Baú das Memórias: Surgimento da Secção de Futebol da AAM – Época de 1966/67

Surgimento da Secção de Futebol da AAM – Época de 1966/67
(contribuição de Gaspar D. Cerqueira e Mesquita Rodrigues, para a 1º época de 1966/67)

O início – Depois de nomeada a primeira Direcção da AAM, logo alguns carolas se juntaram e se motivaram para criar a que seria a Secção de Futebol da AAM. Penso mesmo que foi depois da Secção de Textos a que foi criada em terceiro lugar e a segunda do foro desportivo, depois da Secção de Badmington, no ano de 1966. O entusiasmo e a carolice foram de um pequeno grupo de ferrenhos academistas de Coimbra, encabeçados pelo Dr. Ângelo Pereira, pelo Ulisses e pelo Aníbal Sarmento, não sendo estranho a este entusiasmo o desejo do nosso reitor Prof. Veiga Simão. Foi o Presidente da Direcção da AAM, o João Shwalbach, quem primeiro me abordou para que, na minha qualidade de estudante, pudesse dar apoio àquele pequeno grupo de funcionários dos Estudos Gerais Universitários de Moçambique, pois tinha sido um dos elementos chave na criação do logotipo da AAM.

Estranhei o pedido e citei-lhe a minha inexperiência no assunto, mas logo me pôs à vontade, dizendo que esse pequeno grupo já tinha praticamente tratado de tudo. No seguimento propõe que eu seja o Director da Secção de Futebol da AAM, para o que fui também apoiado pelo Dr. Ângelo, ficando todos estes elementos como parte integrante da Direcção. A constituição da primeira Direcção da Secção de Futebol foi a seguinte: o Gaspar D. Cerqueira como Director (era importante ser um estudante), o Ulisses como Secretário, o Aníbal Sarmento como Seccionista responsável por todos os equipamentos, e o Dr. Ângelo Pereira a quem coube a responsabilidade de gerir o orçamento da Secção, como Tesoureiro, cujas verbas terão sido facultadas pela própria tesouraria da Universidade.

A preparação – O nosso primeiro treinador foi o sr. Mário Romeo, vice-cônsul de Itália em Lourenço Marques, que aceitou o nosso convite e, sem honorários, se propôs treinar a equipa de futebol para entrar nas competições oficiais da Associação de Futebol de Lourenço Marques.

Mário Romeo

Como ex-jogador no campeonato da liga profissional de Itália, era adepto da táctica conhecida como catenácio mas com uma modificação a que chamava de “libero fluidificado”. A sua única exigência compensatória era que a equipa tivesse um almoço em conjunto antes de cada jogo, com um menu escolhido por ele e, depois de cada jogo, um convívio entre os atletas para assim se reforçar o espírito de grupo. Lembro-me que para o treinador era essencial que no almoço estivesse incluído um prato de carne, mais propriamente um bife mal passado e todos tinham de beber e limitar-se no possível a um só copo de vinho tinto. O almoço incluía sobremesa mas não café e acabava sempre com um discurso motivador do estudante Director da Secção, cujo objectivo era galvanizar a equipa para arrasar o nosso adversário nessa ocasião. Creio que havia um treinador adjunto para os guarda-redes, mas já não me lembro de quem seria. A equipa de assistência médica incluía o Dr. (?) e o massagista Serranito que era um colaborador do Grupo Desportivo de Lourenço Marques (GDLM). Mais tarde, passou a dar apoio a todas as outras equipas da AAM. O primeiro campo de treinos foi o do GDLM, sendo as sessões de treino ao fim do dia, antes da hora de jantar ou mesmo depois de jantar.

O Estádio Paulino dos Santos Gil, do Grupo Desportivo Lourenço Marques, Novembro de 1967.

Por esse facto os treinos estavam limitados a poucos dias da semana pois as equipas do GDLM também treinavam antes de jantar. Por vezes, as sessões de treino incluíam corrida nos campos adjacentes às instalações do clube, no famoso eucaliptal da zona do Zambi ……(?), no lado interior da estrada que separava o eucaliptal da zona da orla marítima onde ficava o restaurante Zambi e onde se realizava anualmente a famosa Feira Comercial e Industrial de Moçambique, a conhecida FACIM. O Dr. Ângelo Pereira, o Ulisses e o Sarmento foram incansáveis a tratar de toda a parte administrativa da inscrição da equipa, nas inscrições dos jogadores e nas transferências de todos aqueles que já alguma vez tivessem jogado futebol oficialmente. Os estudantes da Direcção faziam propaganda oral e escrita da Secção de Futebol e tentavam angariar todos os estudantes que alguma vez tivessem jogado futebol de onze e mesmo alguns novos talentos para assim se poder ter, atempadamente, uma equipa constituída para o arranque do campeonato. Foi neste contexto que o Gaspar Cerqueira como alguns outros chegaram a treinar afincadamente pois podia-se correr o risco de ter de se inscrever alguns “talentos” de última hora para o primeiro jogo.

A equipa – A foto da primeira equipa a jogar oficialmente pela AAM (o Mesquita Rodrigues vai tentar encontrar) pode ajudar a reconstituir todo o grupo de onde saiu a primeira equipa que jogou oficialmente no campeonato da 3ª Divisão da Associação de Futebol de Lourenço Marques. Guarda-redes: Artur Dionísio (titular), Eduardo Rebelo (Dadinho) como (suplente), …; e também [Armando Alves, …] Defesas: João Catatau, Pelecas Sereno, Conde Veiga, Arnaldo Lopes Pereira, …; e também [Pedro Cerqueira, …] Médios: António Murinello, António Mesquita Rodrigues, Álvaro Silva, Múrias, Orlando (Veterinária), …; e [Gaspar Cerqueira, …] Avançados: Eduardo Goulão Ferreira (Dado), Louro (Veterinária), José António Duarte (ZéTó), Nota: Entre parêntesis rectos estão alguns nomes de «talentos» que ajudavam a criar a equipa que, nos treinos, defrontava a equipa principal.
Esta equipa teve alguns jogos de preparação antes do início do campeonato. O primeiro jogo efectuado foi com a equipa do Incomáti em Xinavane, tendo a equipa da AAM ganho por 3-1 (o Zé-Tó fazendo o hat-trick).

O segundo jogo foi quase como um treino com a equipa da Namaacha em que também ganhámos e o terceiro jogo foi mais a sério com a equipa de Ressano Garcia, em que também ganhámos por 5-1 ou 5-2. O que foi um facto foi que se conseguiu arranjar pelo menos onze inscrições válidas para o primeiro jogo oficial da AAM.

O campeonato de 1966/67 – O campeonato da 3ª Divisão da época de 1966/67 começou da pior maneira possível para a AAM. Em primeiro lugar, só pudemos contar com 11 jogadores inscritos para o primeiro jogo, não dando muitas opções de escolha ao treinador. Em segundo lugar o jogo foi precisamente com uma das equipas mais fortes da época transacta, o Munhuanense Azar. Em terceiro lugar, a equipa sofreu um golo madrugador e acabámos por perder por 2-1 (o nosso golo foi marcado pelo Orlando – 1º golo oficial).

Época 1967 – Seniores
1º jogo oficial da Académica na III Divisão de L. Marques
AAM 1 – Munhuanense Azar 2 – (Campo Paulino Santos Gil)
Em cima: Artur Dionísio, Victor Proença, João Catatau, Orlando Oliveira (Capitão), Arnaldo Lopes Pereira, Múrias, Madeira.
Em baixo: Eduardo Ferreira “Dadinho”, António Murinelo, Cardoso, José António Duarte “Zé Tó”, Sueco e Flávio Carmelo.

Todos os restantes jogos da 1ª volta foram vencidos pela AAM com excepção de um empate. A 2ª volta também decorreu bem até ao jogo com o nosso principal rival, o Vasco da Gama, que seguia nessa altura em primeiro lugar. A equipa da AAM estava confiante numa vitória, pois estava completa e já tinha toda a rodagem que se poderia desejar. Todavia, a pressão era muito grande, pois como era regra e costume da época, só passava para a 2º Divisão a equipa campeã. O nosso adversário recorreu a todas as ajudas possíveis e até se especulou que chegou a recorrer à feitiçaria. Esse jogo decisivo decorreu no campo do Ferroviário de Lourenço Marques e acabámos por perder por 2-0, tendo a nossa equipa ficado totalmente devastada. Contudo, todos os restantes jogos acabaram também por ser ganhos pela AAM o que nos levou a um brilhante 2º lugar no campeonato.

A subida para a 2ª Divisão – O que o campeonato da 3ª Divisão da Associação de Futebol de Lourenço Marques (AFLM) na época de 1966/67 evidenciou foi que a equipa da AAM, além de mostrar um jogo vivo e bem estruturado, tinha sido capaz de arrastar autênticas multidões de adeptos aos campos de futebol, sobretudo estudantes, o que tinha animado o campeonato da 3ª Divisão de uma maneira inusitada naquele ano. Estes mesmos argumentos ajudaram a criar um clima favorável nos adeptos e mesma na opinião pública para que a subida para a 2ª Divisão naquele ano fosse extensível aos dois primeiros clubes classificados no campeonato da 3ª Divisão. Embora desconhecendo os reais motivos da decisão final da AFLM, esta resolveu por acabar com o campeonato da 3ª Divisão, tendo sido assim que a AAM subiu para a 2ª Divisão e não mais parou até chegar à 1ª Divisão.

Época 1968 – Seniores
• Campeão Distrital L. Marques da II Divisão
Em cima: José Luís Rocha Lobo (Diretor da secção do futebol), Serranito (Massagista), Vila Lobos, Daniel Aleluia (Treinador), Múrias, Conde Veiga (Capitão), Arnaldo Lopes Pereira, Lima , C9? , Eduardo Rebelo.
Em baixo: Artur Dionísio, Eduardo Ferreira “Dadinho”, Mesquita Rodrigues, José António Duarte “Zé Tó”, Flávio Carmelo, Louro, Pelecas.

NOTA FINAL: Deixámos a Direcção da Secção de Futebol da AAM no início da nova época, tendo acabado por entrar, juntamente com o João Catatau, o Pelecas Sereno e mais tarde o Pimenta, para o curso de oficiais milicianos (COM) que se tinha iniciado em 4 de Agosto de 1967. Contudo, e até à nossa mobilização para o Norte, estes jogadores continuaram a treinar e a participar em todos os jogos do campeonato da 2ª Divisão na medida das suas possibilidades, mas já sob o comando do novo treinador, o Daniel Aleluia.

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