Relatos de uma viagem por terras de África (10) – “Visita a alguns locais emblemáticos de Maputo!”
2 de março de 2017 – Quinta-feira (manhã)
Apesar de a véspera ter sido um dia extenuante, levantámo-nos cedo, pois o ruído do tráfego em Maputo começa às primeiras horas do dia…
Tomámos o “mata-bicho” e seguimos caminhando com as “milengas” (pernas) pois é a melhor forma de observar e sentir o pulsar da população no seu quotidiano.
Como estávamos hospedados na Av. Sekou Touré, antiga Av. Afonso de Albuquerque, o primeiro ponto de paragem foi à frente da Pastelaria Cristal, na 24 de Julho, que tinha sido encerrada dois dias antes pela Inspecção Nacional de Atividades Económicas (INAE), por várias irregularidades, tendo sido a principal a falta de higiene. Passaram imagens na TV que chocaram a população… inconcebível ver o restaurante e pastelaria nestas condições. Quem diria, uma das referências históricas da cidade, numa zona nobre de Maputo, acabar assim!
Entretanto em 2019, nasceu um novo espaço na antiga Cristal, o Mokotó.
Saiba mais sobre o Mokotó clicando AQUI!
Depois foi só atravessar a 24 de Julho, e estávamos na Escola Comercial Dr. Azevedo e Silva, hoje com o nome de Instituto Comercial de Maputo.
Entrámos e registámos algumas imagens da escola que se encontra muito bem conservada e limpa
Uma foto do BigSlam com alguns dos simpáticos alunos da escola,
Apreciámos imenso o bonito fardamento escolar que trajavam.
Ainda dentro da escola, junto ao portão, havia uma pequena lanchonete.
Já do lado de fora, à entrada, estavam uns pré fabricados de comércio de material escolar e apoio logístico, para os alunos.
Abaixo, uma foto para melhor se situarem: podem ver a Av. 24 de Julho (cor de laranja), Rua dos Lusíadas, antiga Luís de Camões (cor verde) e Av. Tomás Nduda, antiga General Botha (cor roxo)
Contornámos a esquina da 24 de Julho com a Rua dos Lusíadas; nesta zona como em outros lugares, existem muitos postos de venda de cartões pré pagos para telemóveis
Caminhando pelo passeio, não resisti em tirar uma foto, devidamente autorizada, às magníficas rastas destas duas jovens estudantes. Beleza africana em todo o seu esplendor!!!
Ainda as instalações do Instituto Comercial, vistas pelo portão da entrada da Rua dos Lusíadas.
Edifício com as salas de aulas…
Refeitório e bar da escola.
Fomos, depois, visitar o Liceu Salazar – atual Escola Secundária Josina Machel, com a entrada principal virada para a Av. Patrice Lumumba, antiga Rua Brito Camacho.
Foi o primeiro grande liceu a ser construído na capital de Moçambique, entre 1945 e 1952. O projeto, de 1939, foi desenvolvido em Lisboa, pelo arquiteto José Costa e Silva.
Foi considerado, nos anos 50, “a mais vasta e imponente construção para o ensino liceal, não só das Províncias Ultramarinas portuguesas, como de todo o território nacional. E [era] de crer que [fosse] das maiores do Mundo” (Boletim Geral do Ultramar, nº 345, vol. XXIX, 1954, p. 16).
No meu trabalho de pesquisa para elaborar esta reportagem, encontrei uma descrição curiosa e interessantíssima, sobre a construção do antigo Liceu Salazar, algo inédito na educação nacional da época:
Leia-se a descrição entusiasmada de um periódico datado do seu momento inaugural: “Quando há oito anos vimos lançar os fundamentos do edifício que hoje se ergue majestoso quase sobre a baía, pensámos que alguma coisa de grande havia de surgir, digna de uma cidade que a merece. Ampla entrada, amplo pátio, no meio do qual a estátua do patrono do Liceu Salazar, solene no seu trajo de catedrático, dá ao ambiente uma majestade igual à que envolve toda a sua figura de homem da Nação. Em toda a volta pátios de recreio com campos de jogos feitos e apetrechados a preceito. Escadarias de mármore – “mármores nacionais expressamente vindos da Mãe-Pátria para enriquecer o mais belo, maior e melhor estabelecimento de ensino secundário do Império Português” (Liceu Salazar de Lourenço Marques. Lisboa: Agência Geral do Ultramar, 1954, p. 8.) – corredores, campainhas, telefones, relógios. Um dédalo que se há-de tornar familiar a professores e alunos. Respira-se um ar de limpeza; entra a luz a jorros; parece que estamos na rua. E as salas sucedem-se claras, arejadas […]. Extensa área coberta, vastos corpos do edifício, salões de festas, salões de jogos, ginásios, salões de estar, biblioteca, piscina com dimensões olímpicas, balneários ricos de mármores, aparelhagem de ar condicionado, de filtragem de água, de projeção de filmes, cenários para teatro, camarins, maquinaria própria para trabalhos manuais, tudo quanto de moderno se pode encontrar – garantia segura de que o Estado pensa na educação da sua juventude, no futuro dos filhos dos seus cidadãos.” (“Inauguração do Liceu Salazar”. Boletim Geral do Ultramar, nº 329, vol. XXVIII, 1952, p. 148-150).
Fonte: http://www.hpip.org
Vista da escola pela entrada lateral da Rua dos Lusíadas
A piscina coberta, de 33 metros, na época considerada olímpica, é uma obra do inicio da década de 50…
Campo de jogos ao ar livre.
Quem aqui andou não esquece facilmente os momentos aqui vividos…
A Helena posa com duas jovens moçambicanas, alunas da Escola Secundária Josina Machel
Os estudantes deste estabelecimento de ensino, também usam fardamento escolar, de acordo com o regulamento interno desta unidade escolar.
Este era um dos portões de entrada utilizado, antigamente, pelas meninas do Liceu Dona Ana da Costa Portugal
Entrada principal da Escola Secundária Josina Machel
Em frente à escola vimos o antigo Parque Silva Pereira que foi completamente reabilitado, agora com o nome de Jardim dos Professores. É um dos mais distintos da cidade de Maputo e conhecido também como jardim das acácias. Tem o condão de proporcionar aos seus visitantes uma vista agradável sobre a Baía de Maputo.
O anfiteatro
O parque infantil
A zona de jogos
Algumas jovens aproveitavam o intervalo escolar, para jogar o “NTCHUVA”
Recordei por momentos os tempos em que também joguei algumas vezes este jogo, só com a diferença de que era praticado no chão, nos passeios de areia…
Veja o vídeo seguinte e aprenda a jogar “NTCHUVA”.
Dirigimo-nos, depois, até ao Café Acácia, localizado neste Jardim dos Professores. É muito frequentado por empresários e pelas mães que acompanham as crianças ao parque infantil.
Este café/restaurante, encontra-se sob a gestão do Hotel Cardoso, situado mesmo ao lado,
e serve pratos de rápida confeção e lanches. Aproveitámos para tomar uma bebida e relaxar neste local maravilhoso…
Os preços não são muito acessíveis: um café expresso, que geralmente custa quarenta meticais, custa aqui cem (1€=70mt). No entanto, é compensado com o atendimento do serviço, e a vista desafogada sobre a Baía de Maputo…
Nesta foto, pode-se ver, ao longe, os pilares da futura ponte da Catembe.
As vistas espetaculares sobre a Baixa da cidade, do estuário, da Catembe e de todo o horizonte…
Mais algumas imagens da esplanada do Café Acácia.
Uma das curiosidades deste local é o “dicionário” colocado num dos murais do Café Acácia – Jardim dos Professores. 💡
Já que estávamos ali, aproveitámos para visitar o emblemático Hotel Cardoso
Um hotel com amplos jardins e uma excelente piscina.
Um terraço idílico para refeições…
Ótima localização e com uma vista deslumbrante…
Consta que é um dos lugares de eleição, para observar os mais bonitos pores do sol da cidade.
Uma vista global deste magnífico hotel e de toda a cidade envolvente
Cá fora, em frente ao hotel, os táxis aguardam pacientemente a chegada dos turistas…
Depois, fomos visitar o Museu de História Natural (Ex Museu Dr. Álvaro de Castro), construído já no século XX num estilo neo-manuelino.
Um pouco de história:
O Museu foi criado a 6 de Junho de 1913, (pela portaria nº 1095-A) e passou a denominar-se Museu Provincial, localizado nas dependências da Escola 5 de Outubro. Foi criado pelo Capitão Alberto Graça, na altura professor da mesma Escola. Três anos depois, o Museu foi agregado à Secretaria-geral e passou para a Vila Jóia, actual edifício do Tribunal Supremo no Jardim Tunduro (antigo Jardim Vasco da Gama), por decisão do Dr. Álvaro de Castro, na altura Governador-geral de Moçambique.
Em 1932, o Governador-geral de Moçambique Coronel José Cabral, transferiu o Museu da Vila Jóia para a presente localização. As actuais instalações do Museu de História Natural, foram inicialmente concebidas para uma Escola Primária que nunca funcionou como tal. Portanto, em 1932 o Museu Provincial passou a ser chamado de Museu Dr. Álvaro de Castro (pela portaria nº 1841).
Fonte: www.mmo.co.mz
Comemorou o seu 100.º aniversário em 2013
A visita começa numa sala onde está parte da história de Moçambique. Estão imagens e estátuas das várias etnias das tribos moçambicanas, assim como acessórios, máscaras, ferramentas, utensílios e instrumentos musicais, por exemplo.
Esculturas e estatuetas…
Cestaria moçambicana…
Utensílios caseiros utilizados pelas mulheres na sua cultura gastronómica.
Instrumentos musicais…
Entre as suas coleções destacam-se vários animais embalsamados, com uma grande variedade de mamíferos, aves, insetos e peixes.
O Museu de História Natural de Maputo tem uma coleção única no mundo, que é os 22 meses de gestação de um elefante da savana.
Reza a história que, durante a I Guerra Mundial, mais de dois mil elefantes foram abatidos, de forma a libertar terrenos para projetos de agricultura. Um dos caçadores teve a feliz inspiração de guardar 14 fetos em formalina, que fazem parte da coleção que se pode visitar hoje neste Museu.
A titulo de curiosidade, um elefante nasce com cerca de 100 Kg de peso. É obra!!! O tempo de gestação são vinte e dois meses ou um ano e dez meses. É esse o tempo que um elefante leva para nascer. Alimenta-se do leite materno até aos três anos.
Já no piso superior do Museu,
este está reservado aos répteis, insetos e peixes.
Neste mesmo piso, existe uma pequena loja que comercializa produtos genuinamente moçambicanos.
No exterior, no jardim do Museu, poderá ver várias estátuas de dinossauros com a respetiva descrição.
Também para quem aprecia arte, existem dois murais do conceituado artista moçambicano – Malangatana.
Estivemos atentos e vimos magníficos pássaros nas árvores circundantes e ouvimos o seu chilrear…
Veja o vídeo seguinte, um resumo do Museu de História Natural de Maputo:
Se visitar Maputo, não se esqueça de fazer uma visita ao Museu de História Natural, um local que lhe proporcionará mais alguns conhecimentos, sobre a fauna e cultura moçambicana…
Já no regresso a casa, apanhámos a hora de saída das aulas para o almoço. Enquanto se espera pelo machibombo ou chapa
existem várias alternativas para ajudar a passar o tempo:
Beber um sumo de laranja feito na hora….
Adquirir um livro nesta livraria ambulante,
Adquirir uma dose de amendoim ou caju (como se devem recordar, no nosso tempo a dose era “quinhenta” a latinha, agora vendem-se em pacotinhos de plástico, sem direito a “bacela”). 🙂
- Significado de “bacela”: Pequeno bónus que é oferecido aquando da compra de um produto.
Ou comprar uma guloseima, para enganar o estômago até ao almoço.
Ainda andámos à procura dos célebres pirolitos de açúcar do nosso tempo de infância…
Não encontrámos, o que é natural, o tempo já não volta atrás!
O tempo não volta. O que volta é a vontade de voltar no tempo. Então faça valer a pena!”
Foram utilizadas algumas fotos nesta reportagem, cujos créditos são de: blog housesofmaputo e do portal Viaje Comigo a quem o BigSlam agradece!
Música: Orchestra Marrabenta Star de Moçambique – A Va Sati Va Lomo
- Não perca o próximo episódio desta viagem por terras de África – “Encontros de amigos em Maputo!”
(Almoço na “Lanchonete do Atleta” e Jantar no “Southern Sun Maputo”. Visita à Feira do Artesanato e Igreja da Polana)
NOTA: Para ver ou rever as anteriores reportagens, basta clicar nos links seguintes (escritos a azul):
1ª – “Viagem até Joanesburgo e o primeiro dia nesta cidade!”
2ª – “Jantar convívio com antigos desportistas de Moçambique radicados em Joanesburgo!”
3ª – “Fim de semana em Marloth Park!“
4ª – “Partida de Marloth Park e Chegada a Maputo!“
5ª – “Primeiro dia na cidade de Maputo!”
8ª – “Um passeio pelos clubes da baixa de Maputo!”
9ª – “Convívios… e entrevista da televisão STV ao BigSlam!”
4 Comentários
Armindo Matias
Obrigado Samuel por mais esta viagem guiada à cidade de Lourenço Marques que para mim estou a ver pela primeira vez. Locais emblemáticos que é sempre bom revisitar. A Escola Comercial onde na minha estadia de 2 anos em LM ainda fiz o exame de Matemática para admissão ao Instituto Comercial; o Hotel Cardoso onde que frequentei nesses tempos e onde fiquei instalado em 2001 numa deslocação em serviço (uma referência que felizmente se tem mantido bem cuidado), e o Museu Álvaro de Castro onde, acabado de chegar a LM, fui levado a visitar por uma simpática “coca cola” que depois se tornou minha esposa. Impossível esquecer esses tempos e não gostar desta terra… KHANIMAMBU
Katali Fakir
Mais um trabalho de excelência, Kanimambo.
Braga Borges
Obrigado Samuel, por todas as reportagens.
Nelson Silva
Mais uma vez, obrigado Samuel pela excelente reportagem. Se o estado da “Cristal”, de certa forma, representa o estado de algumas situações que reportaste durante as tuas crónicas anteriores, tive muito gosto em ver as novas instalações da Escola Comercial, que vieram substituir as instalações do meu tempo, que vinham originalmente de um quartel de cavalaria, do início do século passado.
Registo com agrado o aprumo dos Alunos/as, com uniformes adequados à sua actividade.
Fiquei também encantado com a reabilitação do parque em frente ao Liceu – agora com o seu nome a homenagear os professores – um local onde passei quase diariamente, para descer as barreiras em direcção à piscina do Desportivo.
O Museu “Álvaro de Castro” continua a ser um monumento à ciência.
As vistas do Hotel Cardoso continuam maravilhosas. Suponho que a “boite” Comandante, com este ou outro nome, se funcionar, deve continuar a ser um marco na vida nocturna da cidade.