Moçambique depois do 25 de Abril de 1974
- O Norte e o interior pararam no tempo!
- O Sul tem sido o grande beneficiado!
Vou contar uma “profecia(?) de fantasia imaginária” adaptada a Moçambique:
Deus quando fez o mundo e estava a distribuir as riquezas naturais pelos vários países, disse ao S. Pedro para pôr grande parte dessas riquezas em Moçambique.
Pedro, porque não achava justo, perguntou-lhe porquê? Deus respondeu-lhe:
– Vais ver que quando as explorarem os governantes não vão deixar nada para a maioria do povo.”
E esta ‘profecia’ cumpriu-se:
Os que lá vivem e os que estão na diáspora, não deixam de se interrogar?
– Como é possível depois de 48 anos de independência, Moçambique com todas aquelas riquezas estar hoje entre os dez países mais pobres do mundo?
Isto só foi possível porque os políticos e militares portugueses não ouviram os moçambicanos e residentes, que conheciam bem as opções políticas da Frelimo! E abandonando tudo e todos cometeram o “crime de lesa-Pátria” de entregarem naquelas condições, com um acordo “rascunhado” à pressa, os destinos de Moçambique só àquele partido! Sem quadros e com políticos mal preparados para o governarem.
Hoje, tal como em alguns países, muitos governantes, ex-governantes e políticos pouco sérios vivem bem, com grandes fortunas. Mas fogem, tal como o “Diabo foge da cruz”, dos serviços públicos que eles deixaram degradar! Os seus filhos estudam em escolas e colégios privados ou fora do país.
A classe média está reduzida a uma minoria muito pequena. E grande parte “vive do orçamento de estado” nas cidades. Vão vivendo de “esquemas”, como podem e Deus quer!
E a grande maioria do povo vive na pobreza e sem direito a quase nada.
Mas também já estão habituados! Porque para eles este governo é como uma mobília já velha e sem préstimo. Mas não são capazes de se desfazerem dela porque já estão habituados a ela.
Hoje Moçambique é um país rico. Mas o norte e interior estão votados ao abandono, tal como o conhecemos há 48 anos, carentes de infraestruturas.
Depois do acordo com a Renamo, que pôs fim à guerra civil, nem tudo são rosas! Como grande parte das riquezas estão no norte e os grandes beneficiados têm sido as gentes do sul! Os povos “Macuas e Macondes” revoltados aliaram-se ao estado Islâmico e estão a desenvolver uma guerra de guerrilha no norte, difícil de controlar pelas forças da ordem.
Possivelmente alguns moçambicanos ao lerem este artigo vão dizer-me que não é bem assim. Que no tempo colonial era pior!
O domínio português
Para recordação dos que lá viveram e vivem, aqui fica aqui um breve “retrato” do Moçambique que conhecemos:
Sempre foi um país multicultural!
Ali cabiam, além dos naturais, portugueses, indianos, chineses, timorenses,… E todos que viessem por bem!
Rodeado por países de cultura inglesa foi desde sempre influenciado por essa cultura. A sua economia assentava nas trocas com a metrópole: Ouro, algodão, sisal, açúcar, caju e madeiras.
Mas tinha como principal parceiro de negócios a África do Sul. À época o país mais desenvolvido de África. E o porto de Lourenço Marques era o principal ponto de entrada e saída das mercadorias da província sul africana do Transval.
Reconheço que nesse Moçambique nem todos viviam bem. Havia problemas sócio-económicos e de carências entre brancos, negros, mulatos, indianos e… outros! Mas o espírito de inter-ajuda entre todos era grande, e “reduzia” essas carências.
Lá não havia caviar! Mas quem precisava dele?
O peixe e o marisco eram abundantes, baratos, e de fácil captura. As frutas tropicais eram uma dádiva da natureza.
Os agricultores no distrito do Niassa sem estufas, nem adubos fertilizantes, já faziam duas colheitas por ano.
E muito mais havia para recordar!
Pelo que tenho lido e visto sei que não havia a fome e a miséria que hoje há, com as riquezas naturais a serem exploradas.
Se quando saímos deixamos ficar as terras e o mar, fico na dúvida! Será que trouxemos as sementes?
Quem souber que me responda!
Para nós com o BigSlam, o mundo já é pequeno ….. Muito pequeno!
João Santos Costa – Abril de 2023
22 Comentários
Augusto Martins
Grande e previsível verdade a que está retratada neste seu artigo, João Santos Costa.
Só o futuro dará às novas gerações, uma noção exacta da grandeza do crime que foi cometido nessa altura.
Infelizmente, o presente, é apenas o retrato daquilo que virá a acontecer muito proximamente, com o incremento da exploração desenfreada da, cada vez mais desgraçada, população anónima.
A nova e verdadeira EXPLORAÇÃO COLONIAL, apenas iniciou as suas actividades, em todos os campos: económico, social, agrícola, florestal, pescas, mineiro, estratégico, etc…..
Desgraçadamente a verdadeira escravatura já está instalada e tenderá a progredir desenfreadamente, com a degradação progressiva da maioria das populações nativas que, de um modo geral, não merece esse sofrimento.
Manuel Martins Terra
Caro amigo João, lá diz o povo com a sua sabedoria que por trás de nós virá, quem nos honrará. A verdade, é que Moçambique é efetivamente um país rico e com múltiplos recursos, mas com o seu povo em extrema pobreza. Depois dos famigerados Acordos de Lusaka, assinados apressadamente no dia 7 de Setembro de 1974, em que o Estado Português tal como Pilatos, lavou as mãos e entregou o poder aos nacionalistas da Frelimo, de imediato e obedecendo à cartilha da URSS, levou a cabo uma politica de perseguição aos ditos colonizadores; sim aqueles que amavam aquela terra, onde viram nascer os seus filhos , que construíram os seus lares, gastando as suas economias, que construíram escolas, hospitais e empresários que apostaram tudo em empreendimentos de sucesso, criando postos de trabalho, tentando que a sua terra estivesse tivesse sempre na linha da frente, foram num ápice varridos por uma politica de terra queimada. Depois do êxodo, de quem amarguradamente teve que partir para outros destinos, vieram para Moçambique os chamados “amigos”, mascarados de cooperantes e dispostos a fazer crer que estavam ali para ajudar os moçambicanos. Lembro-me bem que após a Independência, foi decretado o boicote aos Transportes Aéreos Portugueses(desculpem-me não dizer TAP), substituída de imediato pela companhia aérea russa Aeroflot, que cobrava o dobro da franquia nos voos para Lisboa. Abriram a pestana e a partir de Agosto de 1976, reativaram os serviços com a transportadora portuguesa. Depois vieram os chineses da RPC, com megaempreendimentos e a explorarem miseravelmente os trabalhadores moçambicanos. Sem quadro técnicos e um país à deriva, os governantes moçambicanos entraram pela porta da corrupção aliciados pelos tais “amigos” e passaram a ser também empresários, distribuindo “tachos” às suas famílias e vivendo uma vida luxuosa. Estes sim, já não lhes chamavam colonizadores, antes socialistas da velha escola adaptando uma politica egocêntrica. Por fim, o pobre povo moçambicano, pura e simplesmente menosprezado e entregue a si mesmo, fartos de misérias e tragédias, de quem os governantes de barriga cheia só se lembram, quando são chamados a votar e por triste destino, continuarem com uma mão vazia e outra cheia de nada. Afinal, onde está o Moçambique, do Homem Novo que estava para nascer? Caso para dizer, que tudo o vento levou. Um abraço, do amigo Manel.
SantosCosta.J@gmail.com
Olá Manel
O que dizes neste teu comentário são só as verdades, que a grande grande maioria dos que lá estivemos, e dos que ainda lá estão, também conhecem! Mas por uma questão de segurança, tal como no tempo da PIDE, (ver o caso do raper Azagaia) não falam.
Queres que te diga aonde está agora o homem novo que eles falavam? Está nas fortunas de governantes, políticos, candongueiros e de outras gentes sem escrúpulos e corruptos! Que não há dinheiro que lhes encha a barriga.
Um grande abraço, amigo Manel.
Raul
Caro João, também tenho a ideia que agora Moçambique de uma forma geral está pior que no nosso tempo.. Só duas considerações; a primeira é sobre a dimensão do país, que é 7ou 8 vezes maior que Portugal, o que por si só representa um grande desafio aos governos. A segunda consideração é que hoje em dia temos acesso a todo o tipo de informação sem censura o que torna praticamente impossível qualquer comparação com a informação que tínhamos quando lá vivemos. Durante toda a minha infância e juventude lá passada sempre acreditei que Moçambique era o paraíso. Só muito mais tarde percebi que no Norte havia outra realidade..
Obrigado pelo artigo
Um abraço.
Virgílio Horta
Amigo João, muito obrigado por mais este teu artigo, que não é mais do que a verdade, antes e agora. Embora incomode alguns, nós os que lá vivemos sabemos que é assim. Grande abraço
Joaquim.navarro@hJoaquim.navarro@hotmail.com
Bom artigo.
Deixa claro aquilo que era e o estado atual daquele país riquíssimo.
Angelina
Amigo João, ao ler este artigo sinto uma imensa tristeza, por nós k lá vivemos e e convivemos com o povo Moçambicano e por esse mesmo povo k estão a passar essa miséria causada por governantes irresponsaveis k só pensaram e pensam em destruir o k muitos constituíram e constroem com bastante sacrifício .
Infelizmente estamos a assistir a uma podridão de oportunistas k enchem os bolsos á custa de quem trabalha e luta pela sua sobrevivência. Beijinhos
Rogério Machado
A descolonização foi feita por pulhas, entregue a pulhas e até hoje se mantém com os pulhas. Pior do que cachorro, não largam o osso 🦴…
Mas, o que me assombra, são os burros e idiotas, que nos dias de HOJE, ainda dão justificativas, tipo… “Mas são independentes”… “Ah, mas não tinha como ser diferente!” e outros macambúzio mais…
Haja ignorância! E assim vai o mundo… Deus, que um enorme asteróide chegue logo, pra limpar esta 💩 e começar de novo. Torço por isso ..
Carlos Guilherme
A verdadeira história da nossa colonização ainda está por escrever. O “politicamente correcto” tem impedido que a verdade venha à tona. É por isso o dever de todos nós que vivemos nessa maravilhosa terra e convivemos ALGUNS SÉCULOS com essa gente maravilhosa, de escrever a verdadeira história de tempos felizes que nos fazem recordar sempre com saudade os tempos da nossa juventude.
Bem hajas João Santos Costa, por dares voz aos injustiçados por uma mole imensa de ignorantes.
Arnaldo Pereira
Esse não é SÓ o sentimento de quem nasceu em Moçambique… é também o sentimento de quem lá cresceu e se formou como adulto, casou, teve filhos e estava preparado para viver num dos melhores países do mundo, dada a riqueza natural quer do ponto de vista agrícola, piscícola, mineral e paisagístico.
Não ocorresse o FATÍDICO 25 DE ABRIL e, passados que fossem uns anos, ao regime de AUTODETERMINAÇÃO, que já estava em curso, seguir-se-ia a INDEPENDÊNCIA, com gente capaz e competente para gerir os destinos duma das nações africanas com melhores condições de se tornar um dos países mais desenvolvidos do continente africano!
Arnaldo Pereira
Caro amigo João Santos Costa,
Muito mais poderias ter aproveitado para desenvolver neste trabalho.
Com isto não quero deixar de te felicitar pelo texto… mas, com toda a franqueza, ficou a saber a pouco!!!
Já comentei um comentário e “repetirei a dose” – quer seja para contrariar, ou para afirmar o que for escrito.
Entendo ser a forma de cooperar com o teu esforço.
Aquele abraço
Quim
jose alexandre russell
Uma terra bendita governada por gente maldita. Só.
João Silva
A Europa, bem como os EUA, China, Rússia e C& nunca estiveram interessados no desenvolvilmento dos países africanos, a grande angústia deles era o mapa cor-de -rosa, não há volta a dar…
josecasilva20@sapo.pt
sinceramente, meus amigos, Moçambique foi mal entregue por pulhas socialistas-comunistas a gente que nunca trabalhou, nem nunca souberam governar, Samora Machel, Marcelino dos Santos, Bonifácio Gruveta, etc…….os meus Pais tinham 1 criado e 1 criada, o Álvarinho e a Maria, foram para nossa casa com 5 anitos cada um, para olharem por mim e minhas irmãs. Comiam na mesma mesa que a nossa, a mesma comida que a nossa, ( ás vezes ia uma farinha-morrada com peixe-pende), andavam bem vestidos, os sapatos não foram um problema, com rádio e bicicleta, casaram na nossa casa. Quem falou em 300,00 ou 150,00 escudos? Quem dera, com tudo pago, quanto valiam? Moçambique só tem gente preta rica, bem na vida, como em Angola. Olhem bem para as cores negras e dexem os brancos em paz. Em 49 anos tudo destruido, não trabalham
António Lureiro
Uma grande verdade…!!! Como foi possível um País que caminhava a passos largos para a prosperidade se tornar na total degradação, miséria e sobrevivência. Nasci e vivi 20 anos nesta riquissìma e grande terra, voltei volvidos 40 anos, visitei as lindissímas praias os grandes locais de lazer que frequentava e principalmente LM onde vivi os últimos 12 anos, uma tristeza enorme me acompanhou no meu regresso …!!! Tudo isto graças à imcompetência dos políticos de então, portugueses e moçambicanos, sem capacidade absolutamente nenhuma para gerir uma descolonização e consolidar uma indepêndencia de um País que iria nascer como independentes …!! O povo moçambicano hoje paga bem caro essa incompetência. Sinto revolta pois é a minha terra.
Vitor Teixeira
Tidos eles paises africanos. Um continente riquíssimo. Só os políticos de todo o mundo podem explicar porque tanta gente vive na miséria. Obviamente que não conseguem porque não lhes interessa. A vergonha do mundo deixar esta gente ao abandono.
Augusto Silva
Sem comentarios……O povo que lá vive, que se pronuncie……não só os citadinos….
Antonio
Comentários!!!!! Para quê? Com todos os defeitos dos agentes colonialistas, na época, era um paraíso desde Lorenço Marques até ao Rovuma. Lá, como cá, com algum exagero, também continuamos no “cu” da Europa, e sem perspectivas para o futuro.
Ricardo Quintino
Que tristeza…nasci e vivi em Moçambique até aos 35 anos de idade. Hoje com 80 anos, só me resta assistir de longe, à miséria e degradação de toda uma população que tinha tudo para poder beneficiar das riquezas do espalhadas no solo e mar dessa jóia do Índico.
Antonio Mendes
É bom reavivar a memória!
O meu ceticismo é grande relativamente ao progresso e consequente bem estar de todos os moçambicanos, por variadas razões que todos conhecemos.
Oxalá me engane.
raizes.origens@gmail.com
Jorge Pinto
É uma pena tínhamos tudo do melhor deixaram afundar um país maravilhoso
João Mendes de Almeida
Caros João e Manuel Terra…a saudade é enorme mas a tristeza ainda é maior. O que nós eramos e o que somos hoje. Que país é este que nos viu nascer? Que gente é esta que continua a votar neste bando de incompetentes, que tanto cá como lá, naquela que também já foi a nossa terra, só pensa em encher os bolsos, deles e dos amigos? Quando acordará este povo enganado? Um dia? Quem sabe…provavelmente já será tarde!
Abraço aos dois, kanimambo.