O último Natal em Lourenço Marques!
E assim chegámos ao último Natal em Lourenço Marques!
“Sempre me vai oferecer aquele jogo no Natal, Tio?
Dezembro está “à porta”, mas o Natal ainda vem longe! Este pedido foi uma promessa que fiz ao meu sobrinho-neto Rodrigo. E desta vez até aparece por antecipação ao pedido dos meus netos.
Um amigo dizia-me, em tom de gracejo, que Dezembro era bem “saneado” do calendário. Porque como tem uma família grande, o dinheiro não tem “descanso!”.
Mas fico muito contente ao ouvir o pedido. Porque mais um ano passou, e a família mais chegada vai novamente reunir-se à volta da mesa de Natal.
Mas para não me esquecer das prendas “voltou ao tema!”
“Tio, no Natal em Maputo também trocavam prendas e havia frio?”.
Disse-lhe que quando lá estive não era Maputo. Até meados de 1975 foi Lourenço Marques.
E os Natais eram quentes e passados como estes. Com a família, a troca de prendas e as mesas fartas, onde não faltavam os doces e iguarias.
“Mas se eram passados como estes, porque vieram embora?”
Disse-lhe que nem sempre tinha sido assim!
Que Lourenço Marques até aos primeiros meses de 1974 era uma cidade ordeira, pacata, limpa, cosmopolita multi-racial e cultural.
Mas naquele ano de 1974 a situação política em Portugal tinha mudado! E alguns políticos e militares, sem consultarem os povos, concordaram entregar Moçambique, e as outras províncias ultramarinas, aos movimentos (também designados de partidos) que moveram a guerra contra a presença de Portugal em África.
E contei-lhe os antecedentes até àquele Natal:
Disse-lhe que a partir de Abril de1974 nos comícios, nas sessões de esclarecimento, nas ruas e avenidas, nunca tinha ouvido dos militantes e simpatizantes daquele partido palavras de agradecimento a todos que contribuímos para a construção do país que iam receber!
Ouvi sim, provocações e insultos contra os que não eram da sua “cor e política”.
Sempre com a mesma “lenga-lenga”:
“Os colonialistas e racistas têm de sair daqui para a sua terra.… As suas casas, prédios, fábricas e carros são nossos! …. Os reacionários que não se conseguem engajar no nosso partido têm de sair do país ou são presos!…”
– “Os colonialistas têm de sair daqui para a sua terra …”
“Tio se saiu, então foi colonialista?”
Eu? Nem sabia o que isso era. E nem me lembro de ver algum!
Mas o tom provocatório e agressivo com que aquelas palavras eram ditas, causava medo.
Como o “Império Português” começava a desmoronar-se, e as forças da ordem já não garantiam segurança a ninguém eu e a tua Tia, porque estávamos obcecados e pensávamos que aquela terra também era nossa e de todos que lá vivíamos, ficámos na expectativa!
Pura ilusão! Com o decorrer do tempo ao assistir a tudo que ali se estava e está a passar, recordei os piores momentos de outras descolonizações. E verifiquei que esse partido estava a copiar o pior de algumas dessas descolonizações.
Por isso já não penso assim. Aquela terra não era nossa. É deles!
Vê lá Rodrigo que, por ironia do destino, agora são alguns dos que me chamavam colonialista, ou os seus descendentes, que para fugirem à fome, pobreza, doenças e violência abandonam o seu país e procuram vida melhor no país dos “colonialistas!”.
Vêm de países ricos. Mas por sua culpa, a riqueza nunca lhes “bateu à porta”! É só para alguns políticos que eles apoiavam e elegeram.
Quando aqui chegam pedem tudo que não tinham nem exigiam, nos seus países de origem; subsídio mensal, acesso à saúde e habitação. Aquilo que nós quando chegámos não tivemos. E muitos portugueses que aqui vivem há séculos, também ainda não têm!
E os mais abastados trazem, ou mandam os seus familiares para estudar.
Contei-lhe que há pouco tempo aceitei matricular na minha escola um aluno vindo de Maputo. E quando lhe perguntei se gostava de Portugal? Disse-me que sim. E veio para cá porque aqui recebia os livros, almoçava na escola, tem assistência médica e não paga nada. Tudo à “borla”, como ele disse!
“Isso é verdade Tio! Porque têm chegado à minha turma alunos que falam mal o português!”. Disse-me.
– “As suas casas, prédios, fábricas e carros são nossos! …”
“Porque é que eram deles. Foram eles que as pagaram, Tio?”
Não Rodrigo. Mas ficaram com tudo! Sem quem as ocupou, ou quem lhas entregou, alguma vez tivessem feito contas com os legítimos proprietários.
E como não lhes custaram nada, alguns edifícios estão agora num estado deplorável. E tudo indica que, como foram “heranças dos colonialistas”, são para deixar cair!
Vê lá tu que agora, os mais radicais, também querem que lhes sejam devolvidas estatuetas e outras obras, que eles chamam de “espólio colonial”, que estão aqui num museu, e foram oferecidas por representantes africanos!
Também te digo: – Lourenço Marques, agora Maputo está uma cidade moderna. Tem prédios e muitas obras novas. Algumas muito caras, são de necessidade duvidosa para as populações. Que como vive na miséria, abaixo do limiar da pobreza não se vai servir delas.
E também é verdade que tem alguns empresários que “investiram bem (?)” ficaram muito ricos em pouco tempo! Mas sempre que podem investem fora do país.
– ” Os reacionários que não se conseguem engajar no nosso partido têm de sair do país ou são presos!”
“Se saiu, então foi reacionário?”
A questão colocada assim, ir preso ou sair, fui! Porque, como muitos moçambicanos e outros, não nos revíamos nas políticas totalitárias desse partido. Que depois se veio a confirmar, tinha nos seus quadros os maiores racistas, reacionários e oportunistas.
Um partido em que os seus apoiantes e simpatizantes para lançarem o medo e o pânico, colaboraram nos trágicos acontecimentos do 7de Setembro de 74, contando para isso com a passividade dos militares portugueses que, ao não garantirem a segurança, originaram a morte de centenas de pessoas(?).
Aliás, esses militares já só lá estavam para darem um “show” mediático, com projecção internacional, ao fazerem a entrega do país aos “dirigentes desse partido”. Que depois com o seu sectarismo, até os seus companheiros de “luta” mais conhecidos: a Joana Simeão, o Lázaro Kavandame o reverendo Uria Simango e outros! Só porque não comungavam com algumas ideias de outros militantes, foram enviados para campos, que eles chamavam de reeducação, onde acabaram por morrer.
Assistir a tudo isto eu, de maneira nenhuma, me ia engajar nesse, ou noutro partido. E possivelmente a melhor opção era mesmo a saída do país!
E todos que saíssemos dificilmente podíamos voltar a viver naquela cidade, que sempre tinha sido farta de tudo. Mas que naquele ano até os bens de primeira necessidade eram escassos. E infelizmente até o prato da consoada estava difícil de conseguir!
Depois de ponderar! Foi a saída.
Foi com tristeza que no final desse ano, resolvi marcar passagem para retornarmos a este País, e aqui começarmos vida nova. Numa situação muito difícil!
Agora reconheço que fomos empurrados por Deus, tivemos também ajuda do diabo na pessoa desses tais racistas radicais que nos empurraram para fora do país!
Por tudo que ouvíamos e nos contavam, sabíamos que Maputo era uma cidade insegura com raptos, assaltos e assassinatos. Com as forças da ordem a permitirem e colaborarem com tudo isto!
E também sabemos que só realizam eleições por imposição da União Europeia e de outros países democráticos, para poderem ter acesso a ajudas e fundos!
Mas como estas últimas, nunca os resultados tinham sido tão escandalosamente falseados. E por isso o país está a “ferro e fogo”!
Com as populações na rua a manifestarem-se contra o partido que está no poder há cinquenta anos.
Temos visto que os militares e a polícias a mando desse partido, estão a utilizar contra os manifestantes força musculada que ultrapassa os limites!
E continuando assim, sem acordo, tudo indica que o país vai passar o Natal “à pedrada, aos tiros uns aos outros e a fazerem da antiga av. Pinheiro Chagas uma pista de testes, para os carros blindados da polícia poderem atropelar e matar os manifestantes que não são da sua cor política”. Causando já mais de 65 mortos, dos quais 10 são crianças!
Se lá estivéssemos estávamos metidos nesta confusão.
“Nunca mais voltaram a Moçambique, Tio?”
Quando tinhas 3 ou 4 anos fomos a Cabo Verde passar férias. De volta perguntei à tua Tia se queria ir a Maputo.
Disse-me: – “África, nunca mais!”
E nunca mais voltámos a África! Pese embora a saudade, o nosso mundo agora é este País, e não o troco por nenhum!
É por isto que aquele Natal de 1974 para mim já nem sequer é um pesadelo! Foi uma dádiva da sorte abandonarmos Moçambique.
Mas vou dizer-te: – Para se ficar com o “bichinho de África” basta só lá beber água uma vez! E quando quero matar saudades ouço este vídeo. – Queres ouvir?
“Realmente a África aonde viveram até 1973 era calma e diferente!”
África era assim. Mas daquele tempo já tenho poucas memórias no meu baú! Porque agora sou da mesma terra que tu.
“Tio, quando aqui chegaram tiveram problemas?”
Como todos que vieram! Vê lá, que passado pouco tempo com difícil adaptação, a ouvir insultos e a vida não corria como queria, estava a pensar ir para a África do Sul. Por sorte a tua avó estava certa, e não quis sair daqui.
Mas esta “estória” é outra! Qualquer dia conto-te como o “Império Português” ruiu, e as memórias que guardo no meu baú da chegada à Metrópole!
Eu e família, com abraços e beijinhos do Rodrigo para todos(as), desejamos aos leitores do BigSlam um,
Tenho de ir a uma casa da especialidade comprar o jogo que lhe prometi.
Para nós, com o BigSlam, o mundo já é pequeno … Muito pequeno!
João Santos Costa – Dezembro de 2024
25 Comentários
Fátima Machado
Grande texto, meu querido João! Tempos vividos que guardamos no coração e que deixam eternas saudades…
O Rodrigo ficará com o verdadeiro conhecimento dos factos, só não conseguirá “sentir” o fascínio da terra “que tem Xiguembo”! Obrigada pela publicação! Por momentos, “voltámos a estar TODOS juntos”!
Beijinhos e um grande abraço! <3
Eduardo Fonseca Sá dos Santos
Sou Moçambicano de nascimento e de coração, porque nasci na Beira em 1950, mas só lá vivi os primeiros 4 anos de vida e mais 13, quando regressei em 1970. Foi pouco tempo, mas que me marcou para todo o sempre.
O que me encantou nessa Terra foi essencialmente as Gentes e o bom relacionamento entre uns e outros.
Sim, havia uma clara diferença de níveis de vida, mas as pessoas conviviam e respeitavam-se, até por força do serviço militar obrigatório para todos. É bom lembrar que as Companhias de Comandos formados em Moçambique, mais exactamente em Montepuez, eram maioritariamente constituídos por gente de pele escura. Pessoalmente, aos 20 anos fui abraçado por um Homem em lágrimas na casa da minha mãe na Beira, que me tinha tratado e acompanhado até aos 4 anos.
Nunca presenciei ou sofri qualquer agravo, mesmo após a independência, fosse de quem fosse.
Gente boa, gente amável, de confiança, que merecia estar e viver bem.
Obrigado por esta oportunidade.
José Alexandre Bártolo Wager Russell
O Natal amigo João. O Natal na ex- Lourenço Marques, marcou-me até hoje, o que é e o que era. Os presentes parecia que ” tinham cheiro”. Por vezes bastava uma bola de borracha da Facobol. Quanto ao resto, escreves tudo, e mais não é preciso dizer. Costuma-se dizer que, quem com ferros mata, com ferros morre. Infelizmente digo eu.
Um Feliz Natal e um bom Ano Novo, para ti e para a família BigSlam, e acima de tudo saúde para que tu continues a escrever neste blog, e que todos nós possamos continuar a lê-lo. Saúde.
Brito Gouveia
Parabéns amigo João por estas inesquecíveis recordações da nossa juventude em Lourenço Marques. Um grande abraço
Júlio Bravo
Poucos são os jornalistas de profissão , capazes de descrever com rigor e simplicidade os acontecimentos ,com o acerto na verdade e cronologia. Os meu parabéns e desejos de boas crónicas.
Boas Festas
Um abraço
Osvaldo Reis de Almeida
Nasci no Xai-Xai em 1939 e saí de Moçambique em Abril de 1980. Nunca mais voltei por opção e não por não ter posses. A minha mãe nasceu em LM em 1917 e o meu avô materno nasceu em Ressano Garcia em 1893. Quando vim para Portugal dizia que era licenciado em marxismo. Apanhei o período de ouro da Frelimo com jornais de parede que até punham nos cruzamentos da cidade. Uma coisa é o que nós desejamos outra é a realidade. A realidade é o que já é história destes quase 50 anos. Nunca volte onde foi feliz…
António Manuel Rodrigues
Um SANTO NATAL e um FELIZ ANO NOVO para todos os moçambicanos e para todos os “laurentinos” que continuam a ter a ex-LM no coração.
KANIMAMBO
Orlando Valente
JOAO SANTOS COSTA
DEPOIS DE PASSADO MEIO SECULO DA ENTREGA DE MOCAMBIQUE A UM BANDO DE TERRORISTAS, TODOS OS MOCAMBICANOS SABEM E PORQUE SOFRERAM NA PROPRIA CARNE OS EFEITOS DESSA “DESCOLONIZACAO”, PRESENTEMENTE, JA SAO POUCOS OS MOCAMBICANOS QUE AINDA VIVEM E JAMAIS ESQUECERAM O PASSADO DESASTROSO QUE PORTUGAL FOI O UNICO CULPADO DE TAL DESGRACA. TENHO 81 ANOS, NASCI NA ILHA DE MOCAMBIQUEN EM 1943. FUI MILITAR, COMO MUITOS OUTROS MOCAMBICANOS PORTUGUESES, PORQUE MOCAMBIQUE ERA UMA PROVINCIA PORTUGUESA.
TUDO O QUE REALMENTE O CONTERRANEO JOAO SANTOS COSTA ESCREVEU, EU SOU UMA TESTEMUNHA DOS FACTOS.
OS HOMENS PASSAM, MAS A PATRIA FICA… OS ALGOZES VENDILHOES DA NOSSA TERRA NATAL, JA CA NAO ESTAO… MAS TIVERAM MUITAS HONRARIAS DO PROPRIO GOVERNO PORTUGUES, PELO CRIME COMETIDO, QUE INFELIZMENTE NOS DIAS DE HOJE, O POVO MOCAMBICANO LUTA POR LIBERDADE… E PORTUGAL LIMITA-SE A UM “ENCOLHER DE OMBROS” PORQUE OS GOVBERNANTES COMUNISTAS DA ALTURA, “VENDERAM A ALMA AO DIABO”. OBRIGADO JOAO SANTOS COSTA, O TEXTO QUE NOS BRINDA, SERVIRA PARA OS MAIS JOVENS SABEREM O QUE OS PAIS OU AVOS, PASSARAM, QUE TUDO PERDERAM, MAS QUE AINDA TIVERAM CORAGEM DE RECOMECAR NOVA VIDA…
MUITO OBRIGADO E POR TUDO… BEM HAJA!
Orlando Valente
Victor Manuel Nascimento Quaresma
Antes do mais FELIZ NATAL, de seguida grato pela descrição que podemos dizer de boca cheia infelizmente, que traduz a vivência de todos nós que tivemos de abandonar a nossa terra. Abraço
Carlos
Com todo respeito e sem ofensa! Ainda bem q o 25 de Abril se deu. Já não vivo nem em Moç nem em Portugal 🇵🇹. Origem, descendência, raizes para min não passaum mais do q a penumbra do meu outrora. A terra q me viu nascer já não tem significado para min, mas sim a terra q me vê viver. Recordar não é viver! Para min viver é criar novas aventuras para serem registadas na memória 🫶desejos de um Feliz Natal 🎄
F.gaspar
Gostei!
Carlos Ferreira
… não consigo ter pena.
eduardo m. teixeira paulo
Desculpem o meu “pretogues”, mas lhe conto uma histo’ria tal-e-qual como a do Snr. Costa. Sou de segunda geracao Mocambicana – Mae, eu e mais um irmao e irma, saimos de Mocambique – nao a correr e vie’mos para a Africa do Sul em Marco de 1974 ( nao para Portugal ou Brasil, mas A.do S., aonde os meus pais ja’ vinhao com emprego em lugar ). Ca’ fica’mos e ca’ estou casado com uma sul-africana de descendencia Rodesiana (pai Ingles e mae Sul-Africana)
A vida vai passando, os pias foram para Portugal, aonde la’ faleceram.
Filhos foram ja’ para “Overseas” e eles de 30 anos e mais !
Fico por aqui – Africa, porque a minha pele sente-se Africana e o meu coracao Mocambicano !
António Miranda
Bom dia João como sempre dás-nos os teus lindos e verdadeiros textos a ler !
Gostei meu amigo e enquanto lia transportei-me ao meu também ultimo Natal que por lá passei mas não em LM e sim na Africá do Sul apenas eu a Margarida e a minha filha que na altura tinha seis meses.
Como tudo na vida temos boas e menos boas recordações mas é isso que nos mantém á tona.
Um grande abraço,continua e os desejos de um Bom Natal e um Feliz Ano novo para ti e toda atua familia !
Aquele Abraço
Nino ughetto
Sr Alfredo… teve ainda sorte de poder voltar a L.Marques minha terra màe… Enfim o que posso dizer mais ??? L.M. morreu tudo passou tudo acabou..;HOje depois de gritarem pela independencie ignorando completamente o sentido e o resultado final…e desastroso.. Quem quiz ou queria a independencia ? Independencia de qué ?? O Paiis nào teve escolha, FOI Dado e hoje ninguém compreende que um Pais tào rico e bonito esteja em fogo e sangue.Nào foram os “racistas” poprtugueses “moçambicanos que destruiram o Pais todo inteiro..foram os novos dirigentes politicos, ajudados por identidades estrangeiras que hoje “chupam e exploram toda riqueza do Pais, deichando a populaçào num desespero mortal sem saida possivél;;guerras,decapitaçào de populaçoes pelos terrorista islamista em Cabo Delgado e outros…Hà muito a dizer, mas à que servira ??? Tudo esta perdido.. Nos os emigrantes fugitivos os cocacolas. ,por força tiveram que sair, fugir , digam o que quizerem, Nos sofremos o desastre e aqui estamos cada um em Paises diversos. a chorar o que se passou e o que se passa,em Moç. Terra minha bem amada. ..Um abraço
Luis 'Manduca' Russell
Excelente texto! Agora a pergunta de 1 milhão de dólares, que não sei se o João conseguirá explicar ao Rodrigo (eu não consigo): por que razão quem foge daquele país não vai para os países e regimes que forneceram, desde os anos 40 do século XX, as armas, o dinheiro, a formação/doutrinação, etc. (e que depois fizeram os tais negócios com eles)?
Grande Portugal, obrigado, amada pátria-mãe!
Boas Festa e muita saúde para todo(a)s!
Cândido Ramiro Filomeno do Carmo Azevedo
Parabéns João. Bem verdadeiro o teu texto. Eu tive que sair de Moçambique a 2 de Dezembro de 74 quando o meu nome surgiu num cartaz como “persona non grata” por ter sido Oficial da 1ª Comª de Comandos de Moçb. e instrutor da 2ª e 3ª Companhias. VIm-me embora, felizmente fiquei logo colocado em Santarém como prof. Ed Fís. e Desporto. Um ano depois era director regional, só pelo trabalho então realizado com os meus alunos em prol do desporto e nunca mais dei aulas de Ef Fis. Tive a felicidade de receber no serviço que chefiava a Dir Ger dos Desportos colegas e amigos vindos de Moçamb, cerca de 10. Chamavam a Santarém a Delegação dos Desportos dos retornados. Certo é que fiquei nesse cargo 12 anos e passaram por mim 11 governos constitucionais e nenhum me “saneou” pelo contrário mandaram-me para Macau por 4 anos e fiquei 33. Foi bom esclareceres o teu sobrinho pois hoje em dia já nada sabem as crianças do que se passou e isso é feito com um propósito. . Espero que esses militares que entregaram Moçambique de mão beijada estejam bem arrependidos. Sei de alguns que estão e defendem-se que teve que ser à Mac Milan, o 1º ministro inglês que mandou puramente abandonar algumas das colónias inglesas em África. Entre os 10 livros que já editei, alguns premiados internacionalmente, 7 abordam o tema do nosso antigo Império , revisitando um passado de façanhas que é curial honrar e de defeitos também que é urgente reconhecer e confessar. Há que não olvidar a nossa História, nem hipotecar o patriotismo ao “wokismo” reinante. Perdoe-me João estes acrescentos, mas voltando à tua questão o meu último Natal em Moçambique foi num ambiente familiar de amor com irmãos e sogros e o nosso bébé de cerca de 4 meses. O Natal de 74 é num apartamento em Santarém com cunhados e sogros muitos sentados no chão pois ainda não tinha mobília e havia iniciado a atividade docente 15 dias antes. Abraço e que o Big slam continue a informar pois a memória dos homens é curta. Abraço.
Arnaldo Vieira
Feliz Natal para todos os Big Slamistas!! Grande grande abraço e kanimambo aos organizadores do BIG SLAM e desejos de que tenham muita força para continuar a unir e a apoiar a malta! Bem hajam!
Arnaldo Vieira
Alfredo da Silva Correia
Uma história bem realista do que vivemos, pelo que não é história é a verdade da malvadez de alguns dirigentes. Eu voltei a Moçambique depois de ter regressado à Metrópole no dia 13 de Setembro de 1974. Em 1996, com o objectivo de mostrar aos filhos a terra na qual tinham nascido fui passar lá 8 dias. Felizmente, corri o mundo mas esta viagem a Maputo e outras que fiz em anos seguintes vão comigo para a cova, pois vivi episódios que jamais poderei esquecer. Em 1996, a fome era bem negra, por todo o lado e a pedinchice era uma realidade bem dura e mesmo vergonhosa. Eramos 6 pessoas e acabei por alugar um jipe com motorista, que se chamava Dinis, para me transportar num raio de cerca de 300 Km.. a ver o que os meus familiares por lá tinham. No 1º dia depois de ir ao saudoso bazar, catedral e outros monumentos, tudo muito degradado perguntei ao Dinis se o restaurante da costa do sol ainda existia, quando me disse que sim, de imediato decidi ir lá almoçar. Depois de estarmos a apreciar o mar em frente ao restaurante, aproximámo-nos do mesmo e na sua varanda estava um sujeito, vestido de branco, empregado do restaurante, que quando nos viu , dirige-se à minha mulher e pergunta-lhe: ” Senhora há quantos anos a não vejo? Ao que a minha mulher respondeu há 22 anos Chico. Aquele homem que nem as lágrimas continha, não sabia o que nos havia de fazer, oferecendo-nos piri pire bem sacana como dizia e pedindo-nos por tudo para regressarmos. Aliás, tudo o que visitei que era da minha longa família quando dizia quem era abriam-me as portas e fomos sempre recebidos com muita satisfação e mesmo saudade.
Muitas histórias podia contar ao fazer estas deslocações, mas concluo apenas, que quando um povo é mal conduzido como aconteceu ao moçambicano, acaba sempre por pagar bem caro, com está a acontecer de uma forma bem dura ao moçambicano. É a vida, mas hoje quando leio a história ponho sempre em dúvida se o que leio é verdadeiro Aliás se Moçambique tivesse ido para a independência sem por em causa a capacidade produtiva que então tinha, nao tenho dúvidas, hoje era um país rico e assim é incompreensivelmente um dos países mais pobres do mundo. A verdade é bem dura.
JOSE MANUEL DA SILVA MOTA
Li com prazer, logo que recebi do BigSlam!
Mais uma vez tens o condão de nos remeter para tempos de histórias passadas, umas boas outras nem por isso, mas que nos fazem reviver a fase da vida onde fomos preparados para enfrentar o caminho que ainda percorremos.
Obrigado, João!
Um abraço.
josé carlos alves da silva
Amigo João, dito e descrito por si, em pormenor, nada mais a dizer. A sua história, igual á minha vivida, nessa altura. Obg por relembrar. Bom Natal, feliz 2025. Um abraço
Dulce Gouveia
João, mais um excelente artigo, cujo tema é transversal a todos nós, e sobre aquela terra que nos viu nascer, crescer e …..abandonar.
Mais não digo porque já disseste tudo.
Feliz Natal para todos os colaboradores e leitores do BigSlam.
Joel Rosa
João,ao ler este teu texto,voltou a saudade a bater forte no meu peito. Não as tenho pós 74 ,pois não quero recordar da miséria em que se tornou o nosso Moçambique a tão querida Lço Marques. Sei que não havia volta a dar,mas nunca esperei começar a ver o princípio da derrocada dum País e de uma maravilhosa cidade que eu tanto amei e que continuo a guardar dentro do meu coração. Desejo-te a ti e á tua família um Santo e Feliz Natal e um Novo Ano cheio de sonhos que ainda te faltam realizar que sejam realizados. Um grd abraço
Jorge Esteves
Caro João,
já nos tens presenteado com histórias maravilhosas e esta é mais uma, mas não a última como disseste.
Por muito que as memórias se apaguem há sempre algumas que vão ficando e outras avivadas com textos destes, de quem não perdeu memória nenhuma!
Para quê mais palavras, aqui está tudo!
Para Ti João e familia, para toda a equipa do Bigslam e para todos os participantes deste sit
UM FELIZ NATALe um PRÓSPERO ANO NOVO PARA TODOS.
LUIS BATALAU
CAROS AMIGOS
CONCORDO TOTALMENTE COM O BELO TEXTO DO DR. JOÃO SANTOS COSTA. NASCI EM MÇAMBIQUE (NAMPULA) E LICENCIEI-ME NA FACULDADE DE MEDICINA DE LOURENÇO MARQUES. JÁ NÃO TENHO IDADE PARA IR PARA OUTRO PAÍS, PORQUEN SENÃO JÁ NÃO ESTAVAMOS EM PORTUGAL. O SOCIALISMO PORTUGUÊS CONDUZIU A MINHA TERRA (UM PAÍS RICO) AO SÉTIMO PAÍS MAIS POBRE DO MUNDO. OS POLÍTICOS CORRUPTOS, LÁ COMO CÁ, TÊM DADON CABO DISTO. FESTAS FELIZES COM MUITA SAÚDE. ABRAÇO