Relatos de uma viagem por terras de África (6) – “Caminhando por Maputo…”
28 de fevereiro de 2017 – Terça-feira (manhã)
Levantámo-nos cedo. Resolvi dar a conhecer Maputo à Helena caminhando pelas ruas da cidade…
Um poeta disse que a capital de Moçambique era:
“cidade garrida, poema de cor, que anda vestida de acácias em flor”.
Saímos de casa com destino à baixa, de máquina fotográfica em punho, pronta a captar os melhores momentos (embora me tivessem vindo alertar, enquanto andávamos, que não era aconselhável andar com ela à vista). Tínhamos pela frente uma boa caminhada a realizar…
Fomos em direcção ao Restaurante Cristal (encerrado uns dias depois, parece que de vez, após uma visita da Inspecção Nacional de Actividades Económicas…)
e depois, descemos a Avenida 24 de julho em direção à Avenida Vladimir Lenine (antiga Avenida Augusto Castilho). Pelo caminho, reconheci lugares, num resgate de lembranças do meu passado…
Vermelho: Man Kay na última versão Interfranca Spar e Banco Único.
Azul: Escola Indústrial.
Castanho: Igreja Anglicana.
Amarelo: Prédios altos na Avª Eduardo Mondlane (antiga Avª Pinheiro Chagas)
Foto de Momad Uzeif e montagem de housesofmaputo
A sempre bonita Igreja Anglicana, que hoje tem o nome de: Igreja Anglicana de SS. Estêvão e Lourenço da Maxaquene, sede da Diocese dos Libombos.
e, logo a seguir, o centro comercial Interfranca Spar e o Banco Único
e que, em tempos, no inicio da década de 70, foi o MK Centro.
Chegámos à Escola – Instituto Industrial 1.º de Maio, antiga Escola Industrial Mouzinho Albuquerque.
O acesso à secretaria…
O campo de jogos onde o Prof. Rui Baptista dava as suas aulas de Educação Física…
A cantina da escola, onde se comiam as arrufadas e scones por uma “quinhenta” e se bebia o choco-leite por 1$50.
Ao lado, funciona, agora, a papelaria
O campo de voleibol, com o ginásio ao fundo, onde no meu tempo funcionavam as oficinas de serralharia do Mestre Boléo e do Mestre “Batata”.
Algumas imagens da escola, para quem aqui andou poder recordar…
As oficinas de Electricidade onde o mestre Faustino “Faites” (“à camelo”…) dava aulas.
A entrada da escola pela Av. Ahmed Sekou Touré (antiga Avª Afonso de Albuquerque); era por aqui que entrava a maioria da malta estudante…
Nos passeios contíguos à escola, um cenário muito pouco agradável à vista..
Na esquina, ao lado, fica o antigo posto de combustível, hoje com nome Ex.
Descemos, depois, a Avenida Vladimir Lenine (antiga Av, Augusto Castilho/Elias Garcia), onde se podem ver as oficinas da escola em três blocos independentes,
e a paredes meias com uma oficina auto…
Na esquina da Av. Augusto Castilho com a Av. 24 de Julho, existia o célebre “Cortiço”. Hoje, funciona um restaurante chinês.
Continuando a descer em direção à baixa, encontramos, na esquina seguinte, o edifício da antiga Cervejaria Laurentina, na Av. Ho Chi Min (antiga Av. Andrade Corvo).
Na esquina oposta temos a Escola Primária 16 de Junho (antiga Comandante Correia da Silva) com a entrada principal para a Av. Vladimir Lenine.
Continuámos a nossa caminhada, tendo passado pelo Rádio Moçambique (RM),
e, em frente, fica o antigo edifício da Assistência Social. Hoje, Serviços Comerciais e Secretaria Geral da RM.
Nas traseiras, funciona o Centro Social da RM,
onde em 2005, participei numa mesa redonda “Conversas sobre basquetebol”, no programa da RM Desporto de João de Sousa. Algumas imagens para recordar… (vejam se reconhecem esta rapaziada?)
Foto de 2005 – Belmiro Simango, Victor Morgado “Molinhas” (já falecido), Nuno Narcy, Samuel Carvalho, Fernando Lima, António Azevedo e à frente do grupo – João de Sousa.
Esta esplanada tem vista para o Clube de Ténis de Maputo, no Jardim Botânico Tunduru (antigo Jardim Vasco da Gama).
Quantas e quantas vezes passei por este Clube de Ténis a caminho do meu Ferroviário… quando vinha com tempo, parava para apreciar as/os atletas em treino. Nesta modalidade, recordo-me entre outros, do Prata Dias, António Trindade (ainda em atividade em Portugal e com inúmeras conquistas).
Passámos, depois, pela imponente Catedral de Maputo.
Ao lado da Catedral, e no final da Rua da Rádio,
fica o edifício da Câmara Municipal de Maputo. Na rotunda em frente, pode ver-se a estátua do 1.º Presidente de Moçambique – Samora Machel.
Ainda na rotunda, do lado esquerdo de quem está virado para a baixa, fica situado o Centro Cultural Franco-Moçambicano (CCFM)
Veja o mapa seguinte para melhor se situar:
Depois descemos a Av. Samora Machel (outrora Av. Dom Luiz 1.º) e à nossa esquerda observámos um dos edifícios emblemáticos de Maputo – A Casa de Ferro. Um imóvel pré-fabricado inteiramente em ferro e desenhado por Gustave Eiffel, importado da Bélgica para Moçambique e edificado em 1892 para residência do Governador-Geral da província ultramarina de Moçambique.
Em 1974 era o Museu dos Serviços Geográficos e Cadastrais de Moçambique e agora está ligado ao Ministério da Cultura e Turismo.
Em frente o antigo Prédio TAP/Montepio de Moçambique, com fachada cerâmica colorida, vendo-se ao lado direito, na vertical, ainda restos da publicidade da TAP “A LINHA PORTUGUESA”.
Logo a seguir, o Cinema Gil Vicente,
e, ao lado, funciona o “Gil Vicente Café Bar”.
Um bar de música ao vivo e ambiente descontraído, onde passam os nomes mais importantes do panorama musical de Moçambique.
Já a caminho do Mercado Central, observamos num vão de um prédio, uma livraria improvisada…
Chegámos, entretanto, à baixa, na Av. 25 de Setembro (antiga Avª da República), Pudemos ver, mesmo em frente ao Mercado, uma das retrosarias mais emblemáticas da cidade de Maputo – A Casa Elefante. Lembram-se?
Existe em Maputo há muitos anos e dedica-se exclusivamente à venda de capulanas. A Casa Elefante…
A Casa Elefante está aberta de 2.ª a 6.ª feira das 08h30 às 12h30 e das 14h00 às 18h00, e durante a manhã aos sábados. Vale a pena visitar! Este é considerado o verdadeiro paraíso da Capulana (tecido muito usado pela típica mulher moçambicana).
Atravessámos a rua e fomos até ao Mercado Municipal ou Mercado Central (antigo Mercado Vasco da Gama).
Em qualquer viagem que faça, gosto de visitar os mercados locais, porque proporcionam o contacto com o que de mais original o país ou a cidade têm.
O Mercado Central está com um visual renovado, imagem que estimula vendedores e compradores.
Logo à entrada, vimos dois simpáticos turistas portugueses, o Rui Lopes (nascido em Inhambane) e a Isabel Martins que faziam as ultimas compras, pois o seu regresso a Portugal estava para breve. Trocámos algumas informações e sugestões e fizemos umas fotos para mais tarde recordar…
Depois de nos despedirmos do casal, fizemos uma volta de reconhecimento pelo mercado.
Zona dos moluscos e crustáceos,
avançámos depois para a zona reservada ao artesanato, a Helena ficou fascinada…
Depois comprámos fruta tropical (abacates, peras goiabas, maracujás, nonas, mangas) a um preço muito acessível, não esquecendo o saboroso piri-piri.
Despedimo-nos do mercado, com um abraço fraterno à simpática feirante que nos atendeu.
Depois, rumámos em direção à Estação de Caminhos de Ferro e, com o calor a apertar, havia que matar a sede. Uma água de coco veio mesmo a calhar…
Já retemperados, chegamos à Praça Mac Mahon, local que me é muito familiar pois era aí que apanhava os “machibombos” (o 16 com indicação de Malhangalene ou o 5 de Polana) para casa, após os treinos de basquete no Ferroviário.
Este local está muito movimentado, conforme mostram as fotos
Os feirantes de rua disputam os espaços exíguos dos passeios, para improvisar uma banca de vendas…
Entrámos na estação central dos Caminhos de Ferro de Moçambique (CFM), eleita entre as 10 mais bonitas do mundo pela Financial Express e escolhida pela prestigiada revista norte-americana “Time” em 2016, como a terceira mais bela do mundo.
Completou 100 anos no dia 19 março de 2010.
No seu interior tem o Museu dos CFM, inaugurado a 11 de junho de 2015.
É uma instituição de âmbito tecnológico, científico e cultural ao serviço da comunidade. Tem por missão retratar e difundir a história dos Portos e Caminhos de Ferro de Moçambique. A entrada no museu custa 50 MT (0,60€).
Atualmente, a Estação serve como terminal das linhas dos CFM que ligam a cidade à Suazilândia (Linha de Goba), à África do Sul (Linha de Ressano Garcia) e ao Zimbabué (Linha do Limpopo).
Na foto seguinte, podem ver as carruagens estacionadas e por cima os pilares da nova Ponte da Catembe… uma obra gigantesca!
Estava na hora de regressarmos a casa, recorremos a um “txopela” (em changana literalmente traduzido, quer dizer pendurar-se à boleia) uma viatura motorizada parecida com os “Tuk-tuk” em Portugal,
pois à hora de ponta é a melhor opção. É rápido, barato e amigo do ambiente!
Na viagem para casa, passamos pela Casa Lido (artigos desportivos) na Arcádia do Prédio Náuticus,
O Snack-Bar Djambu
O novo edifício da Mcel
Subimos o viaduto…
Finalmente em casa! Se não fosse o “txopela” a viagem tinha demorado o dobro do tempo…
Neste dia o nosso almoço teve como base a fruta tropical que comprámos no mercado.
Simplesmente deliciosa!!!
Da parte da tarde, fomos palmilhar Maputo… um dia em cheio! (Para ver na próxima reportagem)
Foram utilizadas algumas fotos nesta reportagem, cujos créditos são de: Elsa Pinheiro, Manuel Viegas, Carlos Rocha – Kundalini, site viaje comigo, blog housesofmaputo e outros a quem o BigSlam agradece!
Música: Guell – Musica de Moçambique
- Não perca o próximo episódio desta viagem por terras de África – “Palmilhando Maputo…”
(Visita ao meu bairro na antiga Rua J. Serrão, Escola primária, aos clubes: Ferroviário, Sporting, Desportivo, acabando no Clube Naval, na companhia de amigos ao sabor de uma laurentina…)
NOTA: Para ver ou rever as anteriores reportagens, basta clicar nos links seguintes (escritos a azul):
1ª – “Viagem até Joanesburgo e o primeiro dia nesta cidade!”
2ª – “Jantar convívio com antigos desportistas de Moçambique radicados em Joanesburgo!”
3ª – “Fim de semana em Marloth Park!“
4ª – “Partida de Marloth Park e Chegada a Maputo!“
5ª – “Primeiro dia na cidade de Maputo!”
11 Comentários
Maria Perez
Só não gostei de ver lixo na rua, pois foi sempre uma cidade limpa e maravilhosa, e os moluscos hum água na boca. Mas fico-me interrogando se alguma vez fui verdadeiramente feliz? Nem cá nem lá – Só momentos em 60 anos que já lá vão. Será para isto que estamos cá? Espero bem mais num futuro próximo……………….
Detetado ou parece? Não. Se está a ser escrito agora são sentimentos presentes OK?
Manuel Martins Terra
Samuel, bonitas imagens de tantos locais que ainda estão na nossa memórias como flashes inapagáveis, que marcaram a nossa juventude e que nos parecem falar. Adorei, rever as fotos da nossa EIMA, com tudo tão real e por momentos quase ainda me senti aluno. Aquela escola tem um pouco de todos nós, e que será para sempre recordada. Um abraço.
Basílio Pinto Gomes
MANINGUE TCHUNGUILA. KANIMAMBO
ADOREI.
Luischang31@gmail.com
Gostei adorei de ver a grande reportagem fotográfica da cidade de Maputo, um trabalho bem executado pelos elementos do BigSlam. Vieram lágrimas aos olhos ao ver a bela cidade. É de destacar alguns locais em degradação total, infelizmente. Mas o nosso Bazar com todos os legumes frescos, as Ameijoas, o Caranguejo daquele tamanho só na minha Terra. Saudade, saudade
Viva Moçambique.
LUIS Pedro Sá e Melo
Excelente passeio Samuel, de tal modo me impressionou tudo o que eu vivi nesta bela Cidade , meu BERÇO…. A lagrimazinha apareceu no canto do olho . Bem Hajas !!!
Um abraço
Luis Pedro Sá e Melo.
Pedro Lidington
Gostei de rever a nossa querida cidade . Bela reportagem amigo Samuel
Sónia Luiza Campos Cunha Costa Branco Sousa Mendes
Só tenho uma palavra KANIMAMBO!!!!
Mario Reis
Obrigado Samuel reportagem muito LINDA da nossa Cidade adorei ver a nossa Escola Industrial (a entrada, a porta da Serralharia) assim como a estacao dos CFM e o CUBLE FERROVIARIO (onde pratiquei Ginastica Aplicada com o Sr. Julio Roncon), um grande abraco e fico a espera da proxima reportagem.
Carlos Hidalgo Pinto
Relativamente á Escola Industrial, existiu no mesmono local um Palácio Maçónico, onde se exercia a filantropia. Posteriormente, foi encerrado pelo regime então em vigor. Os seus membros devem ter passado uns maus bocados e em termos de promoções na Administração Pública, de liberdade de expressão e de reunião.
Quanto ao campo do clube de ténis, os acima referidos tenistas foram uns crónicos campeões, muito embora um primo meu, Luis trigo Morais tenha vencido, já na década de 70, por várias vezes, o grande campeão A. Trindade.
A cidade vai-se transformando e a reabilitação urbana també devia ser alvo de alocação de recursos.
Nelson Silva
Boa Samuel! Gostei do que vi. Tive pena de não me ter lembrado de te pedir, antes de partires, uma foto da esquina da 31 de Janeiro com a Augusto de Castilho, onde morei e por onde passaste, vindo da J. Serrão em direcção ao Malhanga.
Paciência.: fica para a próxima. Fico também a aguardar a visita ao nosso bairro. Abraço.
Wanda Serra
Adorei!!!!
Maravilhosa reportagem Samuel.
Parabens…….
Beijinhos