UMA DATA NA HISTÓRIA – 8 de Setembro de 1913… Cine Teatro Gil Vicente – 107 anos de existência
Manuel Augusto Rodrigues chegou a Moçambique no final do Século XIX. Jovem de 27 anos, transmontano de Bragança, apostava numa vida melhor que em Portugal não conseguiria.
Na então Lourenço Marques começou por se empregar no comércio, mas não levou muito tempo até trabalhar por conta própria. O sonho empurrava-o para grandes projectos. Nos horizontes via o cinema e o teatro modernos como descreviam notícias vindas de longas distâncias. Em 1907 inaugurou o seu primeiro cinema. O “Salão Edison” surgiu exibindo filmes que noutros mundos tinham conquistado outros públicos, não tardando a ter o seu palco alargado para permitir espectáculos de teatro amador.
Sentindo que o espaço disponível não lhe permitia trazer a Moçambique as grandes companhias que despontavam em Portugal, o empresário foi amadurecendo a ideia de um teatro à dimensão do seu sonho.
E a 8 de Setembro de 1913 inaugurava o Gil Vicente.
Não era ainda no local onde hoje se encontra, mas o edifício tinha sido construído de raiz e suportava também um cinematógrafo. Manuel Rodrigues assumia assim a “paternidade” do Teatro e do Cinema moçambicanos.
O actual Gil Vicente abriria o seu enorme palco a 8 de Agosto de 1933, pouco mais de ano e meio após um incêndio ter devorado o primitivo cine-teatro. A vontade férrea e o espírito empreendedor de Manuel Rodrigues tinham vencido o desaire.
Condições acústicas fabulosas para a época, feérica iluminação, cómodos assentos na plateia, balcão e camarotes, soberbo palco de 13 metros de fundo, 23 de largura e 16 de altura, definiam uma moderna sala de espectáculos pensada para o futuro, com 1.359 lugares.
E se nos anos que se seguiram o teatro tinha no Gil Vicente o seu espaço privilegiado, o cinema acompanhava a actualidade mundial assinando acordos com as grandes produtoras americanas Metro-Goldwyn Mayer, Twentieth Century Fox, United Artists e a portuguesa Tobis.
O Cine Teatro Gil Vicente, tem 107 anos de existência.
- Fotos retiradas com a devida vénia do The Delagoa Bay
João de Sousa – 08.09.2020
7 Comentários
António Carvalho
Só conheci o Gil Vicente a partir de 1949 . Ia com frequência aos concertos do Circulo de Cultura Musical. Encontrava.me lá com o m/Prof de matemática, Rola Pereira..
nino ughetto
Quantos somos ainda a lembrare Lourenço Marques ? Estamos todos mais ou menos velhos… Recordaçoes que serào apenas historias do passado ou mesmo invençoes dos velhos, que pessam que antes era melhor
Nino Ughetto
Tudo passa tudo acaba… foi um grande desastre para os Moçambicanos a traiçào do governo portugués em vender “dar” Moç ,mas que fazer ? tudo foi destruido , sobretudo as nosas vidas
Manuel Martins Terra
Belos tempos em que em grupos de amigos, íamos ao Cinema Gil Vicente, onde pudemos visionar películas maravilhosas, que preenchiam as nossas fantasias. Recordo que antes de começar a sessão(15 horas) ainda havia tempo para dar um giro pelo Jardim Botânico Vasco da Gama. No final do filme, tempo para pararmos no Salão da Cooperativa dos Criadores de Gado, uns para de deliciarem com a qualidade dos seus gelados e outros aproveitavam lanchar um chocoleite com um bolo ou torradas. Que saudades, desses instantes que marcaram a nossa juventude.
Katali Fakir
Kanimambo João por mais uma vez revisitarmos o nosso mágico passado em “Delagoa Bay”, através das narrativas que vais depositando aqui.
Quando se fala do Gil Vicente na época em que cidade se chamava Lourenço Marques em homenagem ao colonialista homónimo do nome da bela cidade, vem-me sempre a memória 3 coisas fatais:
1. As belas pernas de Io Yopolloni, e as bichas infindáveis na bilheteira para ver o Vison a cair (Foi a 1.ª vez que vi Teatro Revista);
2. As comédias spagetti e francesas (Ciccio e Franco; Bourvill, Louis de Funis, bem como as belas Raquel Welsh, Sophia Loren, Cláudia Cardinalli, Candice Bergen, Romi Schneider, entre outras como a incontornável Jane Fonda protagonista do filme Barbarela, se bem que este correu no Manuel Rodrigues;
3. Os nossos truques próprios da irreverência juvenil para poder ver os filmes para maiores de 17 anos, com desconto através do cartão de estudante. Para garantir o benefício,ano após ano tínhamos de ter criatividade e imaginação para constar aquela idade, ao ponto do célebre e simpático porteiro (sr. Adriano) comentar na circunstância com os colegas, estes putos parece que têm sempre 17 anos – “bruxo”.
ruivbaptista09@gmail.com
Como sempre um belo comentário seu Katali qu valorizou o post. Um abraço.
José Luciano André Assunção
Recordar é viver. A todos nós que por lá andamos, é bom recordar muito embora nos causa grandes saudades.
Vamos vivendo de recordações, muito embora, tristemente.Agradeço, no entanto a quem nos proporciona
este avivamento de saudade. abraços para os amigos que por lá andaram-