das quedas. Com cerca de 70 metros de altura e o maior fluxo de água de todas as cataratas, este é o momento em que nos sentimos verdadeiramente pequenos diante da força da natureza. O trilho avança até à beira do abismo, onde a energia das águas se impõe de forma quase hipnótica. A névoa é intensa, sendo impossível sair seco, por isso, convém levar capa de chuva ou proteção para a câmara. Em contrapartida, somos brindados com um espetáculo visual único: nuvens de água elevam-se no ar e um arco-íris quase permanente completa esta experiência mágica e inesquecível.
A sensação de estar tão perto desta maravilha natural, cercado por vegetação exuberante, com o som estrondoso da água a preencher o ar, é verdadeiramente inesquecível. No final do percurso, há um miradouro panorâmico e um elevador que oferece uma última visão arrebatadora das cataratas, antes de regressar ao ponto de partida.
Nesse edifício do miradouro localizado no final do percurso junto às passarelas há, também, uma loja de lembranças onde é possível encontrar diversos artigos alusivos às Cataratas do Iguaçu. Desde camisolas, postais, chapéus, capas de chuva, ímanes ou artesanato local, é o local ideal para levar uma recordação desta maravilha natural.
Tudo isto envolto num ambiente acolhedor, com vistas de cortar a respiração sobre o rio e as quedas, que tornam até uma simples paragem para compras num momento especial da visita.
Já com os sentidos despertos por tanta beleza, terminámos a visita com um agradável almoço no restaurante do parque, onde tivemos a oportunidade de saborear a gastronomia local.
Ali perto, junto à estátua de Frederico Engel, repousámos por instantes, absorvendo tudo o que vivemos naquele dia singular. Uma paragem perfeita para fechar com chave de ouro esta visita ao lado brasileiro das Cataratas do Iguaçu.
Para quem não saiba, Frederico Engel foi um dos pioneiros na valorização e promoção turística das Cataratas do Iguaçu. De origem alemã e naturalizado brasileiro, foi um incansável defensor da preservação da natureza e desempenhou um papel fundamental na divulgação da beleza única das cataratas. O seu trabalho ajudou a despertar o interesse nacional e internacional por esta maravilha natural, contribuindo significativamente para que a região se tornasse um dos principais destinos turísticos do Brasil. A sua memória é homenageada com uma estátua no parque, como reconhecimento pelo seu legado.
Regressámos ao nosso hotel ainda a tempo de um merecido mergulho na piscina do complexo.
Um fim de tarde em beleza, com a luz dourada do entardecer a fechar mais um dia perfeito.
Jantámos no hotel, ainda com o coração cheio pelas maravilhas do dia, e recolhemos aos aposentos para um merecido descanso.
Foram dois dias intensos e memoráveis, entre os canais tranquilos do Delta do Tigre e a imponência estrondosa das Cataratas do Iguaçu, vistas do lado brasileiro. Da serenidade do passeio de barco às águas revoltas que nos deixaram sem fôlego, foi um verdadeiro mergulho na grandiosidade da natureza sul-americana. Estamos com a alma cheia e a certeza de que há experiências que nos marcam para sempre.
Musica: Habibi I love you (instrumental) de Ultra Beats
NÃO PERCAS a próxima e última reportagem: a impressionante visita às Cataratas de Iguaçu do lado argentino, com uma aventura radical de barco que nos levou ao coração das quedas! Seguimos depois para Buenos Aires, onde descobrimos o deslumbrante El Ateneo Grand Splendid, considerada pelo The Guardian a segunda livraria mais bonita do mundo. E assim chegaremos ao fim desta viagem inesquecível… com memórias para a vida toda!!!
NOTA: Para ver ou rever as anteriores reportagens, basta clicar nos links seguintes (escritos a azul):
5ª – BigSlam no Sul da América (5) – Ushuaia e Cabo Horn: Rumo ao Fim do Mundo
6ª – BigSlam no Sul da América (6) – Do silêncio das Ilhas Malvinas à vida de Puerto Madryn (Argentina)
7ª – BigSlam no Sul da América (7) – Montevideo encanta com a sua calma e Buenos Aires vibra com paixão
8ª – BigSlam no Sul da América (8) – Buenos Aires é tango, paixão e alma latina
4 Comentários
Victor Manuel Quaresma
Grato por esta magnifica partilha
Antonio Mendes
Deslumbrante!
Obrigado.
jose pedro cardoso
Boa Sammy
Continua, pois estou a reviver outra vez esses locais inesquecíveis.
Abração
Samuel Carvalho
Fazer esta viagem foi como mergulhar em dois mundos completamente diferentes, mas igualmente fascinantes. No Delta do Tigre, o tempo parece abrandar, com canais serenos, natureza em redor e uma paz difícil de encontrar noutros lugares. Já nas Cataratas do Iguaçu, do lado brasileiro, é impossível não se sentir pequeno diante de tanta força e beleza. O som das quedas, a névoa no ar e a energia do lugar são simplesmente arrebatadores. Uma experiência que fica na pele, no olhar… e sobretudo no coração.